Essa flor (Hejar)

A essa flor
arrancaram as pétalas, mas está viva.
Esse coração
sofrido, se manteve firme.
Essa estrela
caiu, mas deixou um rastro de luz no bosque
como quem sabe morrer com um sorriso
quando abre suas asas
o vento das terras altas.
Eu os levo comigo
são as imagens
de não se render.


A honra da resistência (Meral Cicek)

Somos a flor desta montanha, a que, acariciada pelos
ventos, não se curva.
Somos tão fortes que, mesmo que fiquemos sem água,
não nos esvaneceremos.
Não sei se nascemos assim ou as circunstâncias nos fizeram assim. À medida que temos sede,
nossas raízes
adentram mais profundamente a terra. Eles estão
tentando nos arrancar do solo, mas conhecem a força de
uma flor que brota na montanha.


Eles ainda não sabem (Nezend Begîxanî | Nazand Begikhani)

Nós comemos à mesa, com ervas frescas e vários legumes,
com leves fragrâncias,
falando sobre o contexto dramático das políticas do Curdistão e do Oriente Médio.

Duas crianças brincando entre nós
que pertencem à família extensa da mesa vizinha.
A mãe deles gesticula para eles de tempo em tempo.
Um menino e uma menina.
Ela domina a brincadeira de uma maneira doce,
ele se move agitado seguindo-a,
com adulação em seus olhos.
Rindo e tropeçando juntos,
eles ainda não sabem.

Eles ainda não sabem que no futuro ela provavelmente terá que
obedecê-lo, seu parente homem mais jovem,
ser virgem até o casamento,
vestir-se sempre com decoro,
cuidar das necessidades dos homens como sua primeira prioridade,
nunca sair da casa à noite sem companhia masculina.

Ele provavelmente terá um caminho livre.

Ela mora na cidade, algumas coisas melhoraram muito,
mas em muitos lugares ela ainda poderia ser punida em nome da honra.
Nós encontramos os parentes de várias vítimas mortas queimadas ,
conversamos com as mulheres que tiveram os narizes cortados,
embora não mais.

As coisas estão mudando por causa da dedicação e da firmeza de mulheres ativistas corajosas,
que enfrentam a condenação conservadora e religiosa,
que continuam gritando apesar de todos contra elas,
apesar da mídia hostil que as alvita,
apesar das ameaças,
nesse país traumatizado, jorrando notícias.

Elas estão fazendo mudanças,
construindo uma nova consciência,
ganhando a batalha.

Um menino e uma menina,
por enquanto,
Ela domina a brincadeira de uma maneira doce,
ele se move agitado seguindo-a, 
com adulação em seus olhos. 
Rindo e tropeçando juntos.


Aqueles momentos quando nossas dores caem de um céu (Kinêr Ḥesen)

Vamos nos revoltar contra aquelas palavras que destroem metade da sociedade
Vamos mudar nossos caminhos para sermos as responsáveis por nossa visão e pensamento
Olhos míopes não podem mais nos levar ao destino pretendido
Seus ouvidos não conseguem ouvir o poder da voz das mulheres (…)


Na terra natal do terrorismo, eu amo a rua mais do que o homem! (Kejaļ Eḥmed)

A rua não queria nada de mim
Enquanto me presenteava com toda sua beleza
Suas longas e acidentadas mãos
Não estavam manchadas com o sangue de nenhuma mulher
Portanto, quando eu chego à estação dos assassinos de mulheres
Eu tenho o sentimento
Que eu amo a rua mais do que o homem


Nota da tradução

Os poemas foram retirados de 3 fontes diferentes.
Os dois primeiros, da reportagem “Kurdistán: la flor de la resistencia de un mundo libre”, da revista Catarsis, e traduzidos do espanhol, disponível aqui. (A foto que ilustra o artigo também foi retirada de lá.)
O terceiro foi transcrito e traduzido a partir da leitura da própria autora em inglês, disponível neste vídeo aqui.
O quarto, incompleto, e o quinto foram trechos retirados da tese de doutorado “Women and Literature: A Feminist Reading of Kurdish Women’s Poetry”, de Saman Salah Hassan, que traz os poemas em curdo e em inglês (eu traduzi do inglês), e pode ser lida aqui.
Espero que gostem e vamos juntas com nossas irmãs curdas pelo direito à autodeterminação dos povos e pela construção de uma sociedade feminista. MULHERES, VIDA, LIBERDADE.