Katharina Oguntoye, Audre Lorde e May Ayim, por Dagmar Schultz

23 de maio de 1984
Berlim, Alemanha Ocidental

Quem são elas, as mulheres alemãs da diáspora? Onde nossos caminhos se cruzam como mulheres racializadas — para além dos detalhes das nossas opressões particulares, embora certamente não fora das referências desses detalhes? E onde nossos caminhos divergem? E o mais importante: o que podemos aprender com nossas diferenças conectadas que seja útil para ambas, afro-alemãs e afro-americanas?

Afro-alemã. As mulheres disseram que nunca ouviram esse termo antes.

Eu perguntei a uma de minhas alunas negras como ela pensava sobre si enquanto crescia. “A coisa mais gentil pela qual nos chamavam era ‘bebês da guerra’”, ela disse. Mas a existência da maioria dos alemães negros não tem nada a ver com a Segunda Guerra Mundial e, de fato, remonta a muitas décadas antes. Tem uma mulher negra alemã em minha classe que traçou sua ascendência afro-alemã até a década de 1890.

Para mim, afro-alemã significa os rostos radiantes de Katharina e May, em conversas animadas sobre a terra natal de seus pais, as comparações, as alegrias, os desapontamentos. Significa minha alegria de ver outra mulher negra entrar na minha aula, sua reticência aos poucos se dissipando, enquanto ela explora uma nova consciência de si, ganha um novo modo de pensar sobre si mesma em relação a outras mulheres negras.

“Eu nunca pensei em ‘afro-alemã’ como um conceito positivo antes”, ela disse, falando da dor de ter que viver uma diferença que não tem nome, falando por meio do poder crescente forjado pelo autoexame daquela diferença.

Sou estimulada por essas mulheres, pelos seus florescentes sensos de identidade, que começam a dizer de uma forma ou de outra: “agora, deixe-nos ser nós mesmas como nos definimos. Não somos uma invenção da sua imaginação ou uma resposta exótica aos seus desejos. Não somos um botão no bolso do seus anseios”. Eu posso ver essas mulheres como uma força crescente para uma mudança internacional, concertadas com outras afro-europeias, afro-asiáticas, afro-americanas.

Nós somos as pessoas hifenizadas* da diáspora, cujas autodefinidas identidades não são mais segredos vergonhosos nos países de nossa origem, mas sim declarações de força e solidariedade. Nós somos uma frente cada vez mais unida, da qual o mundo ainda não ouviu falar.


* Termo que Audre Lorde usa para se referir a pessoas que possuem dupla identidade cultural e que normalmente são definidas com algum prefixo que usa hífen, como “afro-americana”.


Tradução de Audre Lorde, trecho do livro “A Burst of Light” [Uma Explosão de Luz, em tradução livre]