Pelo menos desde a revolução sexual nos anos 1960, a Esquerda percebe o número de feministas entre eles.

Mas expurgar essas mulheres arrogantes é um desafio. Degradar feministas abertamente é arriscado: pode ser encarado como misógino e cede terreno à questões as quais a Esquerda gosta de chamar de suas — como o direito ao aborto.

Infelizmente, crimes globais masculinos como incesto, estupro, prostituição, violência doméstica, mutilação genital feminina e ataques com ácido, tornam a causa feminista mais justificada e popular até demais. Portanto, a Esquerda está presa porque tem que marginalizar de forma secreta o movimento político de resistência à supremacia masculina e sua violenta guerra contra as mulheres e crianças.

Marxistas, pacíficos, verdes, queers, libertadores de animais e alguns grupos anti-racistas, ao longo de três décadas, estiveram notavelmente unidos em expulsar feministas da Esquerda. Todos concordam que as preocupações das feministas são mundanas e manchadas de vergonha, como o envelhecimento e a pobreza. Elas são desagradáveis, porque focam em crianças e desviam-se de questões “sérias” como ateísmo, proliferação nuclear e destruição ecológica.

A missão do feminismo de desmantelar os direitos masculinos é ofensiva e inconcebível como projeto político, mesmo entre aqueles que contestam o direito de comer carne ou acumular capital. As prioridades feministas também podem ser inconvenientes para líderes masculinos adorados: a Esquerda chora o destino de Roman Polanski e Dominique Strauss-Kahn, ignora a filha de Woody Allen e defende Norman Mailer e Allen Ginsberg.

As táticas dos militantes de Esquerda contra as feministas são politicamente sofisticadas, e estão crescendo a olhos vistos. As evidências das ciências sociais da violência masculina contra mulheres e crianças se acumularam ao longo dos anos, suas vítimas estão cada vez mais organizadas e instituições internacionais têm sido notavelmente receptivas aos argumentos feministas. Nesse tipo de clima, ostracizar, desacreditar e ridicularizar feministas está cada vez mais difícil.

A Esquerda, no entanto, conseguiu expulsar feministas de suas fileiras com mais sucesso nos dias atuais do que em qualquer momento pós Segunda Guerra Mundial. Primeiro, colocando as mulheres umas contra as outras, ao transformar uma demanda feminista em bastarda, e, depois, ao torna-la algo de cunho social ao qual mulheres dissidentes são difamadas, a Esquerda provou que isso é uma fórmula vencedora.

A primeira vitória da Esquerda ocorreu na década de 1980. Ao longo dessa década, a oposição feminista à pornografia estava começando a ganhar forças, sendo tratada com a devida importância. No entanto, como resultado, várias feministas foram expulsas por se recusarem a aderir à recente idéia da revolução sexual que pregava que a pornografia era uma expressão da liberdade política das mulheres.

Em 1987, Andrea Dworkin escreveu que a Esquerda “não pode ter suas prostitutas e suas políticas também” — e, posteriormente recebeu a marca de arqui-inimiga, junto com Catherine Mackinnon. Dowrkin e sua classe foram expulsas, e seu trabalho em apoio às mulheres abusadas do mundo nunca atraiu o amplo público progressista. A indústria global do sexo foi a beneficiaria global dessa vitória contra as feministas na década de 1980.

Feministas da geração subsequente foram derrotadas, na década de 1990, novamente por uma tática esquerdista, mas dessa vez o alvo foi uma longa campanha de feministas abolicionistas da prostituição, invertendo a demanda principal. Ao invés de escravidão sexual, a esquerda vendeu a imagem da prostituição como forma de trabalho para as mulheres e uma forma de divertimento para os “clientes”. Feministas que não engoliram essa recém concebida ideia de “trabalho sexual” foram expulsas e mulheres foram recompensadas por perseguirem essas mulheres. A acadêmicas super estrelas Martha Nussbaum e Ueno Chizuko, foram duas das muitas que entraram nessa fantasia.

Prostituição foi uma escolha particularmente cínica para a Esquerda dos anos 1990; antes dessa época, a grande oposição à prostituição foi seu pilar central. O Manifesto do Partido Comunista de 1848 pedia a “abolição da comunidade de mulheres nascidas da… prostituição pública e privada”.

Mas, no século XXI, tanto a prostituição quanto a pornografia perderam parte de sua força como questão central; os horrores e as ressacas da indústria do sexo eram e são muito fortes.

A Esquerda, nos dias atuais, tem conseguido um expurgo de suas fileiras, ao comparar com sucessos das décadas de 1980 e 1990. O jogo político ainda é tática de escolha, mas a exigência de lealdade das mulheres é nova.

