Não é não! — mas só até a página dois
“lésbicas não têm pênis”

Aviso de gatilho: este texto contém referências escritas e visuais, em teor de denúncia, à pedofilia, ao estupro corretivo e à violência física/psicológica contra lésbicas.

Estados Unidos, 2016. Patricia Wright e Charlotte Reed eram um casal de lésbicas que tinha três filhos: Benny, Rachel e Khari. David Warfield, que se apresentava como Dana Rivers, era um professor transativista que, mesmo sendo um homem heterossexual, queria que a sociedade o “reconhecesse” como “uma mulher trans lésbica” e promovia, deliberadamente e com apoio de importantes organizações “LGBT”, ódio às mulheres lésbicas e boicotes às suas tentativas de organização de eventos só para mulheres, sob justificativa de que elas excluíam homens que reproduzem feminilidade desses espaços.

Em uma madrugada de novembro, David assassinou o casal de lésbicas e seu filho Benny, de 19 anos. Patricia e Charlotte foram baleadas e esfaqueadas; Benny foi baleado. O assassino ainda tentou incendiar a casa da família, mas o fogo foi controlado. Ele foi detido ainda no local, tentando fugir e com resquícios de sangue. [1] A mídia se omitiu completamente sobre o caso; o movimento “LGBT” também. David Warfield está preso desde o triplo homicídio. Ao que tudo indica, na ala feminina, colocando em risco a vida de outras mulheres.

Da esquerda para a direita: Patricia Wright, Benny Diambu-Wright e Charlotte Reed
David Warfield

Mas por que a lesbianidade incomoda tanto?

“Não importa como uma mulher viva seu lesbianismo […]. Ela se rebelou contra sua prostituição ao amo escravista, que corresponde à mulher heterossexual que depende do homem. Essa rebelião é um negócio perigoso no patriarcado. Os homens de todos os níveis privilegiados, de todas as classes e cores possuem o poder de atuar legal, moral e/ou violentamente quando não podem colonizar as mulheres, quando não podem limitar nossas prerrogativas sexuais, produtivas, reprodutivas e nossas energias. A lesbiana — essa mulher que ‘tomou uma mulher como amante’ — logrou resistir ao imperialismo do amo nessa esfera de sua vida. A lesbiana descolonizou seu corpo. Ela rechaçou uma vida de servidão que é implícita nas relações heterossexistas/heterossexuais ocidentais e aceitou o potencial da mutualidade de uma relação lésbica […]” [2]

Cheryl Clarke, em Lesbianismo: um ato de resistência

Cheryl Clarke — poeta, escritora e teórica lésbica, professora da Universidade de New Jersey

Nós, lésbicas, somos por excelência a quebra da autoridade patriarcal e do que a teórica estadunidense Cheryl Clarke chama de “prostituição ao amo escravista” — a situação de dependência que as mulheres heterossexuais e bissexuais vivem ao destinarem sua energia afetivo-sexual à casta que nos violenta a todas. Se nós, mulheres, nos amamos entre nós tanto afetiva quanto sexualmente, se nos bastamos e rejeitamos a presença masculina em nossas relações afetivo-sexuais, nossa existência provoca a desestabilização de um poder que vem sendo mantido há seis mil anos, poder esse que cumpre uma agenda de controle e dominação de corpos de mulheres, especialmente através da via do afeto. Quero dizer: é também e especialmente por conta de uma socialização que adestra mulheres para desenvolver afeto, compaixão, condescendência e subserviência em relação a homens que eles conseguem manter seu projeto de colonização dos nossos corpos.

E vocês sabem. Homens não sabem não ocupar o centro, não fazer parte de algo, o que quer que seja. Eles não foram ensinados a ocupar a margem. Por exemplo, que mulher lésbica nunca sofreu a lesbofobia de ter um beijo interrompido por um homem que “sugeria participar” daquele momento? A questão é que, com o respaldo de grupos ditos progressistas, a versão atualizada da fetichização masculina de lésbicas hoje é: homens heterossexuais, usando a cartada misógina da “identidade de gênero”, não apenas querem ser reconhecidos como mulheres, mas como mulheres lésbicas.

