Eu sou o que chamam de “crítica de gênero”.
É possível que você ache que as pessoas trans merecem direitos humanos e que qualquer pessoa que discorde disso é fanática e preconceituosa.
Eu concordo com isso.
A questão é que não estamos debatendo se pessoas trans merecem direitos.
O que estamos debatendo é se os direitos das pessoas trans devem se sobrepor aos direitos e proteções existentes e duramente conquistados para mulheres e meninas, e se a proteção a criança deve ser posta de lado para acelerar o processo de transição de crianças que pensam que são ou se identificam como trans.
As pessoas que apoiam a manutenção de direitos e proteções baseados no sexo feminino e que questionam, contestam ou se opõem ao que se tornou conhecido como a “abordagem afirmativa” para transicionar crianças, tornaram-se conhecidas como críticas de gênero.
Se você se envolveu apenas um pouquinho com esse debate, talvez tenha a impressão de que as pessoas críticas de gênero são principalmente mulheres e, em particular, feministas mais velhas, que odeiam pessoas trans e que estão “amarguradas” com a usurpação de seu movimento pela geração mais jovem, mais descolada e progressiva. Você está certo de que a maioria de nós é mulher. Muitas de nós são mais velhas e se lembram de como era antes que o feminismo dos anos 70 nos conquistasse alguns direitos. Mas o resto é desinformação.
Meu nome é Bea Jaspert e sou crítica de gênero. Eu sou uma mulher mais velha e sou feminista. Estou escrevendo este artigo para explicar por que a crítica de gênero é a única posição legítima que as pessoas progressistas[1] e de esquerda, que se importam com a igualdade e os direitos humanos, podem se dar ao luxo de assumir.
Críticos de gênero rejeitam as restrições e normas socialmente construídas sobre os dois sexos — masculino e feminino, apoiam os direitos e proteções de mulheres e meninas baseados no sexo, e contestam a noção de que o sexo é um sentimento ou essência com que alguém pode ou não se identificar, em vez de um fato biológico.
Ao contrário dos mitos e difamações, os críticos de gênero concordam que pessoas trans, como todos os seres humanos, merecem direitos humanos, direitos civis, igualdade de oportunidades e de viverem livres de discriminação.
Os críticos de gênero NÃO:
– se opõem aos direitos das pessoas trans
– odeiam e temem pessoas trans
– negam a existência de pessoas trans
– invalidam as “identidades” de pessoas trans
Nós não somos fascistas, intolerantes, fundamentalistas cristãos ou fanáticos da extrema direita. Somos os denunciantes, chamando a atenção para o ataque ideológico articulado que está sendo empreendido contra os direitos, o bem-estar e a segurança de mulheres e crianças.
Como uma crítica de gênero, eu me sinto muito amargurada, mas essa amargura não é porque eu sou velha e ultrapassada. Eu estou amargurada com o modo como as pessoas progressistas e de esquerda estão permitindo e replicando os ataques misóginos viciosos as mulheres que defendem o seu sexo. Estou decepcionada com a forma como as pessoas que têm pouca ou nenhuma compreensão do que está em jogo se sentem qualificadas para rejeitar nossas preocupações como lixo transfóbico.
Estou farta das respostas prontas baseadas em suposições desinformadas, estou frustrada e irritada com a inquestionável aceitação — e repetição — de difamações e insultos, e indignada com o desrespeito as diretrizes de proteção à infância e aos direitos e proteções legais baseados no sexo.
É por isso que eu sou uma crítica de gênero.
Minha conta no Twitter existe desde 2014.
Eu tuíto sobre abuso de poder, tentando destacar o uso de culpabilização das vítimas e de insultos difamatórios contra grupos vulneráveis, incluindo, por exemplo, imigrantes, minorias étnicas e vítimas/sobreviventes de abuso sexual infantil e violência doméstica. Eu sigo e sou seguida por muitos sobreviventes e defensores, assim como por muitos indivíduos e organizações progressistas e de esquerda. Cerca de um ano atrás, minhas menções no Twitter começaram a se encher de (principalmente) mulheres protestando contra algo chamado “transativismo” e reclamando em particular da misoginia de contas progressistas, trabalhistas e de esquerda.
No começo eu discuti com essas mulheres — pessoas de esquerda não poderiam ser misóginas (como eu fui boba!) e insisti que não havia conflito entre os direitos trans e os direitos das mulheres e crianças.
