Esse foi o principal discurso das atividades do Mês da História da Mulher da Universidade da Flórida (Gainesville) em 27 de março de 1996. Foi publicado em Frankly Feminist, “Uma coleção de escritos da Hudson Valley Woman 1991–1995” de Carol Hanisch.
Nós sempre ouvimos que aqueles que não aprendem com a história tendem a repetir seus erros. É mesmo verdade! Mas, neste mês da história da mulher, quero falar um pouco sobre o que foi feito corretamente, a partir da experiência — a história — pela qual vivi e ajudei a fazer.
Quando era estudante, no início dos anos 1960, na Drake University, em Des Moines — Iowa, suponho que eu era muito parecida com vocês. Mas as regras eram bem diferentes para as mulheres. Não tínhamos permissão para usar calças na aula, a menos que estivesse um frio abaixo de zero. As mulheres foram obrigadas a viver nos dormitórios do campus até os 23 anos de idade. Os homens não. As alunas tinham que estar no dormitório às dez da noite durante a semana e à meia-noite nos finais de semana. Os homens não. Lembro-me várias vezes de ficar muito irritada quando os oradores chegavam ao campus e as mulheres precisavam voltar aos dormitórios após o discurso, enquanto os estudantes do sexo masculino ficavam conversando com o orador. Em vez de exigir o que realmente queríamos — o fim de todas essas regras para as mulheres –, pedimos educadamente ao reitor dos estudantes que estendesse um pouco as nossas horas. Tínhamos muito que aprender.
Depois da formatura, me ofereceram um emprego de verdade como repórter no escritório da United Press International Des Moines — acho que fui a primeira mulher a ocupar esse cargo lá. Minha área era a legislatura do estado de Iowa. Algumas semanas antes do início da sessão, outro repórter — um homem com ainda menos conhecimento e capacidade de escrever do que eu — foi contratado e ele recebeu minha função e eu fui designada para a redação. Fui nomeada repórter legislativa alternativa e, na primeira vez em que apareci no estacionamento da imprensa do Capitólio, o atendente não me deixou estacionar porque ele não acreditava que eu era realmente repórter, porque eu era mulher. Quando finalmente entrei, descobri que os legisladores não queriam conversar com uma repórter. Tudo isso também era feito de forma descarada, já que não havia movimento feminista para impedir. Desgostosa e desesperada, fui me juntar ao Movimento pelos Direitos Civis do Mississippi, que estava travando e ganhando uma grande luta contra o racismo e a segregação. Imaginei que, se não pudesse escrever sobre eventos importantes, iria ajudar a fazer a história. Naquela época, eu não fazia ideia de que essa decisão mudaria completamente a direção da minha vida.
Quero deixar bem claro que não iniciamos o Movimento de Libertação das Mulheres na década de 1960 porque odiávamos os homens em si, mas porque odiávamos ser oprimidas. Os homens costumavam exercer a opressão e queríamos que eles parassem com isso. Queríamos que eles nos tratassem com respeito, saíssem da frente e que ficássemos lado a lado em nosso próprio lugar, parcialmente para que homens e mulheres pudessem realmente se amar — sexualmente e como camaradas — como iguais. Acreditávamos que nossa libertação era do interesse da maioria dos homens a longo prazo e também do nosso, mesmo que isso significasse uma luta séria para fazê-los abandonar sua posição privilegiada. Sabíamos, por exemplo, que se os homens assumissem a mesma responsabilidade por seus filhos, perderiam algum tempo livre e teriam que trabalhar mais, mas ganhariam algo muito mais precioso: um relacionamento próximo e bom com a família. Alguns homens veem isso mais claramente do que outros e querem apoiar o feminismo. Temos que ensiná-los como e por que dar esse apoio, assim como muitas vezes precisamos ensiná-los a fazer amor de uma maneira satisfatória ou a como realmente limpar o banheiro. Além disso, os trabalhadores são nossos aliados em potencial na luta contra nossos opressores capitalistas.
É muito difícil encontrar as palavras certas para falar dos anos mais bem-sucedidos do Movimento de Libertação das Mulheres no final dos anos 60 e início dos anos 70, porque os termos e conceitos com os quais todos tinham pelo menos uma familiaridade passageira foram cooptados, distorcidos, enterrados ou até virados do avessado. Espero que, se disser “revolução”, por exemplo, você saberá que não estou falando da tomada de Gingrich e das forças da direita cristã! O resultado da distorção desses conceitos é que impede muitas mulheres de saber por que deveriam se preocupar com esses termos e com o rico tesouro de ideias que possuem. Não estou tentando sustentar os anos 60 aqui como um tipo de ideal que você nunca poderia alcançar. Muito pelo contrário. Estou aqui para falar sobre sua herança radical, porque acredito que você pode usá-la para tornar a história ainda melhor do que nós.
