Transgenerismo e Cross-dressing
Além de homossexuais infelizes como Christine Jorgenson, a outra categoria principal de demandantes deriva do sexo masculino, ostensivamente homossexuais, travestis. Apesar de transvestismo ser um exercício bastante comum de homens heterossexuais, a maioria não procura mudar seu sexo, mas vestir-se em casa ocasionalmente, se aventurar em público “vestida”; ou em alguns casos, procuram viver em tempo integral como mulheres, mas evitando a cirurgia ou os hormônios (Woodhouse, 1989). É, no entanto, a partir deste círculo de homens que o termo trans se levantou, e embora haja muita confusão sobre a fronteira entre travestis e aqueles que escolhem fazer a transição, a diferença parece nem clara, nem fixa. O historiador da sexualidade, Vern Bullough, como muitos outros pesquisadores de transgenerismo, considera que há pouca diferença entre o travestismo e transexualidade; alguns travestis simplesmente foram mais longe que outros e acabam querendo viver permanentemente como uma mulher, ou optando por fazer a cirurgia (Bullough, 2006). Um movimento social de travestis masculinos desenvolvido nos anos 1960 e 1970, que formou outra conduta na construção de transgenerismo.
O movimento foi liderado por Virginia Prince, a quem o primeiro uso do termo “transgênero” foi atribuído. Prince criou o jornal Transvestia, para homens interessados em travestirem-se de mulheres, em 1960. Vern L. Bullough diz que o termo foi “usado pela primeira vez por Virginia Prince para descrever aqueles indivíduos que, como ela, elegeram mudar seu “gênero” e não o “sexo” (Bullough, 2006).
O grupo de homens interessados, travestis, dos quais os números que buscam mudança sexual aumentam, é bem considerável Em um artigo que destaca as conexões entre transvestismo e transgenerismo, a psicóloga trans Anne Lawrence, dá resultados de uma pesquisa para indicar a ubiquidade dos interesses de homens que fazem transvestismo. Isso mostrou que 2,8% dos homens afirmaram ter experienciado excitação sexual devido ao transvestismo (Lawrence,2007:507).
Outros estudos, ele diz, encontrou uma taxa de 2 ou 3%. O interesse dos homens heterossexuais publicamente se vestirem em roupas geralmente associadas a mulheres tem um longo pedigree histórico. Transvestismo é entendido por sexólogos como um interesse sexual de homens heterossexuais e eles concordam que não há prática análoga para as mulheres, heterossexuais ou lésbicas, as mulheres geralmente não são atingidas por parafilias incomuns (Bailey, 2007). Transvestismo é praticado por grupos de homens para se divertir, bem como sendo praticado secretamente em casa. Marjorie Garber, em seu exame desta prática nos Estados Unidos, aponta que tem sido comumente praticado por homens privilegiados, classe alta nas faculdades e universidades, o que dá uma indicação de sua respeitabilidade. Ela explica que vestir-se como mulher, até mesmo a ponto de usar próteses de imitar partes do corpo feminino, tem lugar em todos os bastiões masculinos da classe alta americana, como o Tarven Club em Boston e o Bohemian Club em São Francisco, onde, ela explica que “longe de diminuir o poder da elite dominante, rituais de homens vestirem- se como mulheres aqui muitas vezes parecem servir como confirmação e expressões dele” (Garber, 1997:66).