No entanto, pessoas que eu admirava e respeitava estavam protestando — a ativista pelos direitos das mulheres encarceradas Harriet Wistrich, a ativista feminista Meghan Murphy, a ativista lésbica e jornalista Julie Bindel, a ativista pelas vítimas de violência doméstica Karen Ingala Smith, o ativista pela reforma prisional Richard Garside, ativistas de esquerda como Pilgrim Tucker e Helen Steel, e muitos outros. Eu não estava preparada para rejeitar seus protestos sem investigar, então pesquisei, li artigos nas mídias mainstream e alternativa, estudos científicos e médicos, blogs e sites de ativistas, e certifiquei-me de examinar os dois lados da questão a cada passo do caminho.
Do lado do ativismo trans, li Judith Butler, Julia Serrano, Juno Roche, Shon Faye e muitas outras, incluindo Stonewall, Pride, Pink News, Allsorts e Mermaids [2].
Do lado crítico de gênero, assim como Julie Bindel e Meghan Murphy, eu procurei o Woman’s Place, Fairplay For Women, Dr Jane Clare Jones, TransgenderTrend, Dr. Kathleen Stock, Rebecca Reilly Cooper, e muitas coisas de mulheres trans [3] críticas de gênero como Debbie Hayton e Kristina Harrison.
Eu não entendia porque pessoas inteligentes, progressistas, liberais, feministas — mulheres em particular — estavam protestando, mas ouvindo seus protestos, eu entendi.
Eu não me tornei de repente uma fanática que odeia pessoas não-conformes e que se opõe aos direitos humanos. Eu pesquisei e estudei e me familiarizei com essa discussão complexa e difícil. Eu posso apoiar minhas opiniões e argumentos com exemplos e evidências.
Eu quero ser ouvida.
Não é aceitável descartar as vozes de organizações contra violência doméstica, de sobreviventes de estupro, de mulheres encarceradas e ativistas da reforma do sistema carcerário, atletas, acadêmicas, cientistas, ativistas, pessoas trans e que destransicionaram, além de milhares e milhares de mulheres comuns — mães, filhas, avós .
Estamos sendo mal representados e as pessoas precisam ouvir o que temos a dizer.
O mantra do transativismo é “mulheres trans são mulheres”.
Organizações LGBT, incluindo Stonewall e Pink News, nos dizem que contestar isso é discurso de ódio e transfobia, e conselhos, entidades governamentais, a polícia, instituições públicas beneficentes e organizações como a Anistia Internacional e a Marcha das Mulheres concordam.
O ponto por trás do mantra “mulheres trans são mulheres” é dizer que não há diferença entre mulheres trans e mulheres.
Pessoas bem-intencionadas, que celebram a diversidade, que se orgulham de serem tolerantes e inclusivas, entendem que mulheres trans não são menos válidas como seres humanos do que mulheres— elas são tanto dignas de respeito quanto merecedoras dos direitos humanos e civis, igualdade de oportunidades e livres de discriminação.
Tudo isso é verdade.
Mas objetivamente, factualmente, cientificamente, fisicamente, mulheres trans são diferentes das mulheres em um aspecto fundamental: independentemente da raça, etnia, religião, deficiência, classe, sexualidade, etc, todas as mulheres têm uma coisa em comum — a sua participação na categoria do sexo feminino.
As mesmas pessoas bem-intencionadas, tolerantes e inclusivas que entoam o mantra “mulheres trans são mulheres” parecem esquecer o significado de ignorar a diferença biológica entre homens e mulheres.
Mas a diferença sexual nos seres humanos é de enorme significado político, porque as pessoas do sexo feminino — que representam 52% da população global — continuam a ser subjugadas, exploradas, escravizadas, traficadas, abusadas, violadas e assassinadas devido à sua condição de membras na categoria do sexo feminino.
É impossível lutar pelos direitos e proteções das pessoas do sexo feminino se negarmos que a diferença de sexo existe, ou que isso importa, e ainda mais se insistirmos que a própria definição de mulher deve ser reescrita para incluir os homens.
Algumas pessoas parecem pensar que o sexismo não é mais um problema, e que as mulheres alcançaram a igualdade. Isso é claramente falso. No ocidente, a disparidade salarial entre os “gêneros” (sic), o teto de vidro [4], a falta de autonomia corporal, a carga do trabalho de cuidado, a desvalorização do trabalho feminino não apenas em termos de recompensa econômica, mas em termos de reconhecimento e prestígio, a sub-representação feminina na política e em posições de poder e influência em geral — na mídia, nos negócios, na ciência e na medicina — são exemplos claros da persistência da discriminação sexual.