Chamamo-nos de “radicais” e “liberacionistas das mulheres” com muito orgulho. Por radical, não queremos dizer extremo; queríamos dizer “no coração” ou “na raiz”. Queríamos chegar ao cerne da questão, entender a raiz de nossa opressão como mulheres, para que soubéssemos lutar para vencer, não apenas lutar para aparecer ou para poder dizer que estávamos fazendo alguma coisa. Queríamos tanto para nós e nosso sexo; não estávamos dispostas a aceitar meras “migalhas da mesa da liberdade”, como costumava dizer o Movimento dos Direitos Civis.
Precisamos sempre lembrar que cada centímetro de liberdade que desfrutamos hoje foi disputado e conquistado por mulheres unidas na luta. Por mulheres que, como nós, queriam a libertação acima de tudo, porque era a única maneira de conseguir o que queríamos e precisávamos — realizar nossos sonhos.
O radicalismo sempre foi e ainda é crucial para essa luta. Há muita confusão sobre o que é e o que não é radical. A compreensão de uma ideia como “radical” não ocorre da noite para o dia ou do nada. Não vem dos livros, mas da experiência em lutas pela liberdade. Isso vem particularmente da experiência real da teoria, estratégia e tática radicais, de realmente entrarmos na batalha.
Sem teoria radical, não haveria movimento de libertação das mulheres. Sem estratégias e táticas radicais, não temos esperança de abolir a supremacia masculina. A história — tanto a história do Movimento de Libertação das Mulheres quanto a história do progresso humano — mostra que sem radicais não há progresso para as mulheres ou para as massas de pessoas. Kathie Sarachild e outras explicam isso bem no livro Redstockings, Feminist Revolution.
O teste da teoria radical é: “Isso é verdade no mundo real?”. É uma verdade profunda que vai até as raízes, a fonte e o cerne de uma questão? O que é falso não pode ser considerado radical. Quando falamos de teoria feminista radical, queremos dizer a verdade profunda e radical sobre a situação das mulheres. Quando aplicamos “radical” ao Movimento de Libertação das Mulheres, queremos dizer a verdade profunda e radical sobre nossa luta pela libertação.
Agora, existem outras verdades — profundas e radicais — sobre outras coisas neste mundo além das mulheres e da libertação de mulheres. Mas devemos ter cuidado para não confundi-las com as mulheres e a libertação das mulheres. Por exemplo, muitas pessoas — inclusive as mulheres — tentam redefinir o feminismo radical para significar a luta contra todas as injustiças da sociedade, colocando-as sob o guarda-chuva feminista e, portanto, tornando o feminismo sem sentido. Dizer que exploração econômica, pobreza, racismo, paz ou meio ambiente são questões feministas não é, em primeiro lugar, verdadeiro. São questões que dizem respeito tanto a homens quanto a mulheres e devem ser resolvidas por homens e mulheres trabalhando juntos. O efeito de chamar essas outras questões de feministas é que os problemas reais que nos afetam como sexo são deixados de lado. NOSSOS problemas são diluídos ou até perdidos. As mulheres acabam lutando por tudo, menos por nossa própria liberdade. E isso tira os homens da reta, porque esses são problemas que os afetam e que eles deveriam estar combatendo. Se o Movimento de Libertação das Mulheres não lutar pela libertação das mulheres, quem o fará?
Nosso objetivo declarado está no próprio nome: Movimento. De Libertação. Das Mulheres. O encurtamento do nome para o movimento das mulheres às vezes é apenas negligência, mas muitas vezes é uma tentativa de redirecionar o impulso do feminismo radical e acalmá-lo. O objetivo de um “movimento de mulheres” pode ser praticamente qualquer coisa. O objetivo do Movimento de Libertação das Mulheres é claramente a libertação das mulheres. Lutar em grupos segregados como mulheres nessas outras questões — não importa quão cruciais elas sejam — é um passo atrasado e reacionário, porque nos torna uma espécie de senhoras auxiliares da verdadeira luta. Quando lutamos em questões gerais, fazemos isso como pessoas, não como mulheres.
Por outro lado, quando nos separamos em grupos apenas de mulheres para combater a supremacia masculina, é porque reconhecemos a necessidade de nos organizarmos fora do alcance do ouvido do opressor. Assim como os sindicatos, tivemos que lutar pelo direito de nos encontrar sem os chefes na sala. Algumas mulheres dizem que precisamos de “espaços livres” de homens para combater essas questões gerais. Mas nunca evitamos os confrontos com os homens no movimento geral. Para nós, lutar pela igualdade nos grupos do movimento fazia parte da luta pela libertação das mulheres. Formamos grupos de mulheres dentro desses grupos para lidar com a supremacia masculina que estava nos impedindo de participar plenamente.
Portanto, a teoria feminista — para ser radical — deve ser verdadeira, honesta e sem medo de suas próprias conclusões. Deve revelar a posição das mulheres como realmente somos. Ela testa todas as premissas em contraste com o que sabemos, o que podemos aprender compartilhando nossas próprias experiências, e não o que um homem, um livro ou mesmo uma mulher nos diz que é verdade. No Movimento de Libertação das Mulheres, sempre confiamos muito em nossas próprias experiências e sentimentos para estudar nossa posição na sociedade e desenvolver nossa teoria e estratégia de mudança. Chamamos isso de ALAVANCAR CONSCIÊNCIAS. Estávamos firmemente comprometidas em encontrar a verdade sob a massa de mentiras sobre as mulheres e contá-la da maneira mais clara possível. Um dilúvio de regras sufocantes sobre como fazer a conscientização viria mais tarde, mas a princípio a única regra era dizer a verdade para que nossa análise se baseasse na verdade da vida das mulheres.
