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A Coletiva QG Feminista

A QG Feminista é um projeto que existiu de agosto/2017 a setembro de 2023 com objetivo de reunir, produzir e divulgar conteúdo sobre um feminismo não modificado. Já ocupamos diferentes espaços e produzimos artigos originais, traduções, vídeos, podcast, zines e muito conteúdo para redes sociais. Você encontra tudo aqui no nosso portal e também em www.medium.com/qgfeminista.

Esse projeto só aconteceu graças a colaboração completamente voluntária e autônoma de inúmeras mulheres e queremos deixar aqui nossa mais profunda gratidão a todas elas, pelo carinho, pela confiança e pela fé num projeto voltado inteiramente para mulheres.

Sabemos da importância que a QG Feminista teve (e tem) para a divulgação de conteúdo verdadeiramente feminista, e tudo o que já produzimos ficará disponibilizado em todas as plataformas pelas quais estivemos.

Obrigada a todas as mulheres que por aqui passaram e um agradecimento especial a você, leitora, que está chegando agora ou nos acompanha há tanto tempo, pela confiança que sempre depositou em todas nós. As sementes foram lançadas.


Nós somos

Uma coletiva de mulheres brasileiras que cometem a transgressão indesculpável de se declararem feministas e radicais.

De diversas partes do Brasil e do mundo; de diferentes histórias, trajetórias, idades, raças, classes, formações profissionais e orientações sexuais.

Múltiplas, e nosso olhar traz essa carga, porque é complexa a realidade da mulher atravessada pelas tensões de sexo, raça e classe; e a  libertação de cada uma depende da libertação de todas.

As mulheres sobre as quais nós fomos avisadas e intimidadas para que não nos tornássemos.

Nós acreditamos

Que o feminismo é a luta pela libertação de todas as mulheres.

Que mulheres e meninas, os seres humanos do sexo feminino, compõem uma classe de pessoas que é explorada sexual, doméstica, reprodutiva, intelectual, emocional, laboral e mentalmente pela classe masculina.

Que a supremacia masculina está na base e na origem de todas as formas de opressão: de sexo, raça e classe.

Que a supremacia masculina está na raiz de toda exploração entre povos, ambiental, animal e da vida como um todo.

Que a socialização de fêmeas é um processo violento de destruição e de repressão da subjetividade e de potencialidades, que objetiva adequar meninas e mulheres aos papéis sociais a nós destinados por conta de nosso sexo, ao nos inserir em uma estrutura hierárquica de servidão e de submissão à classe masculina.

Que os papéis sociais de sexo são uma ferramenta do sistema patriarcal, composta pela masculinidade e pela feminilidade, sendo a última imposta a nós por meio do processo de socialização.

Que a feminilidade deve, então, ser abandonada, abolida e jamais celebrada, nem exaltada.

Que a realidade material de meninas, mães, lésbicas e mulheres racializadas deve estar no centro de qualquer análise que se propõe feminista.

Que o processo de colonização e de exploração da América Latina é manchado, acima de tudo, pelas violências física e sexual cometidas contra mulheres indígenas e, mais tarde, contra mulheres negras, porque o patriarcado é parte da própria essência do colonialismo.

Que a heterossexualidade foi construída como um regime sociopolítico de controle de fêmeas, às quais é imposta, desde a tenra infância, a obrigação de construir suas vidas e suas relações — especialmente as afetivo-sexuais — em torno de homens.

Que o lesbianismo se coloca, portanto, não só como uma orientação, mas como um ato revolucionário de desobediência civil-político-sexual, por meio do qual mulheres negam a homens acesso a seus corpos e, consequentemente, a suas capacidades sexuais e reprodutivas.

Que o compartilhamento de experiências, de dores, de cura e de luta gera identificação de mulheres com outras mulheres, quebrando o ciclo de rivalidade e de misoginia internalizadas no qual somos colocadas no processo de nossa socialização.

Que a irmandade e a organização política de mulheres é a ferramenta mais eficaz de mudança e de revolução, por isso mesmo tendo sido temida, reprimida e punida por homens — quando não por eles apagada — ao longo da história.

Que nenhuma instituição e interesse masculinistas devem nos pautar ou nos servir de referência, tendo em vista que foram forjados e são mantidos a fim de legitimar e perpetuar o poder dos homens.

Que a utopia de um mundo feminista é possível; mas, para isso, deve ser calcada na educação feminista para o despertar crítico de meninas e de mulheres e numa educação emancipatória para nossas crianças, vítimas primeiras da supremacia masculina branca, para o abandono da feminilidade (e da masculinidade) como linguagens e formas de agir no mundo, estimulando a criatividade como o caminho da luta coletiva.

Que o objetivo último do feminismo, por meio da abolição de todas as instituições patriarcais, é a criação de novos paradigmas civilizatórios, firmados em ideais emancipatórios, revolucionários, contra-hegemônicos, de autonomia e autogestão, incompatíveis com as estruturas, símbolos e instituições de poder criados por homens e carregados, portanto, de ideologias masculinistas.

Nós fazemos

A produção, a disponibilização e a popularização de material e ideais feministas, para auxiliar tanto em processos coletivos de formação e de organização quanto em processos individuais e subjetivos de emancipação e de conscientização política.

A crítica da violência masculinista exercida através das instituições patriarcais e dos discursos pretensamente progressistas, mas visivelmente misóginos propagados pela falácia liberal.

A divulgação e o fortalecimento dos pressupostos teóricos, das autoras e das obras feministas radicais no Brasil.

A formação e a capacitação de militantes, professoras e pesquisadoras.


Esta Manifesta não pretende esgotar nossas possibilidades e potencialidades de atuação na luta feminista. Como Coletiva, estamos em constante processo de conhecimento, formação e  transformação, e isso, naturalmente, reverbera nas nossas ações.

Assim, consideramos que, hoje, o que trazemos é o primeiro passo para o que muitas chamam de utopia: um novo mundo livre para mulheres e crianças.