O movimento #MeToo[5] revelou a onipresença do sexo masculino no abuso de pessoas do sexo feminino em todos os estratos sociais. Assim também como as terríveis estatísticas sobre agressões sexuais graves e estupro — os perpetradores do sexo masculino respondem por 99% dos casos, e 84% das vítimas são do sexo feminino. Vítimas de violência doméstica são muito mais propensas a serem do sexo feminino e os perpetradores a serem do sexo masculino. Meninas representam 77% das vítimas de tráfico de crianças.
Nos países em desenvolvimento e nos países islâmicos, a situação é muito pior. O infanticídio feminino, a mutilação genital feminina, o casamento forçado, a gravidez forçada, as mortes por honra e os ataques com ácido, visam pessoas do sexo feminino e não pessoas do sexo masculino que se “identificam como” mulheres. As leis da Sharia que permitem o apedrejamento de mulheres adúlteras e vítimas de estupro, que proíbem mulheres de dirigir, que excluem as mulheres da política, da medicina, do ensino e da lei, são destinadas a pessoas que são membros da categoria sexo feminino.
Não importa como essas pessoas “identificam”. Se você é mulher, você não é igual. Talvez você nem seja (totalmente) humana.
O direito internacional reconhece que as pessoas do sexo feminino são um alvo por causa do seu sexo, e é por isso que o sexo é uma característica protegida na lei, e por que os direitos e proteções baseadas no sexo para as mulheres são legalmente protegidos.
No entanto, essas proteções estão sendo desrespeitados em nome da política progressista, da tolerância e da inclusão. As prisões femininas abrigam presos do sexo masculino que “se identificam como” mulheres — mesmo depois deles terem violentado mulheres e crianças. Abrigos para vítimas de violência doméstica acomodam abusadores domésticos do sexo masculino — se eles “se identificarem como” mulheres. Homens vencem campeonatos de ciclismo feminino. Homens lideram a Marcha das Mulheres. Homens lideram o evento da Anistia Internacional sobre a História da Mulher .
Isso precisa parar.
A violência contra as mulheres e a discriminação sexual ainda existem.
As mulheres precisam de lugares reservados, espaços separados e serviços distintos.
Mulheres que escaparam de relacionamentos abusivos, e mulheres que foram estupradas, sofrem estresse pós-traumático contínuo e muitas vezes incapacitante. Quando perguntadas, as sobreviventes deixaram claro repetidamente que não querem que homens sejam aceitos em seus abrigos e refúgios, não importando com que gênero essas pessoas “se identifiquem”.
54% das mulheres encarceradas são sobreviventes de violência doméstica [6]. Muitas mais são sobreviventes de abuso sexual quando adultas ou crianças. Quase todos os abusos sexuais graves (99%) são perpetrados por pessoas do sexo masculino. Prisioneiras mulheres que são alojadas com homens não tem para onde fugir. Elas são forçados a proximidade com pessoas do sexo masculino, incluindo estupradores e pedófilos condenados.
Esta é uma clara violação dos direitos humanos das pessoas do sexo feminino.
Não é possível coletar dados precisos sobre crimes sexuais, crimes violentos e violência doméstica se o sexo não for levado em consideração, mas as agências governamentais já estão ignorando a lei e permitindo que criminosos condenados se autodefinam como mulheres e tenham seus crimes relatados na mídia, e oficialmente registrados, como crimes de mulheres. Os dados sobre saúde, disparidade salarial, inclusão feminina na política e igualdade de oportunidades perderão o significado em termos de proteção para as mulheres se forem ignoradas as diferenças de sexo e se pessoas do sexo masculino que “se identificam como mulheres” passarem a ser consideradas como mulheres.
Permitir que os homens participem de categorias esportivas femininas é profundamente prejudicial às aspirações e conquistas das mulheres. Os esportes femininos já são subfinanciados e subvalorizados. Mulheres e meninas têm muitos problemas com seus corpos e a cultura pornográfica e a geração da selfie estão exacerbando esse problema[7]. O esporte oferece empoderamento[8] a meninas e jovens mulheres, uma chance de se orgulhar da força e do poder de seus corpos.