Colocamos na vanguarda de nossa luta as formas de opressão que todas as mulheres experimentam e da qual todos os homens se beneficiam, para que elas entendam que mesmo o melhor dos homens não é bom o suficiente e é necessária uma verdadeira mudança fundamental nas relações de poder. Essas questões — puericultura pública, homens dividindo as tarefas domésticas, bom sexo, respeito, aborto, roupas restritivas e padrões de beleza — não eram necessariamente as mais sensacionais ou horríveis, ou para cortar o coração ou atrair a mídia. Quando discutimos e organizamos questões que não acontecem diretamente a todas as mulheres e que não são cometidas por todos os homens, como estupro ou violência contra mulheres, as apresentamos como parte de todo o cenário, e não como questões isoladas de outros aspectos da nossa opressão.
A conscientização nos ajudou a cortar a tendência — que todos nós temos até certo ponto — de substituir a realidade pela ilusão. É absolutamente necessário entender nossa situação, se quisermos mudá-la. É por isso que o (ato de) alavancar consciências veio de feministas radicais. Estávamos determinadas a examinar nossas vidas com base no que sabíamos e no que podíamos saber, sem olhar para algum pensamento positivo sobre uma idade de ouro do matriarcado quando as mulheres supostamente governavam o mundo.
Por meio da conscientização, aprendemos desde cedo que O PESSOAL É POLÍTICO, que muitos daqueles que pareciam ser nossos problemas e frustrações individuais eram realmente um problema social que era resultado do poder que os homens tinham sobre nós. Estar presa ao trabalho doméstico e à educação dos filhos, falta de aborto e cuidado dos filhos, sexo insatisfatório, códigos de aparência opressivos, padrões duplos e falta de respeito foram todos problemas políticos que resultaram na usurpação de nosso tempo, trabalho e energia mental e emocional. Portanto, argumentamos que cada mulher que resistia por si mesma, embora fosse muitas vezes necessário, não era suficiente para conquistar a liberdade. Teríamos que nos unir como os sindicatos haviam feito e como o movimento pela liberdade negra estava fazendo, para construir poder suficiente para mudar a sociedade como um todo, não apenas um homem de cada vez. Precisávamos de um forte movimento de libertação das mulheres que pudesse falar e agir com o poder de uma classe no interesse de todas as mulheres.
O “pessoal é político” é um daqueles conceitos que foram invertidos. Isso não significava que agir em nossas vidas pessoais — como repreender um homem por contar uma piada sexista — é um substituto eficaz para trabalhar coletivamente em um grupo para conquistar algum poder real.
Se o teste da teoria radical é a verdade, o teste da estratégia e da tática radicais é a eficácia. Agora, algumas pessoas pensam que “feminismo radical” significa pegar uma arma e atirar no primeiro machista que você vê. Não queremos limitar nossas táticas antes do tempo, mas parece óbvio que esse não é o caminho para fazer uma revolução feminista. Afinal, muitas de nós querem que os homens se moldem, não que desapareçam da face da terra.
Outros pensam que táticas radicais significam apenas marchar nas ruas. Embora essa seja certamente uma tática eficaz em muitas situações, estar nas ruas não é radical por si. Depende de por que estamos lá, e se estar lá é o que mais precisa ser feito naquele momento. Ser radical significa permanecer flexível e adequar nossas ações à situação concreta em que nos encontramos. Às vezes, a coisa mais eficaz a fazer pode ser recuar rapidamente e viver para lutar outro dia. Às vezes, a coisa mais militante e radical que uma pessoa pode fazer é simplesmente dizer as coisas como elas são. Precisamos aprender e usar velhas táticas comprovadas, bem como criar novas. Temos que ousar tentar as coisas, mas não de maneira individualista e não sem pensar nas coisas e entender o que estamos fazendo.
Acreditávamos e tentamos colocar em prática o slogan “A IRMANDADE É PODEROSA”, uma frase criada por Kathie Sarachild em 1968 na primeira ação da Radical Women de Nova York [na Brigada Jeanette Rankin em Washington, DC em janeiro de 1968]. Reconhecemos que a unidade das mulheres era necessária para um movimento político bem-sucedido. Alguns de nossos grupos tinham regras como não flertar ou mexier com o homem de outra irmã. Não ficávamos embaraçadas em exigir poder para as mulheres. Não caímos nisso de exigir o “empoderamento” covarde de mulheres individuais que tantas vezes vemos em pôsteres e títulos de livros. O empoderamento implica que uma mudança de atitude é suficiente, em vez de realmente colocar o poder nas mãos das mulheres. A irmandade é poderosa não significava apoio individual e acrítico a qualquer coisa que uma mulher fizesse, como aconteceu mais tarde. Estávamos conversando sobre poder político, poder social — a unidade para tomar o poder de determinar o que acontecia em e às nossas vidas.
