pedofilia universidade

“Interesse pedófilo é natural e normal para machos humanos”, disse a apresentação. “Pelo menos uma minoria considerável de machos normais gostaria de fazer sexo com crianças… Machos normais se excitam com crianças”.

Alguma área amarelada dos anos 1970 ou início dos anos 1980, época de celebridades abusivas e a infame PIE, o Paedophile Information Exchange (Troca de Informações sobre Pedofilia)? Não! Comentadores anônimos em algum site clandestino? De novo não!

A afirmação de que pedofilia é “natural e normal” não foi feita três décadas atrás, mas em julho de 2013. Não foi feita de maneira privada, mas sim como uma das reivindicações centrais em uma apresentação acadêmica, convidado por organizadores, muitos sendo especialistas chave no campo em uma conferência feita pela Universidade de Cambridge.

Outra apresentação tinha como título: “Liberando a pedofilia: uma análise discursiva” e “Perigos e diferenças: os riscos da hebefelia”.

Hebefilia é a preferência sexual para crianças no início da puberdade, tipicamente entre 11 e 14 anos.

Outro participante, um bastante entusiasta no evento, era um tal de Tom O’Caroll, um abusador infantil com múltiplas acusações, que há muito tempo faz campanha para uma legislação que permita sexo com crianças, e é antigo líder da Paedophile Information Exchange. “Maravilhoso!”, ele escreveu em seu blog após a conferência. “Foram poucos raros dias em que pude me sentir relativamente popular!”

Depois do relatório sobre Jimmy Savile e a condenação de Rolf Harris, a Bretanha passou por uma convulsão de ansiedade sobre abuso infantil nos anos 1980

Em julho de 2014, após a condenação de Rolf Harris, o relatório sobre Jimmy Savile e as reivindicações de que um estabelecimento estava protegendo um ministro agressor sexual do gabinete de Margaret Tatcher, a Grã Bretanha teve uma convulsão de ansiedade a respeito do abuso infantil da década de 1980. Mas há uma ameaça despercebida em meio ao furor, que é muito mais atual: tentativas do meio acadêmico para empurrar o sexo de adultos com crianças como se fosse aceitável.

Jimmy Savile explorou a confiança de uma nação para satisfazer seus próprios vis interesses

Um fator chave do que aconteceu décadas atrás nos camarins da BBC, nas alas do NHS e, alegadamente, nos corredores do poder não foram apenas falhas institucionais ou “conspirações” da elite, mas sim um clima de enorme tolerância a práticas que nos dias de hoje nos aterrorizam.

Com a pílula anticoncepcional, a descriminalização da homossexualidade e a quebra do tabu do sexo antes do casamento, os anos 1970 foi uma era de rápida emancipação sexual. Muitos liberais, claro, viram a “libertinagem infantil” através da retórica cínica da PIE. Para outros da Esquerda, sexo com crianças era apenas outro limite repressor que deveria ser eliminado — e alguns dos principais argumentos vieram da academia.

Em 1981, um editor respeitável, Batsford, publicou “Perspectivas da Pedofolia”, editado por Brian Taylor, um sociólogo conferencista da Universidade de Essex, com a desafiadora introdução do Dr Taylor sobre o que ele chama de “preconceito” contra abuso infantil. Perturbadoramente, o público alvo do livro era “assistentes sociais, assistentes comunitários, oficiais de justiça e cuidadores de crianças”.

As pessoas, escreveu Dr Taylor, “geralmente pensam que pedófilos são homens tão doentes ou maus que ficam à espreita nas escolas durante o recreio na esperança de tentar bestialidades inespecíficas com crianças inocentes. ” Isso, tranquilizou ele, era apenas um “estereótipo, impreciso e inútil”, no imaginário popular, diante das “realidades empíricas do comportamento pedófilo.” Ora! A maioria das relações sexuais entre adultos e crianças ocorrem na família!

As perspectivas da maioria, apesar de não de todos os contribuidores, parecem fortemente pró-pedofilia. Ao menos dois eram membros da PIE e pelo menos um, Peter Righton, (que foi, incrivelmente, diretor de educação no Instituto Nacional de Serviço Social) foi mais tarde condenado por crimes sexuais contra crianças. Olhando sob o ponto de vista de hoje, o que é fascinante em “Perspectivas da Pedofilia”, é que pelo menos dois de seus autores são acadêmicos ativos e influentes até hoje.

À esquerda Professor Plummer, e à direita antigo cabeça da PIE, Tom O’Carroll

Ken Plummer é professor emérito da Universidade de Essex, onde ele tem um escritório e ministra cursos, o mais recente foi dado no mês passado. “O isolamento, segredo, culpa e angustia de muitos pedófilos”, ele escreveu em “Perspectivas da Pedofilia”, “não são intrínsecos ao fenômeno, mas derivados da extrema repressão social colocada nas minorias…”

“É dito a pedófilos que eles são aliciadores e estupradores de crianças; eles sabem que suas experiências são, com frequência, amáveis e tenras. É dito a eles que crianças são puras e inocentes, desprovidas de sexualidade; eles sabem tanto de suas próprias infâncias quanto das crianças com quem se relacionam, que esse não é o caso. ”

Em 2012, o Professor Plummer publicou em seu blog pessoal um capítulo que ele escreveu para outro livro, “Intimidade Intergeracional Masculina”, em 1991. “Como a homossexualidade se tornou menos aberta para se sustentar um pânico moral, o novo pária que é o ‘estuprador de crianças’ se tornou o último folclore do mal”, ele escreveu. “Muitos pedófilos adultos dizem que crianças procuram ativamente parceiros sexuais… ‘infância’ em si mesma não é algo biológico, e sim um produto do meio social.”