Segundo as ideias transativistas, basta acordar um dia e dizer que se sente mulher para ser uma. Ou ainda, nos casos mais “consistentes”: basta uma vida baseada em gostar de brinquedos, roupas, acessórios e em ter comportamentos lidos como do sexo oposto. Os partidários dessas ideias nos acusam de essencialistas por reconhecermos que nossa opressão vem da nossa biologia, ao mesmo tempo em que saem por aí berrando que há pessoas que nasceram com “alma feminina presa em corpo de homem” (o que é alma feminina? Será que existe algo mais essencialista que isso?). Só que você nunca viu homens serem oprimidos em razão do seu sexo, tipo serem demitidos por estarem grávidos, ganharem menos por serem homens, serem traficados para a prostituição, serem vítimas do casamento infantil ou, via de regra, responsáveis pelo trabalho doméstico. Você também nunca viu seu chefe te perguntar diariamente se você está se sentindo homem ou mulher para, no final do mês, fechar o valor do seu salário “adequadamente”. Nem viu um homem, antes de estuprar ou agredir de outras formas, conferir se você se sente mulher mesmo.

É perfeitamente aceitável para os mesmos grupos ditos progressistas que se reconheça a cor da pele como um elemento fundamental no reconhecimento da existência do racismo contra um determinado corpo. Nesse caso, na visão deles, esse não se configura um discurso biologicista, mas inexplicavelmente o discurso que defende que a genitália determina a existência da misoginia contra um determinado corpo é. Esses grupos são os mesmos que ridicularizam (com toda a razão) a ideia de transracialidade; mas aparentemente algo estranho acontece quando entra a palavra “gênero” na conversa: transgeneridade não apenas não é um problema como é preciso comprar a ideia de que homens podem ser as mulheres mais vulneráveis do planeta.

Essa tentativa de apagamento da nossa materialidade não é ao acaso. É um projeto político. Mulheres já não podem falar sobre sua materialidade, sobre o que dá origem a sua opressão sexual, porque esses grupos alegam “transfobia” e invisibilização da casta mais visibilizada de todos os tempos: os homens. Deixamos de ser “mulheres” para sermos “pessoas com vagina” ou “pessoas que menstruam”, a fim de não ferirmos a existência de homens. Existe algo mais patriarcal do que isso?


O criador da ideia de “identidade de gênero” foi um pedófilo que se chamava John Money. Ele defendia que há um tipo de pedofilia que é afetiva, e não sexual, causada por um “excesso de amor parental”. Era psicólogo e professor de pediatria e psicologia médica, muito prestigiado como especialista em comportamento sexual. Só que, trinta anos depois de ocorrido, veio a público o fato de que seu caso de redesignação sexual mais famoso (o de David Reimer, nascido como Bruce Reimer) havia sido não apenas falho, mas uma completa crueldade.

Também conhecida como “o caso John/Joan”, essa situação se refere à história de Bruce Reimer, que, em 1966, devido a uma circuncisão malfeita, ficou sem pênis, ainda bebê. Money persuadiu os pais da criança a submetê-la a uma cirurgia de redesignação sexual aos 22 meses de idade. Bruce agora era Brenda. Money recomendou tratamento hormonal e procedimento cirúrgico para criação de uma “vulva” artificial, mas a família de Bruce só aceitou o primeiro. Ele sempre tratava em suas publicações a redesignação como bem-sucedida e usava este caso para apoiar a viabilidade da cirurgia de redesignação sexual em casos não intersexo. Por volta dos anos 2000, no entanto, Bruce e seu irmão gêmeo Brian contaram que Money os obrigava a praticar atos sexuais entre si, ao que o pedófilo respondeu alegando tais práticas serem importantes para “uma ‘identidade de gênero’ adulta saudável”. Brian, que desenvolveu esquizofrenia, foi encontrado morto por uma overdose de antidepressivos em 2002. Em 2004, depois de anos em depressão severa, Bruce cometeu suicídio. Seus pais, evidentemente, declaram que a metodologia de John Money foi responsável pela morte de ambos. [3]