Reconhecemos a necessidade de NOS ELEVAR ELEVANDO OUTRAS MULHERES. Não podíamos elevar nosso sexo apenas elevando a nós mesmas, porque enquanto uma mulher pudesse ser tratada como uma “estúpida”, toda mulher poderia. Nós éramos mulheres libertacionistas, não mulheres libertadas. Não nos considerávamos — ou aspirávamos a ser — supermulheres, mas a criar condições em que nenhuma mulher tivesse que ser supermulher para ter o que precisava, ter respeito, ter uma família e contribuir com a força de trabalho pública fora de casa.
NÓS DÁVAMOS NOMES AOS BOIS. Betty Friedan escreveu sobre “o problema que não tem nome” e nós o denominamos: supremacia masculina. Dissemos que os homens oprimem as mulheres, os brancos oprimem os negros, os chefes oprimem os trabalhadores, os ricos oprimem os pobres, pelas reais vantagens materiais que obtêm disso, não porque sofrêramos uma lavagem cerebral ou fomos socializados por uma entidade vaga chamada “sociedade”. Não falávamos sobre sexismo, racismo e exploração “percebidos”, como se eles talvez não existissem ou realmente não pudessem ser conhecidos. Não exigimos apenas “escolha”, mas sim “aborto gratuito sob demanda”. Dissemos as palavras que realmente queríamos dizer e que nos ajudavam a organizar. Isso não desligou as mulheres; elas responderam em massa, como depois do Miss America Pageant Protest, quando Ros Baxandall, uma das integrantes do Radical Women de Nova York, apareceu no programa David Susskind e disse: “Todos os dias na vida de uma mulher é um Miss America Pageant ambulante” e nós recebemos mais cartas do que podíamos responder. As mulheres responderam a um grupo que se chamava Mulheres Radicais de Nova York e escreveram: “Eu esperei por algo assim a minha vida toda”.
O Movimento de Libertação das Mulheres inicialmente teve bastante sucesso em expor o mito de que nossos problemas como mulheres estavam todos “na nossa cabeça”. Mostramos que eles vieram da sociedade supremacista masculina em que vivemos. Falar a verdade sobre sexo, amor, homens, trabalho, em grupos de conscientização e depois analisar nossas experiências nos levou a descobrir que as circunstâncias reais geralmente estavam na raiz, e não em alguma dificuldade psicológica. Fazíamos certas coisas não porque sofremos lavagem cerebral ou condicionamento, mas porque existiam punições reais por ousar ir contra as regras — escritas ou não-escritas. Se as mulheres usavam maquiagem, não era apenas porque sofremos uma lavagem cerebral pela publicidade, mas porque éramos forçadas a lidar com a pressão constante de homens e chefes para aparentar de certa maneira. Chamamos esse entendimento do por quê as mulheres agiam da maneira que agimos de LINHA PRÓ-MULHER. Como escrevi em “O Pessoal é Político” em 1969:
“O que [a linha pró-mulher] diz basicamente é que as mulheres são pessoas realmente legais. As coisas ruins que são ditas sobre nós enquanto mulheres são mitos (as mulheres são estúpidas), táticas que as mulheres usam para lutar individualmente (mulheres são vadias) ou são realmente coisas que queremos levar para a nova sociedade e queremos que os homens compartilhem também (as mulheres são sensíveis, emocionais). As mulheres como pessoas oprimidas agem por necessidade (agir como idiotas na presença de homens), não por opção. As mulheres desenvolveram excelentes técnicas de embaralhamento para sua própria sobrevivência (ser bonita e risonha para conseguir ou manter um emprego ou homem), que devem ser usadas quando necessário até que o poder da unidade possa tomar seu lugar. As mulheres são inteligentes para não lutar sozinhas (como são os negros e os trabalhadores). Estar em casa não é pior do que na corrida dos ratos do mundo do trabalho. Ambos são ruins. Mulheres, como negros, como trabalhadores, devemos parar de se culpar por nossos “fracassos”.”
A Linha Pró-Mulher mais tarde seria distorcida para apoiar a ideia reacionária de que as mulheres são inerentemente superiores aos homens. Durante a luta de um século pelo direito de voto das mulheres nos Estados Unidos, muitas feministas alegaram que as mulheres usariam seu voto para trazer moralidade, paz e harmonia ao mundo. Isso não aconteceu. As mulheres devem reivindicar seu direito de participar dos assuntos do mundo com base na justiça, não na pureza. Caso contrário, acabamos em uma nova prisão criada por nós mesmas. As mulheres são capazes de arrogância, crueldade, assassinato, abuso infantil, traição e trapaça, roubo e de serem soldados. Os homens são capazes de amar, cuidar, e de honestidade, humildade, fidelidade, justiça e desejo de paz. A questão complicada é como criamos uma sociedade na qual o positivo em todo o potencial humano é trazido à tona.
