fbpx
Início Sexo Holly Madison revela o inferno que é a vida na mansão da...

Holly Madison revela o inferno que é a vida na mansão da Playboy

0
1151
Holly Madison revela o inferno que é a vida na mansão da Playboy

“Eu me considero uma feminista nascida de novo”, ela afirma ao BuzzFeed News.

Holly Madison decidiu escrever um livro quando ela estava se notabilizando em sua carreira — estrelando o seriado de longa duração Peepshow em Las Vegas no Planeta Hollywood, além de seu próprio reality show no canal E! “Holly’s World” — e, ainda assim, fãs não paravam de lhe perguntar sobre Hugh Hefner e sua época como sua namorada na Mansão da Playboy.

“Mulheres chegavam pra mim e perguntavam, ‘Você não sente falta da mansão?’, ou, ‘Sinto muito por Hef não ter se casado com você’”, Madison relembrou durante uma entrevista recente com o BuzzFeed News em sua casa em uma rua de Los Angeles. “Eu pensava, tipo, você não consegue ver que eu estou muito melhor sozinha?”

É seguro dizer que depois das revelações de Madison em seu livro recém lançado “Down the Rabbit Hole — curious adventures and cautionary tales of a former Playboy bunny” (algo como “Abaixo da Toca do coelho — aventuras curiosas e contos cautelosos de uma ex-coelhinha da Playboy”, ainda não traduzido para o português), ela acabou com qualquer possível pergunta a respeito no futuro. Sem muita cerimônia — Madison e sua colaboradora, Leslie Brue, sabem a que o leitor veio — Down the Rabbit Hole conta a história da época de Madison com Hefner de 2001 a 2008 e suas consequências. O resultado se parece com uma biografia de celebridade com toques de A Redoma de Vidro (n/t The Bell Jar, de Sylvia Plath) e A prisão da fé (n/t Going clear, livro sobre cientologia). A depressão de Madison na mansão da Playboy alcançou profundidades devastadoras, e, ainda assim, ela se sentia presa ali: por receios acerca de suas possibilidades profissionais limitadas, por sua indisposição de admitir pra qualquer pessoa o quão triste ela realmente estava, e pelo controle emocional de Hefner sobre ela.

O livro também explicitamente derruba a tendência pavorosa na cultura popular de mulheres se retratando na televisão de reality shows como burras e inferiores — um fenômeno de que Madison própria participou durante seu tempo no reality show “The girls next door”, do E!, que narrou parte de sua época com Hefner (e colegas de mansão/outras namoradas de Hefner, Kendra Wilkinson e Bridget Marquardt). Na nota da autora, Madison escreve “Por volta da virada do milênio, virou moda mulheres parecerem estúpidas — se virando com base apenas em sua aparência, e se preocupando só com fama e futilidades. Alguns dos efeitos desse momento no espírito da época ainda reverberam até hoje”.

Down the rabbit hole, que já apareceu na lista do New York Times dos livros de não-ficção mais vendidos em segundo lugar, não é uma tarefa leve. Sentada em seu pátio sombreado, olhando para seu jardim em um dia quente de verão, Madison, agora com 35 anos (n/t o texto é de 2015), disse “Senti que eu tinha algo a dizer sobre estar no meio de toda aquela coisa que estava acontecendo em que Paris Hilton e Jessica Simpson e Kendra eram tão celebradas — e eu era parte disso também — por serem burras na televisão. Parte da razão de eu ter desejado escrever o livro era pra mostrar o outro lado disso.”

Abaixo, Madison conversa com o BuzzFeed News sobre o que você não sabe a respeito de Hefner, de seus anos difíceis na mansão da Playboy, e de feminismo.

Desde que ela era criança, a Playboy fascinava Madison.

O primeiro volume da Playboy, em 1953 // Madison, aos 15 anos

Madison cresceu no Alaska e em Oregon. Ela conhecia a Playboy, tendo até participado de uma chamada da revista à procura de Colegas do milênio (Playmate of the Millennium) em seu segundo ano da faculdade. (O que acabou sendo uma jogada de publicidade.)

“O que chamou minha atenção eram as mulheres que posaram e que tinham carreiras glamourosas, independente de serem Marilyn Monroe ou Jenny McCarthy — a qual era muito popular quando eu estava no ensino médio — ou Pamela Anderson”, Madison disse. “Eu olhava pra revista de vez em quando, e as sessões de fotos pareciam clássicas e glamourosas.”

Não levou muito tempo até que Madison se enredasse na vida da Playboy, apesar dos julgamentos de pessoas próximas a ela.

Madison aos 21 anos e nova na Califórnia.

