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4 poemas de Kajal Ahmad

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Pássaros

De acordo com a última classificação, Curdos
agora são uma espécie de pássaro
é por isso que, nas páginas rasgadas e amareladas
da história, eles são nômades avistados por suas caravanas.
Sim, Curdos são pássaros! E mesmo quando
não sobrou nenhum lugar, nenhum refúgio para sua dor,
eles se voltam para a ilusão de viajar
entre os climas quente e frio
de sua terra natal. Então, naturalmente,
não acho estranho que Curdos possam voar.
Eles vão de país em país
e ainda nunca realizam seus sonhos de se estabelecer,
de formar uma colônia. Eles não constroem ninhos
e nem mesmo em seu pouso final
eles visitam Mewlana¹ para perguntar sobre sua saúde,
ou curvam-se à poeira no vento suave, como Nali².

1. Referência a Jalaladim Maomé [Mewlana] Rumi, poeta curdo do século XIII.
2. Referência a um verso de um poema de Nali, poeta curdo do século XIX: Eu me sacrifico à sua poeira — seu vento suave!


Espelho

O impreciso espelho do meu tempo
quebrou porque
fez o que era pequeno grande
e o que era grande, pequeno.
Ditadores e monstros preencheram sua face.
Mesmo agora enquanto respiro
seus cacos perfuram as paredes do meu coração
e em vez de suor
eu transpiro vidro.


Ponto de Dúvida

[excerto] 
Muitas vezes eu me pergunto
Se é normal para meninas
Ter suas vidas gastas apenas em casamento e parto
Ser servas do dia e prazeres da noite?!


A Pedra é Melhor

Perplexos como folhas ao vento,
tristes como o espaço entre partículas de poeira,
luxuriosos como o olhar do fogo, incolor
como vestidos de água, os dias passam.

A pedra é melhor, sua vida morta é mais pesada
do que as palavras de filósofos que
por um tempo nos enganou, depois nos deixou desolados.
É sabedoria, como as fitas de cabelo
das crianças da escola primária, é simples e adorável.
Quando deseja ser sagrada, dá a luz
para descendentes como a “pedra do herói” de Sheikh,
a pedra da oração e a pedra negra do Profeta.
Quando anseia pela eternidade, torna-se
arquiteta e escultora. Quando
quer brincar com meninas o dia todo, torna-se
brinquedo e uma pedrinha de amarelinha; faz
as mulheres contarem seus segredos antes de pressioná-la
contra a pedra tumular dos homens santos.
Para alcançar a grandeza do homem, ela se senta no ombro de Sizeph
até que ele defenda toda a futilidade humana.
Na verdade, a pedra da paciência, a pedra do apedrejamento,
as pedras do enterro e dos degraus são irmãos.
A pedra dos desejos, a pedra de amolar,
as pedras dos dólmen e a pedra pome, são irmãs.
Nossa geografia rochosa é uma verdade desafiadora
nascida de uma montanha. Eu queria ter nascido
de um ser aquoso, cheio de vida.
Ou de uma substância arejada, sempre mutável
e temperamental. Ou descender de um fogo vivo,
como todos os templos que são para sempre zoroastrianos.
Nossa geografia é rochosa, por isso
nossos poemas transbordam de conversas sobre mares, capitães
e navios que nunca vimos.
Nossa geografia também é desafiadora, por isso
bolsões de nossa história estão endurecidos
com as migalhas da revolução e de suas vítimas.
Também é teimosa.

Nossa história é rochosa, por isso
nossos sonhos estão repletos de massacre.
Eu quero uma nova era e um novo povo,
um povo que é poeta e uma época que é poesia.
Eu quero uma estrada diferente, uma estrada
em que vou caminhar pela manhã pensando em
pássaros cantando e arrulhando, não em meu próprio assassinato.
Porque eu quero algo diferente,
sou como uma maçã à espera.
Estou exausta. Eu quero dizer adeus ao amor.
A pedra é melhor do que a humanidade.
É só por causa de todas as mentiras, guerras,
e opressão, que eu digo isso.
Somos mortos apenas em nome do amor,
enganados em nome da luta.
Nossa coragem é tão pequena,
perde-se em grandes bolsões de medo
e desistimos. Estou exausta.
Eu quero dizer adeus à vida.
Eu quero me separar da vida.
A pedra é melhor do que a humanidade.


Kajal Ahmad [Kejaļ Eḥmed] é uma poeta e jornalista curda, nascida no Iraque, em 1967