Como radicais, comprometemo-nos a mudar o mundo de uma maneira que dava esperança às pessoas e as atraía para se juntar a nós. As pessoas arriscavam ou abandonavam empregos, carreiras, amantes, lares, laços familiares, economia de vida, sanidade, segurança e, em alguns casos, a vida, por algo maior e mais importante que cada uma de nós como indivíduos.
Nós trabalhamos duro. Enquanto muitas de nós não pensávamos que a supremacia masculina — e o capitalismo e o racismo — seriam tão intransigentes quanto provaram ser, estávamos cientes de que seria necessário uma enorme quantidade de trabalho duro e sacrifício para melhorar nossas vidas. Incentivamos e estimulamos umas às outras a realizar o tipo de trabalho árduo que nos tornava eficazes. Com toda a sinceridade, não posso dizer que não houve competição no movimento, mas, como regra, nos deliciamos com o trabalho umas das outras. Quando alguém escrevia um artigo, apresentava uma nova ideia ou adotava alguma ação ousada, ficávamos emocionadas e inspiradas.
Colocamos nossa fé no “povo”. Acreditávamos que poderíamos nos unir em uma força forte o suficiente para eliminar todas as mentiras e medos, para educar ou forçar as pessoas a abandonar seus preconceitos, ódios e privilégios. Eu tenho que admitir que esta é uma das ideias que eu acho mais difícil de manter. O racismo, o sexismo, a arrogância de classe e o poder que permeiam nossa sociedade agora às vezes parecem insuperáveis. Mas então ouço falar de alguma luta pela liberdade, ou leio uma análise esclarecedora de alguma luta, ou o inimigo expõe sua fraqueza e estupidez e mostra que não é invencível, e fico pronta para voltar à luta. Às vezes, só preciso sentir a indignação e a raiva das pessoas que se manifestam contra a injustiça e penso: “É isso aí, vamos lá”.
Estas são apenas algumas, e principalmente muito genéricas, coisas que acredito que fizemos corretamente e que devemos construir para dar outro grande salto em frente, ou mesmo um grande passo. Nossos erros foram muitos e também precisamos entendê-los para não repeti-los.
Mas, para fazer isso de qualquer maneira significativa, precisamos fazer história novamente. Sei que toda vez que ouso fazer algo, aprendo algo importante. Às vezes, pode ser frustrante, doloroso ou confuso, mas cada passo — mesmo que seja pequeno ou não seja o sucesso que esperávamos que fosse — nos ensina algo. Lembro como foi difícil levantar e pendurar a faixa de libertação das mulheres dentro do salão de convenções no Miss America Protest. Fazer isso significava interromper o grande momento da saída da Miss América quando ela começasse seu discurso de despedida. Parecia uma coisa tão rude e terrível de fazer com essa mulher. E lembro-me de pensar: “Nós realmente temos que fazer isso?” Mas, enquanto estávamos ali, gritando “Liberdade para as mulheres — não há mais Miss América — libertação das mulheres”, um grande e maravilhoso sentimento libertador me ocorreu. Há um velho slogan dos anos 60 — “Ouse lutar; Ouse ganhar”. Nunca venceremos, a menos que ousemos lutar. Isso é um fato da vida. Você não pode avançar com a bunda sentada na cadeira.
Acho que uma das coisas mais importantes que o Movimento de Libertação das Mulheres pode fazer agora é se organizar em organizações eficazes. Já está bom de “faça suas coisas”. Nem tudo o que uma mulher faz em nome do feminismo é bom, e nem tudo o que um grupo feminista faz é bom. Algumas estratégias são mais eficazes que outras, e algumas até nos atrasam. No início de nosso movimento, éramos muito boas em alavancar consciências, mas deixamos de construir organizações contínuas com lideranças escolhidas e responsabilizáveis. Devemos levar ainda mais a sério nosso trabalho, realmente nos aprofundar e fazer a lição de casa. A tarefa de fazer uma revolução feminista será mais difícil do que qualquer uma de nós imaginava quando iniciamos o Movimento de Libertação das Mulheres, quase 30 anos atrás. Teremos que ser mais bem organizadas do que nossos opressores, mais determinadas, mais persistentes, mas temos décadas de história recente para estudar e séculos de luta feminista para nos guiar.
A DIREITA REACIONÁRIA
Quero dizer algumas palavras sobre a direita reacionária — que é uma redundância em termos, eu acho. Alguns dizem que “a direita está forte hoje, o fascismo está chegando e nos pegará se não aplicarmos todos os nossos esforços em detê-los.” Há alguma verdade nisso, mas a verdadeira questão é: “Qual é a melhor maneira de fazer isso?”
Antes de tudo, quero que vocês tenham a certeza que a Direita sempre esteve presente e sempre teve tanto controle quanto agora. Ei, eu cresci nos anos 50, quando os “valores da família” estavam tão no controle que eu não sabia o que era um aborto. Eu sabia que se engravidasse no ensino médio, teria um casamento relâmpago ou seria mandada embora para ter o bebê e dar para adoção. E você acha que a Direita está forte hoje?