Tudo isso está ameaçado porque os homens têm uma vantagem natural sobre as mulheres no esporte, mas mulheres trans podem competir contra as mulheres e estão conquistando todas as medalhas. Martina Navratilova e muitas outras atletas se manifestaram sobre isso. Todas foram taxadas como transfóbicas. Martina foi removida da diretoria da Athlete Ally[9], mas Rachel McKinnon, ciclista trans que venceu as competidoras do sexo feminino e que tuitou que todas as pessoas “cis” (não-trans) que não concordam com a participação de homens nos esportes femininos deveriam “morrer em um incêndio”, permanece no quadro.
As listas de candidatas mulheres do Partido Trabalhista [britânico], por exemplo, foram criadas para lidar com o fato de que as pessoas do sexo feminino representam apenas uma pequena porcentagem dos deputados. No entanto, homens podem ocupar esses lugares se eles “se identificarem com o gênero” mulher. Prêmios para mulheres também têm a intenção de fornecer alguma oportunidade para corrigir o desequilíbrio de poder entre homens e mulheres. Eles não significam nada se homens puderem ganhá-los.
Previsivelmente, já há sérios impactos sobre os direitos e proteções das pessoas homossexuais, em particular sobre as mulheres homossexuais — lésbicas. A homossexualidade é a atração pelo mesmo sexo, mas as mesmas organizações que lutaram por direitos iguais — ao casamento, à aposentadoria, à parentalidade e à livre expressão de amor entre as pessoas do mesmo sexo — condenam a atração pelo mesmo sexo como transfóbica, chamando mulheres que se sentem atraídas apenas por mulheres de “ginocêntricas” e “obcecadas por genitais ”.
O evento sobre o mês da História da Mulher da Anistia Internacional foi liderado por uma mulher trans. A Marcha das Mulheres de Londres foi liderada por uma mulher trans. Oportunidades para as pessoas do sexo feminino já são suficientemente escassas. Temos sido apagadas da história por tempo suficiente. As mulheres tiveram que lutar pelo direito ao voto. Tivemos que usar nomes de homens para sermos autoras de sucesso. Mesmo depois de finalmente conquistar o direito à educação formal (pelo menos no Ocidente), nossas contribuições à arte e à ciência foram ocultadas, apropriadas e negadas. E agora estamos sendo informados pelos liberais progressistas e pela esquerda que devemos ceder nossos lugares e espaços duramente conquistados aos homens, porque eles “se identificam como” mulheres.
Isto não é aceitável. E não é correto nos chamar de transfóbicas por chamar a atenção para essa injustiça, para nos silenciar, tirar nossas plataformas e nos difamar como nazistas.
Também não é aceitável desviar o olhar.
É perfeitamente possível apoiar os direitos das pessoas trans sem alijar os direitos e proteções das pessoas do sexo feminino. Mas é de fato impossível apoiar o bem-estar das pessoas trans se os seus direitos forem estabelecidos em detrimento dos direitos das mulheres, e se a saúde e a segurança de crianças estiverem ameaçada pelo silenciamento daqueles — incluindo profissionais de saúde e especialistas em disforia gênero — que levantam preocupações sobre a medicalização de crianças que pensam que podem ser, ou se identificam como, trans.
Como muitas pessoas transgênero já apontaram, nada disso serve aos interesses da comunidade trans. O que serve é a uma agenda ideológica intimidadora, misógina, homofóbica e misopédica[10].
A Lei da Igualdade[11] dá às pessoas proteção legal contra a discriminação.
Ela lista nove características protegidas, uma das quais é o SEXO — em reconhecimento ao fato de que as pessoas do sexo feminino sofrem discriminação com base em suas características biológicas sexuais.
A mudança de gênero é uma característica protegida separada, que se refere à discriminação contra pessoas transgênero. A lei reconhece que a discriminação com base no sexo e a discriminação com base na mudança de gênero não é a mesma coisa.
“Se você é discriminado por ser uma pessoa transgênero, isso é discriminação ilegal devido à mudança de gênero. Não é discriminação sexual.”
– Citizen’s Advice UK[12]
Existem exceções legais baseadas no sexo que permitem que espaços, instalações e serviços exclusivos para o sexo feminino excluam pessoas do sexo masculino, independente do gênero que se identificam. Elas existem para um propósito — porque a lei reconhece que há uma necessidade de espaços e serviços exclusivos para o sexo feminino em determinadas situações. A lei não mudou, apesar dos esforços do lobby transativista para remover essas isenções.