Em 2000, quando Madison tinha 20 anos e estava na faculdade, ela transferiu-se para uma escola em Los Angeles com o objetivo de começar a carreira de atriz. Ela se sustentava trabalhando no Hooters em Santa Mônica, um trabalho que ela amava; o que também a levou a ser convidada para uma festa na Mansão da Playboy. Um cliente do Hooters era amigo de Hefner, e perguntou se ela gostaria de ir a uma festa — “sequer tomando algum tempo para olhar em meus olhos”, Madison escreve. Ela pensou que isso aconteceria uma única vez, mas acabou indo à mansão semanalmente para as festas na piscina de Domingo da mansão.

Que foi onde ela encontrou o harém de sete mulheres que Hefner, à época com 74 anos, mantinha. Depois de um ano indo regularmente à mansão, e com as duas colegas de quarto se mudando, Madison estava desesperada para ficar em Los Angeles, e decidiu que ela tentaria ser uma das namoradas de Hefner. (Uma vaga havia aberto.) Afinal, ela havia sido assegurada de que nenhuma delas de fato fazia sexo com Hefner, e parecia um lugar bacana — e grátis — de morar.

A decisão imediatamente a isolou de amizades de fora da mansão. Madison conta que as pessoas diziam, “‘Eca, nojento, você ficou com um cara velho?’. Eu pensava que era adulta que pensava que estava tomando, livre, uma decisão. E eu estava. Mas eu não era sofisticada nem estava realmente preparada. E isso subiu à minha cabeça… Eu entendia por que as pessoas pensavam que era estranho. Mas acho que eu não me sentia confortável o suficiente para explicar por que eu pensei que seria divertido ou por que eu pensei que seria uma boa ideia.”

E, na verdade, não foi uma boa ideia se mudar.

Madison aprendeu em sua primeira noitada fora com Hefner e as namoradas que sexo era um requisito para morar ali. Quartas e Sextas eram “noites de balada”, e Hefner e suas moças saíam por Hollywood, tendo tratamento VIP em diversos clubes. (A fama de Hefner como a novidade de um septuagenário sexy estava em seu auge.) Hefner ofereceu a Madison um Mandrax (quaaludes ou methaqualone, uma droga sedativa, hipnótica e depressora do sistema nervoso central, muito usada como comprimidos para dormir nos anos 70), dizendo pra ela, conforme ela escreve no livro, que “Nos anos 70 costumavam chamar essas pílulas de ‘abridores de pernas’”. Ela o rejeitou, mas ficou bêbada, e quando voltaram à mansão, foi dita que era hora de ir aoquarto de Hefner.

Tina Jordan, à época sua namorada número 1 — lugar que a própria Madison viria depois a ocupar — a levou ao quarto, que era, como ela escreve, “como um episódio de Acumuladores”. Com pornô hardcore passando em duas telas de televisão, Hefner se masturbava enquanto as mulheres encenavam cenas lésbicas. Ninguém gostava disso. Uma das namoradas, cujo nome Madison mudou para Vicky no livro, empurrou-a para Hefner demandando que ele “ficasse com a garota nova”. Madison escreve, “Foi tão rápido que eu nem consigo me lembrar de como foi além da sensação de ter um corpo pesado em cima do meu.”

E algumas daquelas mulheres tomaram os mandrax de Hefner. “Essas pílulas não eram mais tão disponíveis assim — eu nem sei como exatamente ele as adquiria”, Madison diz. “Sei que a maioria das garotas da minha idade não os tomavam, e não sabiam como eles te faziam sentir. E tenho certeza de que muitas dessas meninas não faziam ideia do que eram essas pílulas”

O dia seguinte à iniciação extraoficial de Madison à mansão da Playboy, ela perguntou para Hefner se ela podia se mudar, e ele disse que sim.

Por toda a experiência de transição, não houve nenhuma discussão a respeito se ela queria fazer sexo com Hefner. Ela considera o sexo não-consensual quando ela olha pra trás? “Acho que todas as pessoas presumiam que, porque eu estava lá e deixando claro que eu queria ser uma das namoradas, eu sabia que havia algo acontecendo”, Madison diz. “E eu sabia que havia algo acontecendo. Eu não sou burra. Mas nenhuma das meninas de fato admitiam isso ou falavam sobre.”

O sexo grupal acontecia duas vezes por semana, ela dizia. “Sempre era às Quartas e Sextas depois da balada”, ela diz. “Era sempre a mesma coisa porque é assim que ele gosta de viver sua vida”

Era tudo ritualizado, contando com o elenco rotativo de namoradas. “Elas sabiam que era meio que um ‘requisito’ pra morar lá, e esperado”, Madison diz. “E tinha meio que uma aura de tarefa, eu sentia. As meninas ficavam lá e elas meio que encenavam pra criar a impressão de que havia algo acontecendo. Hef não ouvia muito bem de um ouvido, e eu conseguia ouvi-las conversando e zombando do que estava acontecendo e fofocando.”