O que depôs a Direita dos anos 50? O movimento dos anos 1960. Não com slogans e comícios para “Parar a Direita”, mas com organizações dedicadas à liberdade e à igualdade — social, econômica e política. Dedicadas a colocar o poder nas mãos das pessoas — as pessoas que realmente fazem o trabalho — a produção e a reprodução — em vez de deixá-lo nas mãos de parasitas que vivem às custas de todo mundo. Eu ouço as jovens gemendo que cresceram sob (o governo de) Reagan e Bush. Bem, nós crescemos sob McCarthy e General Eisenhower e Richard Nixon. Também tínhamos a mídia nos dizendo qual era o nosso lugar — e era em casa, ponto final. Os comerciais de TV estavam nos vendendo lacas da Toni e cera de chão, e uma mulher de verdade sabia como usá-los e ficava em êxtase ao ver um piso brilhante e ai dela se se atrevesse a exigir um pouco de êxtase no quarto!
A Direita não é forte porque eles estão corretos. Eles não são fortes porque sua ideologia é atraente para a grande maioria. Eles são fortes porque somos fracos. Não estamos ganhando tanto agora. Na verdade, estamos sendo empurrados para trás. Mas isso é porque estamos desorganizadas e temos pouca unidade. Nem sequer temos publicações nacionais que trazem as notícias das lutas das pessoas e nos ensinam a fazer melhor nosso trabalho.
Eu tive um pequeno grupo de discussão em minha casa uma noite depois de assistir ao documentário sobre o Movimento dos Direitos Civis do Mississippi chamado “Liberdade em Minha Mente”. A única coisa que aprendi naquela noite foi que, quando se trata do movimento geral contra a opressão capitalista, dificilmente as pessoas ainda sabem o que querem. Nem sequer temos uma ideologia para nos unirmos. Como você pode ganhar se não sabe pelo que está lutando? As pessoas que antes se consideravam socialistas olham para o que está acontecendo nos antigos países socialistas e dizem: “O socialismo falhou. Acho que não posso mais ser socialista porque o socialismo não funciona.” Em vez de olhar para o que deu errado com a prática — ao tentar colocar em prática os princípios do socialismo — eles dizem que é um fracasso. Mas como Kwame Ture, que eu conheci como Stokely Carmichael, apontou em um discurso aqui recentemente, os princípios ainda são sólidos, mesmo que ainda não tenham sido corretamente colocados em prática. A libertação das mulheres também não foi posta em prática. Ainda não venceu, mas abandonaremos o grande princípio pelo qual lutamos porque ainda não vencemos?
Antes da queda da União Soviética e contratempos semelhantes para o socialismo em todo o mundo, ser vermelho significava que o governo e os poderes o consideravam um subversivo perigoso; agora isso significa que você é apenas uma relíquia do passado, pressionando uma ideologia ultrapassada e ineficaz. Isso é algo realmente inteligente para atrair os americanos, porque alguns de nós podem resistir — pelo menos às vezes — a ser considerado um subversivo perigoso, mas, olha… é tão difícil ou até mais difícil ser descartado como idiotas irrelevantes e obsoletos.
No momento em que as grandes empresas estão dando um grande salto em frente ao internacionalizar sua força de trabalho e seus mercados — ou seja, perseguir os mercados, mão-de-obra barata e outros recursos naturais ao redor do mundo aos quais não têm direito –, parece-me que a maior parte do que escrevem radicais masculinos como Marx, Lenin e Mao está se revelando verdade. Confira. Não ouça a interpretação de outra pessoa sobre o que esses grandes revolucionários disseram. Leiam por si mesmas. Muitas de nós, no Movimento de Libertação das Mulheres, aprendemos muito com esses teóricos e com as revoluções que eles lideraram. O primeiro artigo que escrevi para o Movimento de Libertação das Mulheres em “Notas do Primeiro Ano” foi chamado de “Mulheres do mundo, uni-vos — não temos nada a perder, a não ser nossos homens”, uma dica da unidade reivindicada no Manifesto Comunista: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos, vocês não têm nada a perder, a não ser suas correntes.” Essas palavras fizeram os cabelos da minha nuca se arrepiarem quando as li numa aula da faculdade, porque imediatamente pensei no quão duro meus pais, que eram pequenos agricultores, tinham que trabalhar por tão pouco. A matéria se chamava “Democracia e seus inimigos”, mas eu sabia que essas palavras não haviam sido escritas pelo meu inimigo! Elas levantaram em minha mente a ideia de que as coisas não precisam ser do jeito que são. Nós poderíamos nos juntar e melhorar. Certamente, se Marx estivesse aqui hoje, teríamos que alavancar sua consciência para mudar essa frase para “trabalhadoras e trabalhadores de todo o mundo” em vez de “homens trabalhadores”! (N.T.: working men)
O alavancar das consciências veio diretamente da nossa experiência no Movimento dos Direitos Civis do sul — e da leitura de Mao e um livro chamado Fanshen, de William Hinton, sobre a Revolução Chinesa. Eu tenho que lhes contar essas coisas porque elas são a verdade e são parte da nossa história, mesmo que possam assustá-las um pouco, porque tudo o que vocês sabem sobre elas é provavelmente o que lhe foi dito por uma estrutura de poder que deseja mantê-las afastadas dessas teorias, assustando-as com a grande palavra começada em C: comunismo.
