sap

O conceito da “Síndrome da Alienação Parental (SAP)” surgiu em 1985 proposto pelo psiquiatra americano Richard Gardner, como sendo um distúrbio passível de acometer crianças envolvidas em disputas de custódia, por conta de abuso psicológico realizado por um dos genitores no sentido de interditar os vínculos com o outro. Para Gardner, a SAP, quando não identificada e devidamente tratada, poderia trazer graves consequências psíquicas e comportamentais para a criança. E eu poderia escrever um texto imenso explicando o que é a tal “Síndrome de Alienação Parental” realmente, fazendo críticas, explicando que é só mais uma forma de marginalizar as mães que tentam proteger suas crias de pais abusadores e pedófilos, mas como isso não comove ninguém, eu vou simplesmente:

1. Expor alguns dados importantes:

  • A SAP não é reconhecida como doença em nenhum lugar do mundo.
  • Nos EUA — país de origem dessa teoria medonha — as comunidades científicas, acadêmicas, de saúde mental e jurídicas já chegaram ao consenso de que essa teoria não possui nenhuma base empírica e de que, portanto, não pode ser aceita como justificativa em tribunais.
  • As duas instituições mais reconhecidas no mundo em termos de problemas de saúde e mentais — a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Associação Americana de Psicologia — rejeitaram a SAP como entidade clínica. Por isso, essa “síndrome” não aparece nas listas de patologias em manual nenhum.
  • Gardner afirma sobre as ferramentas que ele mesmo desenvolveu para diferenciar as verdadeiras das falsas alegações (a ELAS e mais tarde os Protocolos ), que o conceito de SAP não é aplicável às crianças que foram abusadas de verdade. O avaliador teria então que determinar de antemão que a alegação de abuso sexual era falsa, para assim poder usar as ferramentas de Gardner para determinar o abuso. Assim, tanto a SAP quanto os protocolos estão gravemente comprometidos pelo fato de sua dependência em um raciocínio circular e determinações a priori.

2. Expor algumas coisinhas o que o autor dessa teoria — Richard Gardner — já escreveu:

“A PEDOFILIA PODE MELHORAR A SOBREVIVÊNCIA HUMANA SERVINDO A PROPÓSITOS PROCRIATIVOS” 
GARDNER, R. A. “True and false accusations of child sex abuse”. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics.

“EM CADA UM DE NÓS EXISTE UM POUCO DE PEDOFILIA”
GARDNER, R.A. “Sex abuse hysteria: Salem whitch trials revisited”. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics. (p.118)

“NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE A IMENSA MAIORIA DOS INDIVIDUOS TÊM CONSIDERADO A PEDOFILIA NORMAL” . Gardner, R.A. (1992). “True and False Accusations of Child Sex Abuse”. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics (p. 592–3)

“A PEDOFILIA INTRAFAMILIAR (ISTO É, O INCESTO), É MUITO DIFUNDIDA… É, PROVAVELMENTE, UMA TRADIÇÃO MUITO ANTIGA”.
Gardner, R.A. (1991) “Sex Abuse Hysterria: Salem Witch Trials Revisited”. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics.

“OS MENINOS E MENINAS (EM SEUS ENCONTROS SEXUAIS COM ADULTOS), SÓ SOFREM PORQUE NOSSA SOCIEDADE REAGE DE FORMA DESPROPORCIONAL À PEDOFILIA.”
Gardner, R.A. (1992). “True and False Accusations of Child Sex Abuse”. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics.

Gardner também sugere que meninas e meninos querem ter sexo com adultos e podem seduzi-los:

“ALGUNS MENINOS E MENINAS EXPERIMENTAL FORTES IMPULSOS SEXUAIS, HÁ UMA BOA RAZÃO PARA CRER QUE A MAIORIA, SENÃO TODAS AS CRIANÇAS, TEM A CAPACIDADE DE CHEGAR AO ORGASMO AINDA RECÉM NASCIDOS”.