É diante da coação a concordar com esse tipo de coisa que estamos. Só que o maior problema disso tudo, no entanto, é perceber quantas mulheres — e, dentre elas, quantas lésbicas — aceitam esse discurso de ódio sem qualquer questionamento, não raramente atacando violentamente o lado de cá, sob a alegação ilógica de que nós, mulheres, somos privilegiadas em relação a esse grupo de homens que resolveu se maquiar, usar vestido, salto alto e achar que por isso tem direito aos nossos espaços e nossos corpos. Daí vem uma completa distorção do que, de fato, significa violência, porque as políticas trans estão fazendo com que as mulheres acreditem que é a maior das violências, um ato perverso, cruel e imperdoável negar a essas pessoas a tal “identidade de gênero”. Mas, veja, eu absolutamente não sou obrigada a confirmar a autopercepção de alguém, não tenho que concordar com a ideia que você me impôs sobre você mesmo. Especialmente quando ela diretamente apaga, silencia e violenta a mim, minhas iguais e nossos direitos — conquistados com muito sangue derramado pelas que vieram antes de nós.


Respaldados pela “identidade de gênero”, esses homens heterossexuais podem hoje fetichizar lésbicas de maneira mais violenta e eficaz do que quando simplesmente abordavam casais com intimidações verbais num show; reivindicando-se mulheres lésbicas, eles promovem agora o aliciamento ao estupro corretivo dentro de espaços ditos progressistas e com a complacência de mulheres que declaram feministas. Porque estão autorizados a usar o seguinte discurso: “se somos mulheres, e lésbicas se relacionam com mulheres, vocês devem se relacionar com a gente também. Somos preteridas no meio lésbico, e isso não é justo, porque somos mulheres como vocês. Se você não se relaciona com uma de nós, isso é transfobia”.

Mais claro do que o fetiche presente no discurso dessa tirinha, impossível. E aí alguém poderia dizer que não é assim que as coisas acontecem, que provavelmente uma feminista radical fez essa ilustração para deslegitimar a vivência trans. Mas a fonte está dada; essa imagem é recorte da HQ “Minha professora é trans. E daí?” e vem de uma matéria do Catraca Livre que tenta legitimar esse homem heterossexual enquanto mulher lésbica. E mais: essa fala inteirinha foi proferida por ele. Ele diz que foi assim que “se descobriu mulher lésbica”:

“Formado em filosofia pela USP em 2004, adotou na faculdade um visual de ‘ogro barbudo e cabeludo’ que levou para a vida adulta. ‘Eu era assim para me esconder, dos outros e de mim’, avalia hoje. Tudo mudou em 2012, no dia em que foi a um restaurante japonês com um amigo e viu um casal de meninas numa mesa ao lado. ‘Fiquei transtornado. Percebi que não queria estar ali com elas, eu queria ser uma delas.’ A chave virou quando concluiu: ‘Sou lésbico’’’. [4]

É também o homem em questão que promove publicamente, como se pode ver nesse vídeo da XVI Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo, em 2018, o aliciamento ao estupro corretivo contra lésbicas. Ele diz, no microfone: “Tem mulher que tem uma xoxota com um formato bem diferente e que a gente vai chupar também, tá?”.

Mulheres e homens heterossexuais o tempo todo afirmam e confirmam sua sexualidade sem maiores problemas: “Se eu fosse hétero, ficava com ela”; “Se eu fosse gay, ele até que seria meu tipo”. Homens gays também — inclusive com requintes de misoginia, tipo: “nasci de cesárea pra passar longe de boceta”. Mas a nós lésbicas, e unicamente a nós, tem sido vetada essa confirmação, sob a declaração de que somos biologicistas, porque “as pessoas não se relacionam com genitais, mas com outras pessoas” (eu sempre achei que nos relacionássemos com os dois, porque eles são inseparáveis e eu nunca vi alguém andar com sua genitália a tiracolo, dizendo “oi, eu sou fulana, e essa aqui é Beatriz, a minha vulva”).

Sejamos honestas: quantos homens gays você conhece que já se relacionaram com as supostas “homens trans”, ou seja, com mulheres que se reivindicam homens? Me diga se alguma vez você já viu algum transativista cobrar dos gays, dos homens que se relacionam exclusivamente com homens, que eles repensem toda a sua sexualidade para incluir a vulva. Não viu. Você não viu porque cobrar sexo não é algo ensinado a mulheres. Mulheres não acham que ninguém lhes deve sexo nem são ensinadas a ocupar o centro de nada. Quem faz isso são homens, não importa quão maquiados estejam.