Virginia Prince, que tem sido descrito como o pioneiro do transgenerismo, desempenhou um papel importante no desenvolvimento do Transvestismo a partir de um hobby em um movimento (Ekins, 2005). Ele tinha um PhD em Farmácia e viveu como uma mulher pela maior parte de sua vida, depois de dois casamentos. Ele, no entanto, não considera-se trans e não fez a cirurgia de mudança de sexo. A International Journal of Transgenderism (Jornal Internacional de Transgenerismo) dedicou uma edição para ele — em noventa e dois anos — em 2005, para celebrar a importância do seu trabalho na criação do campo. Prince teve a história clássica de um homem que faz transvestismo, que hoje seria suscetível de conduzir a um diagnóstico de transtorno de identidade de gênero e fazer dele um candidato a cirurgia. Ele começou a travestir-se com a idade de doze anos, usando roupas de sua mãe, e como adolescente, por vezes “se vestia” em público, buscando se passar por uma menina. Ele procurou aconselhamento e apoio de psiquiatras sobre o seu interesse e, em 1960, ele publicou a primeira edição de sua revista para travestis, Transvestia, que afirmou que ele foi direcionado a “sexualidade normal” — que é heterossexual — que faz transvestismo. Ele formou um grupo de apoio a travestis assinantes da revista, Hose and Heels, em Los Angeles em 1961, no qual homossexuais e transexuais não foram admitidos. O grupo tornou-se nacional e passou a se chamar Fundação para a Expressão Completa da Personalidade (FPE). Ganhou assinantes de fora dos Estados Unidos, e em 1965 um grupo regional europeu da FPE, chamado Sociedade Beaumont foi formada em Londres. Prince também publicava ficções de travestis, algumas escritas por ele mesmo, e vendidas como seios artificiais. Depois de seu segundo casamento ter terminado, ele começou a, como ele diz, “personificar” as mulheres em público, fazia eletrólise para remover a barba e ganhou seios como resultado do tratamento hormonal, mas manteve seu pênis. Prince se tornou o porta-voz para as comunidades travestis e alegou ter inventado os termos “transgenerismo” e “transgenderista” para descrever homens como ele, que tem seios e vivem em tempo integral como mulher, mas que não tem intenção de passar pela cirurgia genital (citado em Ekins, 2005:9). Prince considerou o desenvolvimento da cirurgia trans, e sua ampla divulgação e promoção como algo problemático, pois acreditava que causava a travestis suscetíveis a tomarem esse caminho; uma visão que foi profética.
Em 1978, Prince escreveu um artigo para o jornal Transvestia, que pressagia as maneiras em que teóricos trans e queer estavam a escrever sobre transgenerismo vinte anos mais tarde. Ele explicou a utilidade do sufixo “trans” e que um “transcendente é uma pessoa que sobe mais e vai além de algum tipo de limitação ou barreira” (Prince, 2005b, publicado pela primeira vez, 1978:39). Trans, segundo ele, tem que passar por cima da barreira de gênero, e cita o sexólogo John Money na definição de gênero como “todas aquelas coisas que uma pessoa diz ou faz para divulgar a si mesmo como tendo o status de menino ou homens, menina ou mulher, respectivamente” (Prince, 2005b:40). Curiosamente, Prince considera que o gênero não seja “biológico, mas sim cultural” (Prince, 2005b 41), e sua compreensão do que a feminilidade é composta provém da cultura da década de 1950, “um mundo de seda e cetim, de rendas e perfume, de graça, beleza e adorno e, idealmente, de virtude” (2005 a, 23). O trabalho de Prince é uma indicação de uma mudança para entender o transvestismo e transexualismo em termo de “gênero” que estava em curso. Isso culminou com a inclusão no DSM (Diagnostic and Statistical Manual — Manual Estatístico de Diagnósticos) nos Estados Unidos, a bíblia dos profissionais de saúde mental, dos diagnósticos de “transtorno de identidade de gênero” e “transtorno de identidade de gênero na infância”, que formam as bases para o tratamento deste problema de saúde mental por meio de hormônios e cirurgia. Transtorno de identidade de gênero tornou-se a nova linguagem para o que anteriormente era chamado de ‘transexualismo’(Zucker e Spitzer, 2005). Na nova edição de 2013 do Manual Estatístico de Diagnósticos, a nomenclatura foi alterada novamente, e transtorno de identidade de gênero se tornou “disforia de gênero”, resultante dos argumentos de transativistas que seus problemas com gênero não se tratavam de uma desordem, um termo que tem conotação de má saúde mental.
A mudança para o gênero
A construção da ideia de “gênero” era necessária para justificar e explicar o tratamento de mudança de sexo. O acesso a esta nova ideia levou a uma etapa importante na história desta prática, quando, na década de 1990, o termo “transgênero” começou a aglomerar o termo “transexualismo” de entendimentos comuns. A mudança para a língua e a ideia de gênero na conceitualização de transvestismo e transsexualismo começou com os sexólogos de 1950 e 1960.
Durante este tempo, os médicos que ofereciam tratamentos trans criaram uma noção de gênero — que anteriormente só tinha um significado gramatical — como a base biológica para a sua prática. Hausman explica que a cirurgia de mudança de sexo baseava-se na noção de gênero:
“a ideia de uma identidade anterior e dentro do corpo que teoricamente deve ditar a aparência física do sujeito” (Hausman, 1995:70).
