“Você não vai conseguir, você não vai conseguir” …O desespero do mundo interno de muitas de nós tem nome — Síndrome da Impostora.
Nós não conseguimos transformar o que não conhecemos!
E a partir dessa afirmação, sigo acreditando que é completamente difícil expressar e dar nomes aos sentimentos dolorosos que acumulamos ao longo da vida.
E se não conseguimos identificá-los, provavelmente não conseguimos lidar com eles, resolvê-los ou transformá-los. Dar nomes à sentimentos é um fator fundamental na busca por equilíbrio.
São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem-as palavras, reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo está enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas o olharem de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse nem por que eram tão importantes que você quase chorou quando estava falando. Isso é pior, eu acho. Quando o segredo fica trancado lá dentro não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda. Stephen King
Nesse trecho do livro “O Corpo”, livro que inspirou o famoso filme – Conta Comigo — Stephen king, resume de forma lírica, boa parte do que sinto, sendo a síndrome da impostora uma companhia desagradável e comum. Difícil de expressar, vergonhoso de compartilhar e pesado para quem sente. Escrevo esse texto em primeira pessoa pois essas são experiências próprias, além de um apanhado de estudos e observações enquanto profissional de saúde mental.
Descobri sobre a síndrome da impostora, lendo alguns artigos na internet e pude entender que esse era o nome dado para o que antes eu chamava de, um misto entre ansiedade, pessimismo, auto exigência, insegurança, angústia e culpa. Sei que esses são sentimentos comuns para todos nós, mas quem sofre com a síndrome, vai se identificar com situações bem específicas em que esse misto surge, urrante e ensurdecedor.
Descobri sobre a síndrome da impostora, lendo alguns artigos na internet e pude entender que esse era o nome dado para o que antes eu chamava de, um misto entre ansiedade, pessimismo, auto exigência, insegurança, angústia e culpa. Sei que esses são sentimentos comuns para todos nós, mas quem sofre com a síndrome, vai se identificar com situações bem específicas em que esse misto surge, urrante e ensurdecedor.
Acontece sempre que estamos em evidência diante de pessoas experientes, sob análise para algo importante como num processo seletivo, ou mesmo quando iniciamos num ambiente novo de trabalho.
“Sei que sou capaz” — reforço internamente;
“Lutei muito para chegar aqui” — repito num mantra suplicante.
Mas o desconforto e ansiedade me perseguem, parecendo que o meu conhecimento é frágil, passível de críticas que não saberei contornar, que sou cercada de situações complexas e que em algum momento todos irão descobrir que não pertenço à esse lugar, à esse bom lugar e que logo, algo muito errado vai acontecer e vão descobrir que sou uma farsa.
Na busca por compreender a tal síndrome, encontrei entrevistas de personalidades como Emma Watson (Hermione de Harry Potter), Jennifer López, Kate Winslet, todas mulheres bem sucedidas, conhecidas mundialmente, mas que em algum momento da carreira e da vida se questionam sobre seus feitos, acreditam que não vão conseguir passar por um novo desafio e que mesmo diante de um sucesso aclamado, incontestável, se sentem inadequadas e incapazes.
Trata-se de um emaranhado complexo, um conjunto de questões sociais e psíquicas, que não necessariamente cessarão diante de uma “conquista”. Importante frisar que, não podemos atribuir a origem da síndrome unicamente à baixa autoestima, a introspecção e outros fatores subjetivos, o fenômeno impostor é uma manifestação de fatores diversos, ligados principalmente às opressões por raça, gênero e classe. Não custa lembrar que num mundo masculino, branco, hétero e rico, já saímos da maternidade com o peso do “não” para muitas oportunidades. A incompatibilidade com os padrões vigentes distorce a visão de nossas capacidades, principalmente as intelectuais, como numa internalização dos estereótipos de “inferioridade” que a sociedade impõe.