Cotton ceiling = teto de algodão

Esse vídeo mostra que teto de algodão se refere à calcinha de mulheres lésbicas. Cunhado pelo homem que se reivindica mulher lésbica e atende pelo nome de Drew DeVeaux, esse termo faz uma alusão completamente desrespeitosa ao glass ceiling (teto de vidro) das relações de trabalho contra as quais as feministas de segunda onda lutaram. Vamos às palavras do criador do termo:

“Eu sou uma rebelde. Eu não aceito as coisas simplesmente porque é ‘a forma como elas são.’ Eu vou continuar a busca por minha donzela. O teto de algodão deve ser quebrado! Nós não somos homens pervertidos que procuram estuprar lésbicas e transformá-las em escravas do patriarcado. Nós somos mulheres. Nós somos do sexo feminino. Somos pessoas.” [5]

É comum que transativistas digam que feministas radicais são desonestas porque pegam situações que acontecem na Europa e nos Estados Unidos e aplicam ao contexto brasileiro. Não vou entrar aqui em como esse tipo de discurso está apenas usando os assuntos raça e classe como apoio para ridicularizar o movimento feminista, mas trago aqui um exemplo recente de um dos muitos casos públicos brasileiros de aliciamento ao estupro corretivo de lésbicas, o da Revista Lésbi.

A Revista Lésbi, segundo definição própria, é “uma revista que se propõe a informar com qualidade e de forma acessível mulheres lésbicas e bissexuais.” Teve o projeto aprovado através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, de maneira que recebeu a quantia de R$ 46.000,00, em edital de 2018, para produzir edições com impressão de dois mil exemplares e entrega gratuita. No último dia 15, a Revista postou em seu Instagram uma chamada para um texto que havia publicado, no qual um homem, sob a prerrogativa de ser travesti, entre outras coisas, tenta renomear lésbicas para “genitalésbicas” e creditar o fato de que nos relacionamos exclusivamente com mulheres a um suposto excesso de autoestima nossa.

Ele também diz: “acho que nunca vi ninguém obrigando ‘mulheres cis’ a se relacionar com uma travesti e, por mim, isso poderia encerrar a discussão”, mas, um pouco adiante: “é importante que façamos um esforço consciente para entender como esses preconceitos se manifestam em nossas preferências românticas e sexuais, pois eles estão lá e, definitivamente, não são — ou não deveriam ser — imutáveis”.

É particularmente interessante como essas pessoas, que, por serem, em grande maioria, homens brancos de classe média, presumem que somos todas idiotas. Quer dizer, então, que não é coação a estupro corretivo se não há obrigação direta, tipo um homem dizendo “chupe meu pau agora ou eu te mato”?

A veiculação do discurso de que é preciso rever nossas preferências sexuais, aplicado única e exclusivamente a lésbicas, unido a um contexto em que 1) a lésbica que rejeite a ideia de relacionar com um homem maquiado é tachada de “transfóbica” e 2) mulheres tachadas de “transfóbicas” (aquelas que apenas reconhecem fatos) são arduamente perseguidas e “canceladas” é, sim, uma coação psicológica violenta. Além de que nem sempre estamos falando de adultas com consciência feminista, com opiniões formadas e consistentes. Há muitas jovens lésbicas, adolescentes, aprendendo que há algo errado com elas por gostarem apenas de mulheres, vendo a lesbianidade ser redefinida por homens e interiorizando essa violência.