O professor Plummer confirmou ao The Sunday Telegraph que era membro da PIE com a intenção de facilitar sua “pesquisa”. Ele disse: “Eu nunca desejaria que nada do meu trabalho fosse considerado justificativa para se fazer ‘coisas ruins’ — e considero toda sexualidade coercitiva, abusiva e explorada como uma ‘coisa ruim’. Lamento se isso impactou negativamente alguém, ou se isso o encorajou.” No entanto, ele não respondeu quando perguntado se mantinha as opiniões que expressou nos anos 1980 e 1990. Um porta voz da Universidade de Essex afirmou que o trabalho do professor Plummer “não expressou apoio a pedofilia” e citou o estatuto da Universidade, que deu aos acadêmico “liberdade dentro da lei para expressar opiniões controversas e impopulares sem se colocar em risco.”

Graham Powel é um dos mais prestigiados psicólogos do país, que no passado foi presidente da Sociedade Psicológica Britânica, e atualmente trabalha dando apoio psicológico para a Serious Organised Crime Agency, o Esquadrão Nacional contra o Crime, a Polícia Metropolitan, a Polícia de Kent, a Polícia de Essex e a Internet Watch Foundation.

Em “Perspectivas da Pedofilia”, no entanto, ele foi co-autor de um capítulo que diz: “Na mente pública, a questão da pedofilia é tratada geralmente como algo traumático e que tem consequências duradouras e até tardias para a vítima. A evidência que consideramos aqui não apoia essa visão… precisamos perguntar não porque os efeitos da ação pedófila são tão grandes, mas sim porque são tão pequenos.”

O capítulo admite que houveram “problemas metodológicos” nos estudos em que os autores se basearam e que “deixam nossas conclusões um tanto obscuras”. O Dr Powel disse ao The Sunday Telegraph semana passada “o que escrevi estava completamente errado e é uma questão de profundo pesar que isso possa ter tornado as coisas mais difíceis (para as vítimas).” Ele concluiu: “A literatura (evidência científica) era tão ruim em 1981, que as pessoas simplesmente não percebiam o que estava acontecendo. Faltou compreensão no mundo acadêmico”. Powel disse que nunca foi membro da PIE.

Em outros campos acadêmicos, com menos desculpas, a falta de entendimento parece estar se reafirmando. A conferência da Universidade de Cambridge, em 4 ou 5 de julho do ano passado, foi sobre a classificação dessa sexualidade no DSM, o manual padrão internacional de psiquiatria, usado pela polícia e pelo judiciário.

Após dura batalha na Associação Americana de Psiquiatria (APA, sigla em inglês), que produz o manual, a proposta de incluir a hebefelia como um transtorno na nova edição foi derrubada. A proposta surgiu porque a puberdade nas crianças está começando cedo desde as últimas décadas e como resultado, foi argumentado, que a definição conhecida de pedofilia — atração sexual por crianças pré-púberes — não contempla toda a parte das crianças.

Ray Blanchard, professor de psiquiatria da Universidade de Toronto, que liderou o grupo de trabalho na APA sobre o tema, disse que ao menos que se não fosse encontrada uma outra maneira de incluir a hebefelia no manual, isso era “equivalente a afirmar que a posição oficial da APA é que a preferência sexual por crianças prococemente pré púberes é normal. ”

O professor Blanchard foi criticado por um palestrante na conferência de Cambridge, Patrick Singy, da Faculdade Union, de Nova Iorque, que disse que hebefelia poderia ser usado de maneira abusiva para dizer que criminosos sexuais são “doentes mentais” sob a “Lei do Predador Violento” dos EUA até mesmo depois que eles cumprirem suas sentenças.

Mas talvez a apresentação mais controversa foi a de Philip Tromovitch, professor da Universidade Doshisha no Japão, que estimou em seu estudo sobre a “prevalência da pedofilia” que “a maioria dos homens são pedófilos ou hebefilicos”, e que “o interesse pedófilo é normal e natural nos machos humanos.”

O’Carroll, antigo líder da PIE, ficou exaltado, e postou em seu blog que se juntaria ao professor Tromovitch e um colega para beber uns drinks depois da conferência. “A conversa fluiu de maneira agradável, com os drinks e o horizonte do Rio Cam”, ele disse.

É justo dizer que a visão de Tromovitch não representa a maioria da opinião acadêmica. É provável, também, que alguns acadêmicos protestem sobre a “estigmatização” de pedófilos como um contra-ataque à dureza das leis de crimes sexuais como qualquer outra coisa. Finalmente, claro, à inquirição acadêmica é suposto questionar a sabedoria convencional e lidar rigorosamente com as evidências, independente se as conclusões que chegam a nós são populares.

Mesmo assim, agora realmente não é pouca a evidência sobre os males causados por abuso infantil. Sobre o último frenesi sobre os crimes do passado, vale a pena observar se poderíamos, no futuro, voltar ao clima intelectual que os permitiu.


Texto de Andrew Gilligan, 05/07/2014, original pode ser lido aqui.