“OS MENINOS E AS MENINAS SÃO NATURALMENTE SEXUAIS E PODEM SEDUZIR ADULTOS EM ENCONTROS SEXUAIS PARA INICIAREM-SE SEXUALMENTE”.
Gardner, R.A. (1986) Child Custody Ligitation: A Guide for Parents and Mental Health Professionals. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics (p. 93)

“SE A RELAÇÃO SEXUAL [ENTRE O ADULTO E A CRIANÇA] É DESCOBERTA, É PROVAVEL QUE A CRIANÇA FABRIQUE UMA IDEIA ONDE CULPARÁ O ADULTO POR ESSA INICIAÇÃO SEXUAL.”
Gardner, R.A. (1986) Child Custody Ligitation: A Guide for Parents and Mental Health Professionals. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics.

“SE PODE AJUDAR AOS MENINOS E MENINAS UM POUCO MAIORES A ENTENDER QUE AS RELAÇÕES SEXUAIS ENTRE CRIANÇAS E ADULTOS NÃO SE CONSIDEREM ATOS QUE DEVEM SER UNIVERSALMENTE REPREENDIDOS.” Gardner, R.A. (1992).
True and False Accusations of Child Sex Abuse. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics.

“SE PODE FALAR PARA AS CRIANÇAS SOBRE SOCIEDADES EM QUE TAIS COMPORTAMENTOS ERAM CONSIDERADOS NORMAIS”
Gardner, R.A. (1992). True and False Accusations of Child Sex Abuse. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics (p. 572)

“É PRECISO AJUDAR AS CRIANÇAS A ENTENDER QUE EM NOSSA SOCIEDADE TEMOS UMA ATITUDE EXAGERADAMENTE PUNITIVA E MORALISTA EM RELAÇÃO A RELAÇÕES SEXUAIS ENTRE ADULTOS E CRIANÇAS”.
Gardner, R.A. (1986) Child Custody Ligitation: A Guide for Parents and Mental Health Professionals. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics.


3. Apresentar alguns dados científicos:

“Não há evidências clínicas ou empíricas consistentes de que a SAP é uma síndrome válida ou de que o suposto comportamento do “alienante” é de fato a causa do comportamento da criança alienada com relação ao pai-alvo (Walker et. al, 2005). Na verdade, a maioria dos especialistas de saúde mental e do Direito que estudaram o assunto consideram a teoria da SAP ambas errônea e perigosa às crianças envolvidas.” [1]

“Considere que disputas por visitação e custódia parecem ocorrer mais frequentemente quando há um histórico de violência doméstica. As varas de família muitas vezes não consideram o histórico de violência entre os genitores na elaboração da decisão a respeito de custódia e de visitação. Nesse contexto, o genitor não violento pode estar em desvantagem, e o comportamento que pareceria razoável como proteção de abuso pode ser mal-interpretado como um sinal de instabilidade. Avaliadores psicológicos não treinados em violência doméstica podem contribuir a esse processo ignorando ou minimizando a violência e dando rótulos patológicos inapropriados às respostas das mulheres à vitimização crônica. Termos como “alienação parental” podem ser usados para culpar as mulheres pelo medo ou pela raiva razoável da criança direcionado a seu pai violento.” [2] American Psychological Association. (1996). Report of the APA Presidential Task Force on Violence and the Family, Washington, D.C. Disponível em: (clique aqui)

“De acordo com Bruch, as deficiências na teoria da SAP são múltiplas. Em adição à ausência de suporte científico, Bruch nota os seguintes problemas: primeiro, Gardner confunde (i) a reação relacionada ao desenvolvimento da criança ao divórcio e (ii) conflito parental alto (incluindo a violência) com psicose. Fazendo isso, ele falha em reconhecer o comportamento bravo, e muitas vezes inapropriado, mas totalmente previsível, de ambos genitores e criança, após uma separação. Em segundolugar, possivelmente como consequência desses erros e de sua visão limitada, Gardner vastamente sobre-estima a frequência de casos em que as crianças e genitores brigando por custódia elaboram falsas alegações ou conspiram para destruir a relação entre genitor e criança. Em terceiro lugar, dessa forma, a SAP desvia a atenção do possível comportamento perigoso do genitor buscando custódia para aquele genitor que já a possui. Essa pessoa, que pode estar tentando proteger a criança, na verdade presume-se mentirosa e envenenando a criança. De fato, para Gardner, os passos do genitor preocupado com a custódia para obter assistência profissional para diagnosticar, tratar e proteger a criança constituem evidência da falsidade das alegações. Em quarto lugar, Gardner acredita particularmente que, em casos sérios, o relacionamento da criança alienada com o genitor rejeitado vai ser danificada irreparavelmente, provavelmente terminando para sempre. Em quinto e último lugar, como as fontes sugerem, a solução proposta por Gardner em casos extremos não possui base nenhuma e coloca crianças em risco.” [3] Bruch, Carol S. Parental (2001).Alienation Syndrome and Parental Alienation: Getting It Wrong in Child Custody Cases. Family Law Quarterly, 35, 527. Disponível online aqui.