A ideia de gênero foi desenvolvido pelos sexólogos, John Money e outros, na década de 1950 e compreendida como o “desempenho social indicativo de uma identidade sexuada interna” (Hausman, 1995:7). Ela surgiu a partir de seu trabalho usando a cirurgia e hormônios no tratamento de crianças intersexuais, e foi utilizado para determinar quais crianças devem ser tratadas e de que forma. Como Hausman observa, houve um viés heterossexista desde o início na construção médica da intersexualidade e transsexualismo, porque os médicos estavam preocupados em construir pessoas dentro do gênero devido em que agiram dentro do padrão heterossexual. Através de estudos da história do transexualismo, Hausman argumenta que a produção do conceito de gênero na cultura ocidental pode ser analisada (Hausman, 1995:11). Todas as intervenções médicas, como Hausman se refere a elas, dependia da “construção de um sistema de retórica que postula um gênero anterior necessário para justificar intervenções cirúrgicas” (Hausman, 1995:71). Ela chama os médicos de “gestores de gênero” e sublinha que a oposição à homossexualidade alimentou este tratamento e justificou a esterilização que era uma parte componente do tratamento, uma vez que considerou que era “mais importante que o paciente não seja homossexual que o paciente seja fértil” (Hausman, 1995:74).
O desenvolvimento pelos sexólogos da ideia de gênero tinha intenção de tornar possível uma mudança linguística e ideológica considerável para os homens que procuravam mudar de sexo. Como um número crescente de sexólogos, psicólogos e filósofos da ciência estão agora apontando, a ideia de gênero permitiu que os demandantes embrulhassem a sua prática e desejos em um novo quadro que, em seguida, procurou justificar como essencial ou mesmo biologicamente determinada (Bailey, 2007; Blanchard, 2005; Dreger, 2008; 2011; Ekins and King, 2010). A ideia de gênero ofereceu um caminho para sair da situação difícil que tais homens de outra forma seriam vistos como sexualmente motivados por uma “parafilia” para se travestir ou mudar de sexo. A associação com a sexualidade criou problemas para o acesso ao tratamento e à seriedade com que foram considerados no mundo público. A ideia de um erro de “gênero”, em que misteriosamente incorporou uma “essência feminina”, os limpou da indecência e permitiu que eles se constituíssem como uma minoria confiante e com direitos que simplesmente nasceu diferente. A mudança de sexo para gênero foi realizada com a crescente aceitação de uma nova linguagem — transexualismo se tornou transgenerismo.
Transvestismo e transgenerismo como parafilias
A biografias de travestis e as descrições de suas excitações e interesses são muito semelhantes aos prestados por aqueles que passam a acessar cirurgia e hormônios. Transvestismo é reamente um interesse sexual, mas os porta-vozes para travestis e a maioria das pessoas que passam pela transição, rejeitam a ideia de que sua prática estaja relacionada com excitação sexual. Prince especificamente rejeitou a noção de que transvestismo foi impulsionado por uma busca de satisfação sexual; ao contrário, ele disse que foi baseado em “gênero” e que permitia homens a expressarem por completo sua personalidade, incluindo seu “amor pelo feminino” (Ekins, 2005:11). Esta afirmação, o sociólogo Richar Ekins argumenta, era para ganhar aceitação da família, amigos e da sociedade.
Há uma oposição cada vez mais vocal à ideia de que o desejo de mudar de sexo seja baseada em gênero, ao invés de ser um interesse sexual, entre alguns dos mais envolvidos na teorização do transgenerismo. Este grupo de profissionais, que inclui o psicólogo Professor Michael Bailey (2003), o filósofo da ciência Alice Dreger (2008), a psicoterapeuta trans Anne Lawrence (2004), e os sociólogos Richard Ekins e Dave King (2010), favoreceram o entendimento de transgenerismo desenvolvido pra sexóloga Ray Blanchard (2005). Blanchard afirma que existem dois tipos de trans: aqueles que amam homens e são basicamente homossexuais; e aqueles que são sexualmente atraídos pela ideia em si mesmos como mulheres, a quem chama de autoginéfilos. Autoginefilia diz ele, constitui uma “propensão de um homem a ser atraído para o pensamento ou imagem de si mesmo como uma mulher” (Blanchard, 1991:235). Críticos tem respondido que estas duas categorias não têm em conta todos os transexuais, e que muitos não se enquadram facilmente nos critérios para um ou outro, mas os defensores dizem que o esquema de haver dois desses tipo é esmagadoramente correta, e se encaixa evidentemente. Eles rejeitam a ideia de que os transexuais tem uma condição biológica e que o seu “gênero” foi indevidamente atribuído: “É lamentável que a face pública do transexualismo do MTF seja tão diferente da realidade” (Bailey e Triea, 2007:531). Blanchard, Bailey e seus colegas consideram que o transexualismo não-homossexual, autoginefilia, é um interesse sexual ou parafilia.