Ela sabe que falar tudo isso hoje soa insano? “Eu sei que não é normal!”, Madison diz, rindo. “Mas é o padrão de como ele faz as coisas.”

Sua história daquela primeira noite é o único momento em que ela revela esse tipo de detalhe íntimo no livro. É sempre sobre isso que as pessoas querem saber, ela disse, então ela não queria tornar o livro libertino. “Eu falo de como aquela situação me fez sentir”, Madison diz. “Eu não gostava de ser parte dessa coisa de grupo, e não me fazia sentir bem sobre mim mesma. Mas eu não queria hipersensacionalizar o sexo, porque, pra mim, aquilo não era a questão mais importante. Era só mais uma das coisas que me faziam sentir mal.”

Escrever sobre essa parte — sua entrada na vida da mansão e de suas obrigações — foi a parte mais difícil para Madison. “Eu pensava — é, foi difícil pra mim”, ela disse. “Eu não consigo nem explicar por quê. Acho que porque eu tomei aquela decisão e realmente me senti como se eu tivesse me vendido.”

Madison logo caiu em depressão.

Jenny McCarthy e Madison.

Ser uma namorada na mansão era uma experiência altamente regulada, mesmo à parte do sexo prescrito. À noite elas não precisavam estar em casa, mas havia um toque de recolher às 21h. Madison manteve seu trabalho no Hooters por um tempo — não só era importante pra ela manter contato com o mundo exterior, mas ela não ganhava dinheiro além da mesada de Hefner para seu vestuário e sua beleza.

Emocionalmente, ela caiu de um precipício. Ela se sentia hostilizada por algumas das outras mulheres, especialmente Vicky, que ela pensara ser sua amiga. Hefner era um estorvo, tratando-a como se ela fosse estúpida e criticando sua aparência. Ela não podia usar batom vermelho; ele odiava o corte de cabelo curto dela, dizendo-a “você parece velha, difícil e barata.”

Ela desenvolveu gagueira, e, como consequência, tentava falar o mínimo possível. Menos de um ano depois de começar a morar lá, ela pensou em se matar, escrevendo “me afogar parecia uma forma lógica de escapar da vida ridícula que eu estava levando. Eu não aguentava mais minha miséria.”

Madison buscou ajuda, mas Hefner, ela escreve, não a permitia que visse um terapeuta, então ela buscou um médico por antidepressivos. Ela tinha vergonha demais de falar para sua família o que estava acontecendo, ela conta. E na mansão, ninguém teve o cuidado de ver o que estava acontecendo com ela. “Acho que as pessoas perceberam o comportamento que era uma manifestação da depressão, mas interpretavam de uma maneira diferente”, ela diz. “Interpretavam como, ‘ela está cheia’, ou ‘ela é uma escrota’.”

Eventualmente, Hefner a forçou a pedir demissão de seu emprego no Hooters. “Era só um trabalho bobo de garçonete, mas depois de ser pressionada a abrir mão desse trabalho, eu me senti realmente isolada do mundo externo”, Madison diz. “E qualquer independência que eu tinha foi extirpada.” À época, ela não tinha como ganhar dinheiro; Hefner tomara a decisão de parar de colocar suas namoradas na revista, porque, geralmente, quando elas conseguiam isso, elas o deixavam.

Suas únicas confidentes eram a secretária de longo tempo de Hefner, Mary O’Connor, e outra namorada, Bridget Marquardt (que depois se tornaria sua coestrela em Girls Next Door). Com O’Connor, Madison tomava o cuidado de respeitar determinados limites, porque ela sabia que O’Connor era leal a Hefner. “Eu nunca a deixei saber quão profundo estavam as coisas”, Madison diz. “Porque ela era a secretária de Hef, eu não podia falar, ‘Eu quero me matar! Me tire daqui!’”.

Ela falava mais com Marquardt. “Mas mesmo com ela, eu tinha vergonha de me sentir tão mal como eu me sentia”, Madison diz. “Escolher se mudar para a mansão foi uma decisão tão simples, e admitir que você está deprimida é, na verdade, admitir que você tomou uma decisão muito estúpida. E eu não estava pronta para fazer isso”

The Girls Next Door veio em 2005, e foi aí que — finalmente — as coisas começaram a melhorar.

Da esquerda: Marquardt, Liz Stewart, Madison, e Kendra Wilkinson.