À medida que os capitalistas se tornam mais organizados internacionalmente, é óbvio que “trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!, vocês não têm nada a perder a não ser as suas correntes” é mais relevante hoje do que nunca. Fronteiras nacionais significam cada vez menos. Ser americano de classe média não é mais uma garantia de uma vida confortável. A união e organização contra esse grande poder internacional se torna uma necessidade. E vocês, como futuras profissionais, terão que decidir de que lado estão — de que lado você dedicará seu tempo e seus talentos. Do jeito que as coisas estão indo, vocês podem acabar trabalhando em um emprego de US$ 6 por hora de qualquer maneira — com ou sem esse diploma universitário.
Acreditar que exista algo próximo de condições equitativas nos Estados Unidos é como depender de uma miragem de água no deserto. E, no entanto, muitas pessoas preferem pensar que a miragem é real do que lidar com a realidade que não é. Gostamos de pensar que qualquer pessoa que seja “inteligente” e/ou trabalhe duro o suficiente pode subir a escada ou, pelo menos, conseguir uma vida boa. A possibilidade de uma pessoa poder passar para a classe acima por iniciativa e trabalho duro é provavelmente um pouco maior do que ganhar na loteria. Como os trabalhadores dos direitos civis do Mississippi gostavam de ressaltar na década de 1960, “se o trabalho duro enriquecesse, os negros seriam proprietários da América.” (sem falar nas mulheres!)
Estamos vivendo um tempo de grandes oportunidades para dar um grande salto à frente para a humanidade. A consciência sobre nós mesmas como trabalhadoras está aumentando por causa do que está acontecendo com nossas vidas. Riqueza e poder herdados estão tanto na ordem do dia quanto reinos e feudos herdados eram nos dias do feudalismo. Não há nada representativo ou democrático em nossa “democracia representativa”, na qual um grupo de advogados e empresários na pista administra o país a mando das frentes corporativas das famílias ricas da América. As contradições do capitalismo, da supremacia masculina, do racismo — tanto neste país quanto no mundo — estão ficando tão nítidas que você precisa realmente fechar bem os olhos e cantar seu mantra bem alto para não vê-las e ouvi-las. O que nos falta é um objetivo claro e uma organização eficaz — um programa com uma estratégia. Algo para nos unir com pelo menos uma ideia geral de como proceder. Temos que trabalhar nisso.
O controle corporativo da América é tão rigoroso que a maioria das pessoas aceita o fato de que os chefes-chefes ganham 157 vezes mais do que as pessoas que produzem os produtos, mesmo quando esses CEOs obviamente fizeram o tipo de trabalho pelo qual um mero trabalhador seria demitido. Os poucos caras grandes que são demitidos são recompensados com pacotes de indenização que os manterão vivendo muito confortavelmente por toda a vida.
Como esses executivos corporativos com excesso de remuneração decidem mudar ou fechar fábricas, demitir trabalhadores ou transformar metade da força de trabalho em migrantes de colarinho azul, branco ou rosa? Onde está a democracia quando se trata do local de trabalho onde passamos uma parte tão grande de nossas vidas e que dita muito do resto do que fazemos?
Embora nem todo mundo trabalhe para uma grande corporação, são essas grandes empresas que escolhem a música para o restante do país dançar. Benefícios progressivos, como a semana de 40 horas, licença médica e benefícios de férias, foram conquistados quando os trabalhadores puderam mudar a lei e/ou as políticas de empregados de grandes empresas, principalmente devido à pressão de greves e apoio popular. Trabalhadores desorganizados e trabalhadores de pequenas lojas sempre se beneficiaram dos sucessos dos sindicatos. Esses avanços conquistados pelas lutas trabalhistas estão sendo revertidos e corremos o risco de perdê-los, assim como nosso limitado e duramente conquistado direito ao aborto está sendo corroído.
Insegurança e pobreza não estão mais limitadas a mulheres, pessoas racializadas e trabalhadores de colarinho azul e rosa. Nós, trabalhadores, devemos ir além da junção de mesquinhas organizações de “revolta fiscal” e tentar travar a assistência do governo aos pobres e desempregados como meio de solucionar nossa crise financeira. Devemos dar uma boa olhada em para onde realmente estão indo nosso dinheiro e empregos e quem está tomando as decisões. Não somos você e eu — e deveria ser. Precisamos reestruturar todo o nosso sistema para obter alguma democracia onde realmente importa.
Ao assumir essa luta, os homens podem fazer mais pela libertação das mulheres do que tentando trabalhar no Movimento de Libertação das Mulheres. Queremos o seu apoio quando o solicitarmos e esperamos que você esteja lá para apoiar. Mas sua batalha principal deve ser contra o capitalismo e pelo socialismo. Entre no piquete da Publix, onde trabalhadores corajosos lideram uma luta contra a discriminação e assédio racial e sexual. Esses trabalhadores estão lutando por você e por mim, assim como por eles mesmos. Homens brancos precisam perceber que negros e mulheres são como os canários usados na mina de carvão para alertar os mineiros sobre o que está por vir. Se a luta na Publix for perdida, isso enfraquecerá TODOS os trabalhadores.
