Eu fiquei muito contente quando Esther Vivas, jornalista e socióloga espanhola entrou em contato comigo para enviar-me o seu livro “Mamãe Desobediente”, lançado aqui no Brasil pela Editora Timo. O livro, publicado originalmente na Espanha em 2019, já foi lançado em diferentes países da América Latina como Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Bolívia, México, Porto Rico e Peru, e chegou ao Brasil em meados desse anos de 2021. Eu recebi o livro com muita alegria e levei uma eternidade pra concluir a leitura, não porque ela seja difícil ou desinteressante mas justamente por lidar com muitas das dificuldades que o livro apresenta. Foram começos, recomeços, e milhares de interrupções de tarefas que só mesmo a maternidade te proporciona.
O livro é ótimo. De leitura fácil, tem o mérito de apresentar uma abordagem cuidadosamente contextualizada e bem referenciada o que nos permite compreender de maneira muito precisa a origem dos dilemas que vivemos hoje quando falamos de temas da maternagem.
Ao ler o livro conseguimos compreender bem como a maternidade foi sendo instrumentalizada pelo patriarcado através dos séculos sem nunca levar em consideração o bem estar de mulheres e crianças. E ainda, considerando que muitos dados refletem a realidade da Espanha, outros países Europeus e Estados Unidos, ler o livro aqui no Brasil nos faz perceber como os problemas que todas experienciamos não são uma prerrogativa do nosso país ou mesmo de países em desenvolvimento, mas uma realidade compartilhada de todas as mulheres mundo afora.
“Mamãe Desobediente” aborda inúmeros temas muito caros a questão materna como fertilidade, empregabilidade materna, depressão pós-parto, perda gestacional, violência obstétrica, aleitamento, segurança alimentar, e outras, sempre sob uma perspectiva feminista, situando muito acertadamente as questões sob a perspectiva da opressão estrutural capitalista-patriarcal.
O livro situa o movimento feminista em relação a maternidade e aborda questões muito estratégicas tanto das convergências quanto – e principalmente – das divergências entre esses dois temas, apontando caminhos interessantes para pensar a dicotomia entre a realidade objetiva da exploração do corpo reprodutivo da mulher no patriarcado e a experiência subjetiva que o vínculo com um bebê proporciona. Dessa forma, chama a responsabilidade de toda a sociedade engajada na construção de um mundo melhor sob a perspectiva de que a reprodução humana é uma função social que precisa ser completamente reorganizada (e aqui são as teorias feministas que apontam o caminho) para acomodar as necessidades de todas as pessoas de maneira equânime, com mulheres verdadeiramente livre.
O feminismo, mais que um movimento social, é uma proposta revolucionária de sociedade, e a maternidade é um pilar estratégico para se pensar quando ousamos querer outras maneiras de estar no mundo.