O reality show do canal E! não resolveu imediatamente os problemas de Madison: na verdade, ela escreve que as mulheres não foram pagas com nenhum centavo pela primeira temporada. Mas o grupo de namoradas de Hefner havia se reduzido a três, e ela, Marquardt e Wilkinson se deram bem. (Isto é, elas se deram bem naquela época: desde então, Wilkinson decidiu entrar em um conflito permanente com Madison publicamente, de que alguns detalhes são contados no livro. Ela também tem defendido Hefner desde que Down the rabbit hole saiu, mas Madison desconversa: “Eu olho para a resposta de Kendra, e parece muito dispersa e esquisita”)

Morando com Hefner antes de o show começar, Madison sentia-se “flutuando”. Depois, ela disse, “Eu às vezes ficava triste depois do Girls Next Door, também, mas eu sinto que o programa melhorou muito nossa experiência”. Elas viajavam, tornaram-se Playmates (finalmente), e depois da primeira temporada, elas também ganhavam dinheiro do programa. Madison conseguiu um estágio na Playboy por conta de uma história e logo ela foi contratada como editora de fotografia junior — ela amava.

Mas depois de cinco temporadas e de mais tempo com Hefner, Marquardt e Wilkinson seguiram em frente e se mudaram, dando a Madison o que sua persona em Girls next door queria: um relacionamento exclusivo com Hefner. Acabou sendo uma ideia que ela não podia suportar, e ela finalmente decidiu sair.

“Durante o fim, eu definitivamente reconheci que ele era verbalmente abusivo, e foi isso que me fez surtar”, Madison diz. “Havia tantas coisas no relacionamento com que eu não estava completamente confortável, mas eu as justificava em minha cabeça porque havia outras vantagens em ficar ali. E quando Bridget e Kendra se aprontavam para ir embora, e parecia que eu finalmente seria a única, ele explodiu comigo três vezes em um fim de semana — duas dessas anedotas eu detalho no livro. Eu pensei, que merda, eu não posso ficar mais aqui se esse cara for ser um escroto.”

Depois de ir embora, ela estava apreensiva a respeito de sua vida profissional, mas logo acabou participando do Dançando com os famosos e no Peepshow, pelo qual ela fez, ela escreve, milhões de dólares. Ela performou como protagonista até estar grávida demais para continuar — ela havia começado a namorar Pasquale Rotella, um magnata da EDM, em 2011. Sua filha, Rainbow, nasceu em março de 2013.

Hefner disse que Madison e Down the rabbit hole “reescrevem a história”.

Hefner e sua esposa, Crystal Hefner, na festa de Halloween da mansão da Playboy em outubro de 2014.

Hefner, que [estava] com 89 anos [em 2015], não deu entrevistas sobre o livro de Madison. Quando BuzzFeed News contatou seu representante, ela reiterou a declaração que Hefner havia dado previamente: “Por toda a minha vida eu tive uma boa cota de relacionamentos românticos com mulheres maravilhosas. Muitas seguiram em frente para viver vidas felizes, saudáveis e produtivas e eu tenho prazer de manter com elas amizade hoje. Infelizmente, há algumas que escolheram reescrever a história em uma tentativa de se manter sob o holofote. Acho que, como diz o velho ditado, ‘não dá pra vencer todas!’”.

Em resposta, Madison disse ao BuzzFeed News, “Acho que minha parte favorita da resposta é que ele pega a oportunidade para lembrar a todos de quantas mulheres ele namorou.”

Ela diz: “Hef ama rodear ele mesmo com pessoas positivas. E ele tem, de fato, vários amigos com quem ele é bom. Há toda uma cultura lá em cima de todo mundo sempre falar dele como sendo o cara mais legal do mundo. Sabe, foi por essa aparência e essa personalidade que eu me encantei por tanto tempo. Então você tem medo de falar a verdade, de certa forma, porque te fazem sentir como se você fosse louca.”

O livro termina com Madison casada feliz com Rotella. “Ele é meu príncipe encantado, mas eu não precisava ser salva”, ela diz. “Eu me salvei.”

Quando ela estava solteira, Madison diz, ela não conseguia acreditar em “quantas pessoas julgavam o valor de uma mulher ou o quão bem-sucedida ela é com base se ela é ou não casada”. Ela continuou, “E eu não estou falando mal do casamento — casamento e família são algumas das coisas mais bonitas da minha vida. Mas cada um conhece seu parceiro em seu tempo, e eu não acho que uma mulher deve ser encarada, tipo, ‘Ah, você ainda não está casada?’. Por que pessoas ainda pensam assim???”.

Sim, ela é feminista, e Down the rabbit hole parte disso.

“Eu me considero uma feminista nascida de novo”, ela diz. “Eu não posso me intitular uma feminista, ou então as pessoas vão me atacar porque, tipo, Como você pode ser uma feminista, você viveu com Hugh Hefner! Mas eu sinto que chega um momento na vida de toda mulher quando você tem que se tornar feminista.”

Madison pausou, e disse, “Você pode se fazer de estúpida o quanto quiser. Não vai durar, e não vai ser gratificante.”


Tradução do texto de Kate Arthur para o BuzzFeed News