“Enquanto que as teorias de Gardner sobre a SAp e sobre a histeria em massa de abuso sexual têm sido amplamente criticadas, suas visões sobre o abuso sexual de boa fé de crianças e suas recomendações de tratamento para lidar com famílias incestuosas têm sido muito ignoradas. Este artigo fornece uma análise profunda das visões de Gardner sobre pedofilia e sobre sua abordagem terapêutica para trabalhar com famílias nas quais uma criança foi molestada por um genitor.” [4] Dallam, S. J. (1998). Dr. Richard Gardner: A review of his theories and opinions on atypical sexuality, pedophilia, and treatment issues. Treating Abuse Today, 8(1), 15–23.

“Este artigo descreve as características e dinâmicas propostas sobre a SAP e os métodos usados para documentar sua presença. Dados de pesquisa relacionados a vários aspectos da síndrome, então, são revisados. Dr. Faller nota que ‘A síndrome da alienação parental é uma síndrome sem diagnóstico. Só é útil para profissionais de saúde mental para explicar uma apresentação de sintoma se eles sabem por outras informações que uma alegação de abuso é uma acusação falsa e feita deliberadamente. A síndrome não pode ser usada para decidir se a criança foi um não sexualmente abusada. Como consequência, tem valor probatório mínimo para tribunais quando da decisão a respeito da presença ou ausência de abuso sexual […] Um problema adicional com a SAP é que virtualmente todo sintoma descrito por Gardner como evidência de sua presença e consequentes falsas alegações contra o genitor acusado é aberta a interpretações opostas’. Após revisar pesquisas relevantes, Faller conclui: ‘Nenhum dado é providenciado por Gardner para apoiar a existência da síndrome e suas dinâmicas propostas. Na verdade, os escritos clínicos e científicos de outros profissionais levam à conclusão de que alguns de seus aspectos estão errados e que outros aspectos representam uma visão minoritária.’” [5] Faller, K. C. (1998). The parental alienation syndrome: What is it and what data support it?Child Maltreatment, 3(2), 100–115

“O diagnóstico descreditado da ‘SAP’, à parte de sua invalidez científica, inapropriadamente pede ao tribunal que presuma que os comportamentos e atitudes da criança frente ao genitor que alega estar sendo ‘alienado’ não têm fundamento na realidade. Também desvia a atenção dos comportamentos do genitor abusivo, que pode ter diretamente influenciado as reações da criança por meio de agir de forma violenta, desrespeitosa, intimidadora, humilhante ou desprezível com relação à própria criança ou a seu outro genitor. A tarefa do tribunal é distinguir entre situações em que crianças criticam um dos genitores por que elas foram inapropriadamente manipuladas pelo outro (tomando cuidado para não se basear somente em indicativos sutis), e situações em que crianças têm sua própria base para criticismo ou medo de um genitor, o que provavelmente será o caso quando um dos genitores tiver praticado violência doméstica. Essas bases não se tornam menos legítimas porque o genitor abusado compartilha delas, e busca advogar pela criança vocalizando suas preocupações.” [6] National Council of Juvenile and Family Court Judges. (2006). Navigating Custody & Visitation Evaluations in Cases with Domestic Violence: A Judge’s Guide (2nd edition). Reno, NV: NCJFCJ.


4. Apresentar mais fontes:


5. Expor o tipo de gente que está defendendo a criminalização do genitor que pratica a “alienação parental” (ou seja, a mãe):


Já falei que no resto do mundo essa teoria é rejeitada?

O nome disso é ativismo pedófilo. Sim, isso existe, e é muito sério!

Se você tiver paciência, eu sugiro que leia este artigo excelente — e traduzido! — sobre as várias falhas nessa teoria nojenta.

Compartilhe! Ajude a difundir essas informações! Porque, por enquanto, o ativismo pedófilo está ganhando. Precisamos virar o jogo!