O bastardo transgenerismo pega a ideia central feminista de que “mulher” é uma categoria social definida politicamente, gerada pela violência masculina e pela exclusão, expropriação e colonização de seres humanos femininos. Processada como uma questão de cunho progressista, essa percepção é distorcida de forma no meio esquerdista que torna “mulher” uma “identidade” humana flexível com a qual qualquer um pode se identificar — até mesmo seres humanos adultos racionais.

Ao invés de designar membros da classe social subordinada, “mulher” é um sentimento que pode inchar o seio de qualquer homem. Agindo de acordo com esse sentimento, os homens podem adotar roupas e comportamentos estereotipados por sexo, e os ouros devem validar essas caricaturas. Pronomes femininos devem ser usados, e leis devem ser editadas para reconhece-los como mulheres, não como um grupo historicamente vulnerável, mas como produto de pensamentos e sentimentos de homens.

O expurgo esquerdista de mulheres que se recusam a declarar lealdade publicamente a essas ideias transgeneras está alto. A “mulher” assume a forma de “não-plataformizada” em eventos feministas, como palestras, petição assinada contra feministas em locais de conferência, e assédio público e ridículo de dissidentes do lobby, pedindo que mulheres sejam removidas de empregos e posições públicas.

Janice Raymond, autora de: O Império Transexual: Construindo Ela nEle, ainda é alvo da Esquerda de maneira desproporcional. Sheila Jeffreys permanece com o mesmo destino desde a publicação de 2014: Gênero Machuca: Uma Análise Feminista sobre as Políticas Transgênero. Julie Bindel escreveu uma série de artigos criticando o existencialismo e a homofobia dos transgêneros, e por seus esforços recebe amaças de morte e estupro. Cathy Brenan manteve dados por se tratarem de legislação relacionadas a transgêneros, casos criminais e relatórios policiais.

Mais recentemente Germaine Greer usou os meios de comunicação social para tratar assuntos como assédio e exclusão social aos quais ela está sujeita por se recusar a reconhecer “mulheres” trans como mulheres.

Seus comentários são notáveis porque ela tenta apoiar o transgenerismo, mas aborda a questão central da misoginia da esquerda, que motiva sua motivação ideológica.

Em sua discussão, Greer mostra diversas vezes o ódio das sociedades por mulheres, mais especificamente às idosas ocidentais, e pede aos espectadores que “tentem ser uma mulher velha” e “tentem correr com os seios caídos pela rua”, em entrevistas sobre o descontentamento dos transgêneros por não serem reconhecidos como mulheres.

Essa comparação dos sentimentos feridos de homens com violência, pobreza, ridicularização, repulsa e apagamento social que a mulheres mais velhas inevitavelmente suportam está no cerne da misoginia da Esquerda: nunca na história vimos um movimento social progressista de base ampla dedicado a defender os direitos de seres humanos que são desvalorizados em termos sexuais masculinos por não terem mais seios alegres ou rostos jovens. Embora essas mulheres sejam as mais pobres e desprezadas de todos os grupos sociais, Greer nos lembra que, ao invés de nos preocuparmos com elas, nos preocupamos em não ferir os sentimentos de homens que embarcam em práticas extremas de beleza impostas às mulheres e ainda os defendemos como “uma mulher que é melhor do que uma mulher nascida mulher”. Em outras palavras, qualquer pessoa é preferível a uma mulher idosa, mesmo que seja um homem desfilando como se fosse uma.

O transgenerismo não é de fato um movimento político motivado por preocupações progressistas — é apenas a arma mais recente na batalha da esquerda contra o feminismo. Mulheres como Greer, Raymond, Bindel e Brennan, que se preocupam autenticamente com a condição das mulheres que estão no fundo da pilha, são feministas que estão expurgadas na versão do século XXI de perseguição da esquerda.

Greer, porém, é politicamente esclarecida por insistir que seu público reconheça o ageísmo misógino que existe em perguntas sobre trangenerismo. Esse é um argumento que feministas devem manter. O ódio às mulheres da Esquerda tem dificuldade em se manter oculto quando ela é confrontada a respeito da vida real das mulheres idosas, mesmo quando lança poeira sobre o “cis-sexismo” e as “identidades fluidas”.

Se as cunhas políticas são a moeda que a Esquerda usa para negociar, vamos responder com a nossa a respeito do ageísmo misógino. Será interessante ver o que flutua na superfície.


Texto de Caroline Norma, publicado em 28/10/2015, original pode ser lido aqui. 

Caroline Norma leciona na Escola de Estudos Globais, Urbanos e Sociais na Universidade RMTI.