Sabem aquela sensação do 1°dia de aula numa nova escola, em que você não tem amigos, todos te acham estranha e você só quer sumir? É exatamente assim, mas no modo repeat, cotidianamente. Outro exemplo que gosto de abordar, é o do filme “O diabo veste Prada”, em que me comparo a desajeitada Anne Hathaway, a estranha no ninho, correndo feito louca e nunca sendo suficientemente boa para agradar a difícil Miranda até ter seu “jeito de ser” forçado goela abaixo.
O esforço feito internamente nem sempre é aparente pra quem nos cerca. Há uma força sobrenatural para que ninguém perceba o desconforto, o medo causado pela inadequação e consequentemente um enorme cansaço mental vem à cavalo, no fim do dia, no momento em que posso “ser o que sou“, me encontro em frangalhos.
Já deu pra perceber que adoro exemplos com filmes, não é? Mas a arte tem o incrível poder de explicar o que não resumimos facilmente em palavras!
Recentemente assisti ao filme “Queen of Katwe” com Lupita Nyong’o, que conta a história de Phiona, uma menina negra moradora de uma favela em Uganda. Através da iniciativa voluntária de um professor, Phiona e outras crianças passam a ter aulas de xadrez, sem imaginar que essa era a oportunidade de descobrir uma jogadora genial.
Phiona aprendeu muito mais rápido que seus amigos, a maioria meninos e mesmo sem saber ler, foi aos poucos se tornando uma campeã regional, nacional e foi competir em outros países.
“O peão virou rainha” — uma das jogadas de xadrez, em que o peão, a peça mais simples, atravessa o lado oponente sem ser capturado e se torna rainha, a peça mais forte do jogo.
Mas a realidade difícil de sua mãe e sua família criou uma ambiguidade cruel para Phiona… Como uma campeã teria a casa inundada numa chuva forte? De que servem os troféus e medalhas se sua realidade era ser vendedora de milho?
“Eu vendo milho, é isso que sei fazer… Eu nunca serei como eles!” — Exclamou Phiona, que mesmo diante de provas de seu potencial, chorava e se abatia, sentindo que era uma impostora, uma “simples vendedora de milho”, que não merecia estar naquele bom lugar.
O filme mexeu muito comigo, num gás para terminar esse texto que eu guardei por muito tempo e reforçando a urgência de abordar o tema! Sendo “Queen of Katwe” uma ficção com tantos telespectadores mundo à fora, me pergunto quantas Phionas existem por aí, sem conseguir sentir o verdadeiro gosto de suas conquistas… também há uma Phiona em mim.
Então, como podemos nos fortalecer e nos livrar da armadilha da impostora? Abaixo algumas dicas que me ajudam e que também podem auxiliar outras trajetória.
Reconheça seus sentimentos
Como abordei no início do texto essa é uma tarefa complexa diante de nossas dores e traumas, mas para lidar com sentimentos difíceis, é fundamental observar de que formas, em que situações e intensidades os sentimentos surgem. Não é tudo, mas é o começo de tudo!
Procure ajuda!
Não me canso de reforçar a importância de compartilhar, de romper o silêncio como forma de fortalecimento psíquico. Conte com os amigos, companheirxs, familiares, mas não esqueça de procurar ajuda profissional. Precisamos priorizar os cuidados com nossa saúde mental, e muitas questões psicológicas só surgem no processo terapêutico.
Reveja seus passos e suas conquistas
Quando comecei a refazer meus passos, rever histórias esquecidas, lembrar “de onde vim e onde cheguei”, pude perceber que não foi por sorte, simpatia, piedade, ou por um acaso qualquer, que conquistei alguns sonhos na vida. Tive a ajuda de algumas pessoas, sim, mas esse fato não reduz as batalhas, investimentos e minha inteligência envolvidos. Reconheça suas conquistas, elas não caíram do céu!
Por fim, exalto à todos que se sofrem com essas vivências. Sei o quanto não é simples derrotar os pensamentos que nos perseguem, a inadequação e a angústia, mas não desista, não é impossível! E lembre-se, por mais solitário e devastador que pareça, você não está só!
Tamillys Lirio, mulher negra, psicóloga