O sociólogo Etkins que fez transvestismo e transgenerismo os temas de sua pesquisa e trabalho de sua vida, descreve os interesses eróticos do que ele chama de “homens feminizados”. Ele não faz nenhuma distinção real entre os travestis e homens que vão mais longe em sua prática e procuram mudar de sexo, e todos eles são, na sua opinião, homens feminizados. Etkins explica que, para o feminizado do sexo masculino,
“o desejo ou excitação, é despertada… pelo seu próprio processo de feminilização, e/ou através da consciência dos outros de seu próprio processo de feminilização erótica… O afeminado [pode experimentar] intenso orgasmo, após uma sequência de vestir-se, enquanto que, no outro extremo, o feminilizado pode encontrar-se ligeiramente apreciando a sensação sensual de sua alça de sutiã em seu ombro como ele faz os movimentos menores necessários para comer uma refeição ou beber uma xícara de café”. (Ekins, 1997:56).
Este exemplo demonstra utilmente a diferença entre a fantasia do travesti do que é ser mulher e o que as mulheres realmente sentem, já que há uma ausência de relatos de mulheres se sentirem sexualmente excitadas pela alça de sutiãs. Mas sua caracterização da prática também oferece uma visão sobre a importância atribuída por alguns homens que transicionaram ou fazem transvestismo para aparecer em público, em banheiros femininos, por exemplo, e buscando uma reação delas. Bailey e Triea argumentam que este é um aspecto comum de autoginefilia, descrevendo-o como a “”fantasia erótica de ser admirado, na persona feminina, por outra pessoa” (Bailey e Triea, 2007:523).
Ray Blanchard explica que uma diferença significante entre autoginéfilos e homossexuais — a quem eles são comparados frequentemente — é que os homossexuais não procuram uma reação dos transeuntes para sua satisfação sexual, enquanto que os homens heterossexuais que progridem fazendo transvestismo para o ato do transgenerismo como se eles estivessem em um perpétuo “filme” no qual outras pessoas como as mulheres, são induzidas, embora a contragosto, a desempenhar um papel de público (Cameron, 2013).
O conceito de autoginefilia é útil para explicar como o interesse sexual dos homens em que, em suas mentes, pertence a feminilidade, pode ir mais longe do que fazer transvestismo para incorporar a feminilidade em seus corpos por meios físicos. Bailey e Triea explicam que “uma manifestação comum de autoginefilia é a fetichista travesti”, mas alguns não fazem transvestismo, mas “fetichizam sobre a nudez de uma mulher, focando nas feições anatômicas desejadas” e alguns “experienciam uma excitação erótica com a ideia de se tornar mulher e isso os motiva para se tornarem mulheres” (Bailey and Triea, 2007:523). Eles explicam que nem todos os homens autoginefilicos escolhem serem trans, e seus interesses executam uma gama de transvestismo para engajar-se em atividades femininas estereotipadas (por exemplo, tricotar ao lado de outras mulheres) de possuir seios femininos e genitais femininos” (ibid.). Não há nenhuma diferença “óbvia”, eles argumentam, entre travestis não-homossexuais que vão transicionar e aqueles que não vão. Bailey e Tirea não tem nenhuma concessão com a noção de uma “essência feminina” ou de “gênero inato”.
Embora um número crescente de sexólogos estejam dizendo que transvetismo e transexualismo autoginéfilo baseiam-se numa orientação sexual ou parafilia, ao invés de gênero não conformista, eles raramente se aventuram em explicar exatamente o que a excitação sexual se baseia em. Bailey e Triea deixam implícito que este interesse sexual é uma forma de masoquismo, salientando que “homens que morrem praticando esta perigosa atividade masoquista de asfixia auto-erótica, aproximadamente 24% fazem transvetismo” (Bailey e Triea, 2007:524). Eu argumentei que o fato de que a emoção é masoquista é clara na pornografia de pessoas que fazem transvetismo, e nas demonstrações de si mesmos (Jeffreys, 2005). A excitação que a ideia de ser uma mulher e a emoção que os apetrechos de feminilidade resultam apresenta o fato de que a feminilidade represente uma posição subordinada. Quando um homem é forçado a fazer transvestismo, ou é capaz de se imaginar como uma mulher, ele experimenta a deliciosa emoção de estar não tripudiado, privado de seus status superior de masculinidade ao rebaixado à condição subordinada de mulher. É uma excitação derivada da hierarquia de gênero, o sistema de castas da dominação masculina e subordinação das mulheres, e não seria imaginável fora desse quadro. Roupas de mulheres não são procuradas porque são mais bonitas ou mais delicadas, mas por causa de seu significado simbólico. Esta compreensão da prática de homens que fazem transvestismo, e os impulsos trans que podem resultar, não é provável encontrar-se com a aprovação das mulheres, para quem ser feminina é um aspecto muitas vezes árduo e penoso da sua condição humilde ao invés de uma busca de orgasmos. Talvez por essa razão, a teoria da essência feminina, a ideia de que um “gênero” esteja fora do lugar, é muito mais aceitável do que a erotização da subordinação das mulheres pelos homens. Bailey e Triea ofereceram uma explicação para o entusiasmo para a teoria da essência feminina entre muitos homens que transicionam, dizendo que aqueles que promovem essa ideia são mais propensos a serem aceitos para o tratamento, se eles não são vistos como sexualmente desviantes. Eles podem achar a ideia “intrinsecamente atraente”, mesmo que ela seja “implausível” (Bailey e Triea, 2007:528).