Eu estaria mentindo se subisse aqui e fingisse ter todas as respostas. Não tenho. Mas tenho algumas ideias sobre o que devemos fazer com base na minha participação na luta. Tudo o que sabemos no movimento vem da luta — a luta de alguém. Algumas pessoas dirão: “Ah, eu li tudo sobre mulheres conquistarem o voto em um livro.” Bem, ele ou ela podem ter lido o livro, mas se algumas pessoas não tivessem entrado e feito a luta, então vocês não teriam o livro para ler. E se o livro for realmente bom e contar verdades profundas, você pode apostar que alguém passou por algum tipo de luta para publicá-lo e para coloca-lo nas suas mãos.
Então se envolva. Faça você mesmo para melhorar sua própria vida e faça-o pela humanidade. A melhor maneira de fazer isso é ingressar em uma organização. Isso é muito fácil de fazer aqui em Gainesville. Até onde sei, existem poucos lugares no país que possuem a rica tradição radical de luta e feministas radicais ativas dispostas e ansiosas para lhe ensinar sua história e como se organizar. Gainesville é um daqueles lugares raros. Se você é estudante, pode participar da NOW do campus UF/SFCC. Se você ainda não é aluna, pode se inscrever na NOW regional de Gainesville. Quando terminarmos aqui, você pode ir até a mesa do Movimento de Libertação das Mulheres de Gainesville e aprender mais sobre as ideias das quais falei, porque não tive tempo de explicá-las completamente. Vá comprar uma cópia do Feminist Revolution, o livro Redstockings que ajudei a editar. Aprenda sobre a nossa história para poder fazer história. Então saia e faça um pouco de história para entender melhor a história. Informe-se. Passe no Civic Media Center. Eles têm uma coleção única e maravilhosa de material, incluindo fitas de vídeo e áudio de, por e sobre todos os tipos de movimentos. Eu gostaria de poder passar alguns meses lá. Eu saberia muito mais do que agora. Se você estiver apta para ingressar em um sindicato, faça-o. Se você já está em um sindicato, seja ativa. Ou junte-se a outras organizações que trabalham pela justiça econômica e social. Se você é uma estudante, participe da Coalizão Liberdade. Isso a ajudará a combater as taxas e mensalidades e outros problemas dos alunos.
Sei por experiência que nem todo mundo vai participar de um grupo de libertação de mulheres ou de um grupo da NOW. Algumas de vocês não querem se envolver. Mas você pode pelo menos doar algum dinheiro para as organizações que estão lutando para melhorar sua vida. Desista de alguns presentes e repasse esse dinheiro para o trabalho feminista. Se todas as mulheres do país doassem um por cento de sua renda, poderíamos ganhar muito rapidamente, porque teríamos dinheiro suficiente para pagar aos organizadores. Muitos de nós trabalhando pela libertação das mulheres acabam lutando para ganhar a vida e ainda fazem trabalho político. Isso não foi tão ruim na década de 1960 e no início da década de 1970, quando poderíamos sobreviver em um emprego de meio período e ainda fazer muita organização. Mas isso não é possível na economia de hoje. Costumo achar que não tenho tempo para fazer a pesquisa para melhorar meu trabalho. Às vezes, leva muito tempo para procurar seus palpites ou apresentar seu caso claramente. Você acaba voando pela calça porque economicamente não há outra solução.
Se você está com um pouco de medo de se envolver, tudo bem. Mas não deixe que esse medo a impeça. Uma das coisas que aprendi no Movimento dos Direitos Civis é que todo mundo fica assustado às vezes. Você é covarde se deixar que esse medo o impeça do que precisa ser feito. A luta nem sempre é fácil e, às vezes, exige que você faça sacrifícios que prefere não fazer. Mas não deixe isso te impedir também. Vários anos atrás, eu estava me sentindo muito deprimida com todos os contratempos que estávamos enfrentando. Parecia que poderíamos perder os direitos ao aborto e tudo mais pelo qual passei minha vida lutando. Então, um dia, percebi o quanto minha vida teria sido pior sem os ganhos que o movimento havia feito. Eu ainda estaria em agonia andando de cinto, saias e sapatos de salto alto! Ainda estaria me preocupando constantemente com meus relacionamentos com homens e não saberia o que fazer com eles. Eu me culparia por tudo o que há de errado na minha vida. E eu teria sido muito mais burra sobre o mundo e como ele funciona. Minha vida teria sido menos rica, menos interessante. Eu não teria a satisfação de saber que isso serve para alguma coisa — que faço parte da grande luta em andamento para libertar as mulheres e a humanidade das opressões que nos impedem de realizar nossos melhores sonhos. Também quero essa experiência para você.
Exorto você não apenas a estudar a história de nosso movimento de libertação, mas a doar seu tempo, energia e dinheiro para organizações que lutam pela justiça.
Lutem, irmãs!
Tradução de Aline Rossi