Nem todo mundo deve estar familiarizado, mas entre as poucas opções femininas de comédia disponíveis na Netflix, existe um espaço especial — com direito a auditório, platéia e convidados badalados — para uma certa comediante de longa carreira: Chelsea Handler. Seu programa Chelsea já se encaminha para o fim da segunda temporada, que vai ao ar semanalmente e dura cerca de uma hora. Muita gente importante de Hollywood já passou por lá, e a Netflix usa de seu programa como forma de promover o restante de sua programação, é simplesmente um bom negócio pra todo mundo.
Chelsea é famosa por muitas coisas. Por seu programa de variedades Chelsea Lately no canal E!, por suas nudes no Instagram, e a mais recente delas é de ser uma ativista feminista que participa de palestras ao lado de Gloria Steinein sobre a importância do protagonismo feminino, que representa a nova geração e mulheres insatisfeitas com a política de Donald Trump, e que criticam veementemente Ivanka Trump e todas suas tentativas de lucrar em cima do movimento das mulheres. Mas Chelsea e Ivanka Trump têm mais em comum do que Chelsea gostaria.
Em seu passado, a apresentadora coleciona piadas e comentários racistas, muitas vezes professados via twitter. Um desafeto conhecido de Chelsea, é a atriz Angelina Jolie. A ascendência dos filhos adotivos de Jolie já foram mote para piadas de Chelsea, que fez comentários baseados em estereótipos associados com pessoas asiáticas para atacar uma criança que na época tinha 3 anos.
Não só isso, durante uma cerimônia do Oscar em que Jolie foi convidada para receber uma menção honrosa por seu trabalho humanitário e atriz Lupita N’Yongo venceu na categoria de melhor atriz, o comentário que a “feminista” Chelsea achou para se fazer na ocasião, postando pela conta do Huffington Post, foi uma piada sobre se Angelina Jolie não gostaria de adotar Lupita. E ela não perdeu o emprego por isso.
Em sua série de documentários também lançados pela Netflix, Chelsea Does, um dos tópicos abordados foi justamente o racismo. Apesar das tentativas da apresentadora de se portar como uma aliada à causa anti-racista, durante uma filmagem de uma mesa redonda com representantes de várias entidades de proteção dos direitos de imigrantes e pessoas de etnias não caucasianas, Chelsea se recusou a se desculpar por suas piadas racistas com pessoas asiáticas, justificando que faz “comédia com a cara de todos”. Quando confrontada com os próprios comentários, Chelsea respondeu: “eu não sou racista. Seria difícil explicar por homens negros com quem eu saio que eu sou racista”. Namorar homens negros aparentemente exclui a possibilidade de racismo, de acordo com Chelsea Handler.
Recentemente a apresentadora se envolveu em uma nova polêmica no twitter, em que sugeria que as leis sobre piadas racistas deveriam ser mais severas nos Estados Unidos, comentando um episódio de turistas chineses fazendo saudações nazistas em frente a monumentos na Alemanha. Os seguidores logo apontaram a hipocrisia da comediante, visto que suas declarações racistas são conhecidas de longa data do público. Nenhuma declaração posterior foi feita por parte da comediante. A fachada de aliada simplesmente não cola.
A pergunta que fica é: onde está o feminismo de Chelsea? Por que esse feminismo é tão bem visto pelos executivos dos canais à cabo, e pela Netflix, mas se recusa a fazer auto-crítica? Será que Chelsea não sabe que ocupa um lugar de privilégio e opressão em relação à grande maioria das mulheres que vivem no mesmo país que ela? Será que a luta anti-racista que ela finge encabeçar em seu programa de auditório se extende só até o seu círculo de amigos?
Ou é um feminismo que se encontra apenas em sua nova camiseta de marca?