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Referências

[1] There has been no consistent empirical or clinical evidence that PAS is a valid syndrome or that the so called “alienator’s” behavior is the actual cause of the alienated child’s behavior towards the target parent (Walker et al, 2005). In fact, the majority of mental health and legal experts who have studied the issue consider PAS theory to be both erroneous and dangerous to the children involved.

[2] “Noting that custody and visitation disputes appear to occur more frequently when there is a history of domestic violence. Family courts often do not consider the history of violence between the parents in making custody and visitation decisions. In this context, the nonviolent parent may be at a disadvantage, and behavior that would seem reasonable as a protection from abuse may be misinterpreted as a sign of instability. Psychological evaluators not trained in domestic violence may contribute to this process by ignoring or minimizing the violence and by giving inappropriate pathological labels to women’s responses to chronic victimization. Terms such as `parental alienation’ may be used to blame the women for the children’s reasonable fear or anger toward their violent father.” (p. 100).

[3] “According to Bruch, the deficiencies in PAS theory are multiple. In addition to its lack of scientific support, Bruch notes the following problems:
 First, Gardner confounds a child’s developmentally related reaction to divorce and high parental conflict (including violence) with psychosis. In doing so, he fails to recognize parents’ and children’s angry, often inappropriate, and totally predictable behavior following separation.
 Second, possibly as a consequence of these errors and his tail-of-the-elephant view, Gardner vastly overstates the frequency of cases in which children and custodial parents manufacture false allegations or collude to destroy the parent-child relationship.
 Third, in this fashion, PAS shifts attention away from the perhaps dangerous behavior of the parent seeking custody to that of the custodial parent. This person, who may be attempting to protect the child, is instead presumed to be lying and poisoning the child. Indeed, for Gardner , the concerned custodial parent’s steps to obtain professional assistance in diagnosing, treating, and protecting the child constitute evidence of false allegations.
 Fourth, Gardner believes that, particularly in serious cases, the relationship of an alienated child with the rejected parent will be irreparably damaged, probably ending for all time,
 Fifth, as these sources suggest, Gardner ‘s proposed remedy for extreme cases is unsupported and endangers children”

[4] While Gardner ‘s theories about PAS and mass sexual abuse hysteria have been widely criticized, his views on bona fide child sexual abuse and his treatment recommendations for working with incestuous families have largely been ignored. This article provides an in-depth exploration of Gardner ‘s views on pedophilia and his therapeutic approach to working with families in which a child has been molested by a parent.

[5] This article describes proposed characteristics and dynamics of PAS, and the methods used to document its presence. Research data related to various tenets of the syndrome are then reviewed. Dr. Faller notes that

“The parental alienation syndrome is a nondiagnostic syndrome. It is only useful for mental health professionals in explaining the symptom presentation if they know from other information that an abuse allegation is a deliberately made, false accusation. The syndrome cannot be used to decide whether the child has been sexually abused. As a consequence, it is of little probative value to courts in making decisions about the presence or absence of sexual abuse …. An additional problem with the parental alienation syndrome is that virtually every symptom described by Gardner as evidence of its presence, and consequent false charges against the accused parent, is open to opposing interpretations” (p. 111).

After reviewing the relevant research Faller concludes:

“No data are provided by Gardner to support the existence of the syndrome and its proposed dynamics. In fact, the research and clinical writing of other professionals leads to a conclusion that some of its tenets are wrong and that other tenets represent a minority view” (p. 112).

[6] “The discredited “diagnosis” of “PAS” (or allegation of “parental alienation”), quite apart from its scientific invalidity, inappropriately asks the court to assume that the children’s behaviors and attitudes toward the parent who claims to be “alienated” have no grounding in reality. It also diverts attention away from the behaviors of the abusive parent, who may have directly influenced the children’s responses by acting in violent, disrespectful, intimidating, humiliating and/or discrediting ways toward the children themselves, or the children’s other parent. The task for the court is to distinguish between situations in which children are critical of one parent because they have been inappropriately manipulated by the other (taking care not to rely solely on subtle indications), and situations in which children have their own legitimate grounds for criticism or fear of a parent, which will likely be the case when that parent has perpetrated domestic violence. Those grounds do not become less legitimate because the abused parent shares them, and seeks to advocate for the children by voicing their concerns.