Estamos num mundo em que uma mãe de duas crianças, no Dia Internacional da Mulher, posta em seu Instagram uma foto de sua tatuagem, que diz “mulheres têm vagina, não vestidos” e é linchada virtualmente com o incentivo público do Mídia Ninja, perdendo seus contratos de trabalho e recebendo milhares de ameaças de morte e estupro via mensagem privada. O mesmo mundo em que mulheres que questionam o transativismo na academia são violentamente censuradas e silenciadas, a ponto de terem suas palestras que divulgam os resultados de anos de trabalho canceladas, sem sequer direito a réplica. E onde uma estudante dominicana é perseguida no ambiente acadêmico por homens transativistas ingleses durante dois anos, a ponto de ter que processar a Universidade de Bristol. Que, não por acaso, é o mesmo mundo em que uma cineasta indiana é obrigada a deixar de expor seu filme em Nova Iorque porque uma dúzia de homens brancos estadunidenses considerou ofensivos tuítes em que ela reconhece o sexo como eixo de opressão. Nesse momento, ainda está acontecendo o “cancelamento” de J. K. Rowling, não é? A autora que só é conhecida dessa forma porque a vida inteira precisou esconder seu “nome de mulher” para conseguir ser aceita no mercado editorial. Bem, é nesse mundo que estamos. Não dá pra levar a sério o discurso raso de que “não há ninguém obrigando lésbicas a nada”.

Até o momento em que escrevo esse texto, houve mais de 600 comentários no post da Revista Lésbi, dos quais pelo menos 500 eram de mulheres indignadas com aquele aliciamento. A Revista não apenas apagou vários comentários daquelas que se insurgiram contra o absurdo, como também bloqueou várias delas (inclusive eu) e fechou os comentários da publicação mais de uma vez. Tática masculinista de silenciamento de mulheres, ainda que reproduzida também por outras.

A Lésbi, depois disso, além de não ter se retratado, postou sucessivos stories com conteúdo de apoio ao transativismo, numa atitude irresponsável e pirracenta — e por isso mesmo antiprofissional. No fim das contas, são mulheres recusando o diálogo com outras mulheres, promovendo a censura das vozes de outras mulheres. São mulheres acatando muito bem um dos papéis que lhes foi dado pelo sistema patriarcal — rivalizar com outras mulheres por causa de homens — e servindo, assim, de instrumento para manter o pleno funcionamento da “ordem” hegemônica.

Bem, nós sabemos de nós. Nós sabemos que, enquanto lésbicas, ainda que possamos defender em público que não nos relacionarmos com esses homens seja “transfobia”, porque dói ser excluída socialmente, é de mulheres que gostamos. Sabemos que muitas de nós vivemos a heterossexualidade compulsória de maneira mais coercitiva que outras, nos relacionando com homens por boa parte da vida, o que nos gerou uma série de traumas irreparáveis. Sabemos que somos sobreviventes de estupro, abusos sexuais e psicológicos; e que a rejeição ao falo e ao sexo que engravida, em um mundo fundamentalmente falocêntrico, é também nossa força e nossa resistência. Sabemos que nós e nossas iguais estamos adoecendo psicologicamente e sendo mortas — também, recorrentemente, cometendo suicídio — por conta da lesbofobia diária que atravessa nossos corpos, o que definitivamente não combina com “excesso de autoestima”. Sabemos que o estupro corretivo é uma realidade palpável, que a sociedade como um todo legitima e perpetua, realidade essa a que estamos submetidas apenas porque somos mulheres.

Esse texto é um pedido às mulheres que se declaram feministas, lésbicas ou não, para que tenham um pouco da coerência básica necessária. Não é pedir muito, nem acredito que nenhuma de nós seja 100% coerente o tempo todo — e tá tudo bem, afinal, a nossa luta é para que sejamos reconhecidas enquanto seres humanos, certo? É só um pouco. O básico. Porque não dá pra ser feminista e antifeminista ao mesmo tempo.


[1] https://www.womenarehuman.com/male-transgender-famed-trans-right-activist-accused-of-violent-murder-of-female-couple-their-son-dana-rivers/
https://www.gendertrending.com/2019/08/13/media-blackout-on-dana-rivers-michfest-murder-trial/
[2] https://we.riseup.net/sapafem/lesbianismo-um-ato-de-resist%C3%AAncia-cheryl-clarkeRevisão minha.
[3] https://www.documentarystorm.com/dr-money-and-the-boy-with-no-penis/
COLAPINTO, J. As nature made him: the boy who was raised as a girl.
Born a Boy, Raised as a Girl – Documentário
https://reason.com/2004/05/24/the-death-of-david-reimer/
[4] https://ponte.org/como-luizao-deu-aula-no-anglo-por-5-anos-ao-virar-luiza-foi-demitida/
[5] https://medium.com/qg-feminista/afinal-o-que-%C3%A9-cotton-ceiling-94163f35836e