Blanchard e seus apoiadores argumentam que é muita evidência da existência de autoginefilia, enquanto não há nenhuma essência feminina (Blanchard, 2005). Encontra-se nas narrativas que Blanchard ouviu de seus muitos pacientes e das 59 narrativas que a psicoterapeuta trans, Anne Lawrence, tem recolhido. Blanchard oferece alguns exemplos da coleção de Lawrence para mostrar como autoginefilia se manifesta. Uma narrativa descreve a excitação sexual do autor por ter sido confundido por uma mulher: “Nos primeiros dias eu fiquei excitado quando alguém, um vendedor, um estranho casual, me chamou de ‘senhora’ ou realizou alguma cortesia como a abrir a porta para mim” (Blanchard, 2005:440). Outra explica que, tanto antes como após a cirurgia de redesignação sexual (SRS) que ele gostava de fingir que menstruava:
“Foi e ainda é sexualmente excitante para mim ter as ‘funções’ que o corpo feminino tem”. Antes da minha SRS, gostava de fingir que menstruava através de urinar em pensos higiênicos. Eu particularmente gostava de usar o antigo absorvente com longas abas” (Blanchard, 2005:440).
Blanchard usa uma citação de uma narrativa para explicar porque autoginéfilos podem buscar encontros sexuais com homens. Apesar de não verem-se como homossexuais, tais incidentes podem servir para ganhar o reconhecimento da condição de feminilidade trans. “Eu senti que eu estava confirmando a minha feminilidade por ser um parceiro passivo… Eu nunca fui interessado em sexo com um homens quando eu me apresentava como um homem, eu mesmo” (Blanchard, 2005:441). As motivações dos homens ostensivamente heterossexuais que são trans, são razoavelmente bem explicadas por esses sexólogos como decorrente de masoquismo, e o desejo de ofuscar a natureza sexual do transvestismo e transgenerismo foi uma das forças construtivas do transgenerismo no final do século XX.
Mais importante ainda, Bailey e Triea argumentam que o tipo de ataques à sua reputação que acontece com qualquer pessoa que desafia publicamente a ideia de essência feminina serve para evitar que qualquer outra voz seja expressada. Dois proponentes proeminentes da teoria transativista, Lyn Conway e Andrea James, chamaram de “Propaganda Nazista” o livro de 2003, em que Bailey foi critica, ao “Homem que seria Rainha”. (Bailey e Triea, 2007:528). Bailey foi submetido a uma campanha de difamação que incluiu a colocação de fotografias de seus filhos em um site com legendas insultuosas (Dreger, 2008). Ele diz que muitas acusações falsas foram feitas contra ele, e estas eram “precisamente na tentativa de punir o autor por ter escrito com aprovação sobre as ideias de Blanchard, e para intimidar outros que ousem fazer o mesmo” (Bailey e Triea, 2007:529). Bailey e Triea argumentam que os defensores da narrativa da essência feminina, e que são contra a teoria de Blanchard, são trans não-homossexuais que “incorretamente negam sua autoginefilia” (Bailey e Triea, 2007:529). Estes homens são apoiados em suas ideias equivocados por muitos dos “médicos de gênero” que podem não estar dispostos a desacreditar ou desagradar seus pacientes, e que são mais confortáveis com a facilitação da mudança de sexo por “razões relacionadas com o gênero e não ao erotismo”.
Tradução do livro “Gender Hurts” de Sheila Jeffreys, lésbica radical assumida desde os anos 70. Os 3 capítulos apresentados são “Transgenerismo e Cross-dressing”, “A mudança para o gênero” e “Cross-dressing e transgenerismo como parafilias”.
Nota da tradutora:
O termo Cross-dressing foi substituído por Transvestismo que apresenta o mesmo significado.