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Uma estudante negra e lésbica da UNB — uma instituição na capital do Brasil, Brasília — desafiou a presença de um homem branco no banheiro feminino em seu campus em 14/12/2022. O homem, que agora se chama Brigitte Lucia mas que foi registrado ao nascer como Tulio Henrique Carvalho dos Santos, a agrediu. “Jane” (um pseudônimo para proteger a vítima) foi ao banheiro feminino do restaurante do campus Darcy Ribeiro após terminar o almoço, e viu um “homem alto e de barba” no banheiro, que ela nunca tinha visto antes.

“Então eu abordei ele e disse que ali era o banheiro feminino”, Jane disse para a 4W, “ e ele me disse que era uma mulher, mas eu neguei isso, porque não concordo que ele seja uma mulher, pois tem barba, voz de homem e altura de homem”. Nesse momento, Jane diz que Santos começou a avançar para cima dela de forma agressiva. “Ele veio para cima de mim com tudo e iria me agredir se uma moça não tivesse chegado e me defendido”, Jane conta.

“Essa moça me abraçou e me levou até a secretaria do restaurante universitário. Lá nós começamos a relatar o que aconteceu no banheiro. E logo em seguida, eu vi a pessoa do sexo masculino saindo do banheiro e vindo em direção à secretaria. Ele foi até lá fazer a denúncia de transfobia”, explica Jane. “(Santos) ficou apontando o dedo pra mim e me chamando de transfóbica, mas eu não entendi que fui transfóbica, pois eu não sou contra mulheres transexuais e não tenho problemas que elas usem banheiro feminino, mas eu acho que ele não é uma mulher transexual.”

“E foi nesse momento que eu comecei a gravar com meu celular pra registrar ele me xingando e ameaçando”, diz Jane. “Ele me acuou num canto e tentou me fazer brigar com ele”.

“Até que chegou num ponto que ele já tinha me acuado até um canto lá da secretaria e me bateu contra o vidro da parede (machucou minha cabeça e meu braço — meu braço ainda dói).”

Jane disse que fez um B.O. contra Santos e está procurando assistência legal. Enquanto isso, a UnB afirmou em nota que é “um local plural e tolerante, que preza pela riqueza e potencialidade da diversidade e pelo respeito às diferenças”.

No dia 20/12/2022, haverá um protesto “contra a transfobia” em frente ao restaurante do campus Darcy Ribeiro. O cartaz do protesto diz “Libera meu pipi”. Jane pode perder sua vaga na universidade UnB se se confirmar que vários estudantes pediram a sua expulsão.

Segundo uma ex-aluna da UnB, “Sandy”, que também pediu para permanecer anônima, Santos começou a faculdade em 2012 e, depois de ser reprovado três vezes na mesma matéria, foi jubilado em 2019. Até então, ele se apresentava como um homem gay que usava ropuas normalmente vendidas para o público feminino, e pintava as unhas. Durante a pandemia, ele conseguiu retornar à UnB, e passou a se apresentar como uma “pessoa trans”.

“Antes dele ser jubilado, ele era o homem gay mais misógino que eu já conheci”, disse Sandy. “Convivi por anos na Universidade de Brasília com a pessoa que hoje se identifica como Brigite, e já vivenciei várias situações onde ele foi misógino, desrespeitoso e completamente equivocado. A falta de resposta de alguém era motivo para acusar alguma violência, a discordância dentro de discussões fazia ele começar a gritar”.

“Quem o conheceu dentro da universidade sabe que sempre quis ser o centro das atenções, não importava muito a custo de quê, mesmo quando as discussões não se tratavam da pessoa em si, era transformada para isso, ou quando os envolvidos não respondiam da maneira que ele queria. Essas posturas já renderam inclusive afastamento do mesmo de grupos acadêmicos”.

“Colegas de semestres mais novos dizem que dentro das matérias, a acusação de transfobia se dá além dos momentos em que erram os pronomes, mas também quando alguém o interrompe ou tem uma visão diferente de temas tratados na disciplina, do mesmo jeito que fazia quando se apresentava como homem gay”.

Sandy disse que, atualmente, “Atualmente, há uma ameaça constante de processo” quando alguém usa o nome Tulio, com que ele foi registrado ao nascimento, “mesmo tendo convivido na Universidade por mais de 6 anos assim, dizendo que é crime não aceitar o nome Brigitte, que já consta em documentação oficial.”

Outra estudante da UnB, “Laura”, conhece Santos por pelo menos uma década e confirmou o que Sandy disse sobre o comportamento de Santos. Laura diz que Santos é “Ele sempre foi, antes e acima de tudo, uma pessoa pornográfica, e com o tempo isso só se intensificou. Ele frequentemente assistia às aulas com shorts de ciclista, extremamente grudados no corpo, contornando o pênis e os testículos dele, e junto a isso, topzinhos, deixando toda a barriga extremamente peluda de fora. sempre foi uma pessoa que gerava desconforto visual, porque ninguém além dele ia tão seminu pra aula, porque nenhum outro homem do curso nunca foi com as genitálias embaladas a vácuo como ele.”

4W também falou com Sara Zampronha, uma estudante da UnB que fez uma pesquisa sobre a segurança das mulheres no campus Darny Ribeiro. Sara propôs essa pesquisa, chamada (In) Segurança das Mulheres no Campus Darcy Ribeiro, para a sua orientadora após uma estudante ter sido estuprada em julhos de 2022 ao deixar o restaurante do campus, e depois de outra estudante ter sido filmada no banheiro feminino. Zamppronha disse que mais de 800 mulheres responderam à pesquisa, e que possui depoimentos de diversas mulheres que sofreram violência na UnB. “Das 804 mulheres entrevistadas, 233 estudantes do sexo feminino nomearam o banheiro como o local mais perigoso no campus, inclusive meninas que se identificam como não-binárias e homens trans”.

Apesar da pesquisa de Zampronha e da evidência coletada com os depoimentos das estudantes a cerca da sua segurança no campus, a Coordenação de Mulheres da Secretaria de Direitos Humanos da Universidade de Brasília promoveu um debate sobre a instalação de banheiros “neutros” em setembro de 2022. À época, a campanha pela Declaração Internacional dos Direitos das Mulheres (WDI Brasil) postou no Instagram que as m2ulheres preocupadas com sua já precária segurança foram ridicularizadas e acusadas de violentas.” durante o debate.

“Eu passei mal depois da reunião sobre banheiros neutros”, disse Sara. “Me dói muito trabalhar com esses relatos e a universidade simplesmente não liga.”

Segundo a WDI Brasil, as pessoas responsáveis pela proposta de banheiros neutros afirmaram que são as “mulheres cis”, que é como se referiram a mulheres que não se declaram “trans”, que “colocam em risco a vida” de homens trans-identificados.

Atualização: Coletivas de mulheres, como a Coletiva Mariz, estão organizando ações em apoio a Jane, embora membras já tenham relatado que estão sendo acuadas para não se manifestarem. Um tuitaço foi programado para os dias 18, 19 e 20 de dezembro, a partir das 15h, em apoio à aluna da UnB que desafiou a presença de Santos no banheiro feminino.


Tradução do artigo “Brazil: Trans-Identified Man Who Assaulted Fellow Student Has Long History of Violent ‘Victimhood’”, por Andreia Nobre, noticiado originalmente na publicação feminista americana 4w.Pub.

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