No entanto, defender a Lei da Igualdade faz com que você seja denunciado como um transfóbico odioso.
Da mesma forma, defender a proteção das crianças — incluindo falar sobre o bem-estar, a saúde e segurança das crianças que se identificam como trans — é inaceitável para o transativismo.
Crianças em idade escolar estão sendo ensinadas por organizações transativistas (com acesso total às escolas e um lugar no currículo) que, se não se encaixarem nos estereótipos regressivos de gênero, muito provavelmente elas podem ser “trans”. Estudantes do sexo feminino que expressam desconforto com os meninos em seus vestiários ou esportes são instruídas a superarem esse assunto. Professores não podem questionar a agenda transativista, ou levantar preocupações, sem arriscar não apenas a desaprovação, mas seus empregos e meios de subsistência. Profissionais de saúde são pressionados a afirmar crianças na auto-identidade trans, sem avaliação/apoio adequados. Os riscos conhecidos dos hormônios bloqueadores da puberdade e dos hormônios cruzados, incluindo a medicalização para toda a vida e a infertilidade, são ignorados. Meninas são aconselhadas a amarrar os seios e seus pais estão comprando “pênis infantis de borracha” para suas filhas que se identificam como trans.
Depois de todas as terríveis experiências com redes de pedofilia, Jimmy Savile[13], e homens predadores tendo acesso a crianças vulneráveis, o guia oficial de meninas escoteiras no Canadá agora admite homens, incluindo homens adultos, em festas do pijama só de meninas — desde que esses homens “se identifiquem” como mulheres/meninas.
Somente os grupos e organizações transativistas podem dar aconselhamento, as avaliações de risco são descartadas, os denunciantes são silenciados ou demitidos.
E devemos ficar em silêncio?
O rigor acadêmico está sendo reprimido — acadêmicos estão sendo assediados por suas pesquisas sobre questões trans. Em uma carta de protesto ao jornal The Guardian, 54 acadêmicos protestaram:
“Estamos preocupados com a supressão da análise acadêmica e da discussão adequada sobre o fenômeno social da transgeneridade e suas múltiplas causas e efeitos. Membros do nosso grupo foram alvos de protestos nas universidade, de pedidos de demissão na imprensa, de assédio, de planos furtivos para provocar demissão, da falta de plataforma e de tentativas de censurar pesquisas e publicações acadêmicas.”
Pesquisas importantes, incluindo pesquisas que podem ajudar as próprias pessoas trans, inclusive as crianças, estão sendo interrompidas. Como escreveu Julian Vigo:
“O ativismo trans tem minado os esforços de clínicos e pesquisadores que procuraram investigar a questão da disforia de gênero. Talvez não exista outra área do comportamento humano em que atores ideologicamente motivados tenham sido tão bem-sucedidos em criar o que são, na verdade, zonas proibidas para acadêmicos e até para os próprios fatos.”
Isso não é progressivo. É regressivo e supressivo.
Isso precisa ser exposto e precisa ser interrompido.
Não vou deixar de falar sobre isso, não vou me desanimar com a falta de compreensão ou a indiferença, não serei intimidada por difamações, insultos e ataques pessoais. Se existe uma coisa que vale a pena lutar é pelos direitos humanos. E os direitos humanos aplicam-se a todos os seres humanos, nenhum grupo pode exigir que outro grupo desista de seus direitos e proteções para acomodar ou satisfazer suas necessidades e desejos.
E francamente — homens cheios de direito, agressivos, misóginos e homofóbicos são as últimas pessoas na minha lista que podem tomar decisões sobre os direitos humanos.
Os direitos trans são direitos humanos.
Assim como são os direitos das mulheres e meninas baseados no sexo.
E os direitos das crianças também.
Você é por direitos ou você é contra eles. Você não pode ter as duas coisas.
Saia de cima do muro e participe do protesto.
Torne-se um crítico de gênero.
[1] A palavra progressista nesse texto (de uma autora britânica) foi usada para traduzir a palavra liberal, significando basicamente pessoas que apoiam as liberdades individuais, a liberdade de expressão e os princípios de igualdade e equidade.
[2] Grandes organizações e mídias de defesa dos direitos LGBT.
[3] Homens que se identificam como transgênero/trassexual.
[4] O “teto de vidro” refere-se a uma barreira invisível resultante de uma série complexa de estruturas que impedem a ascensão de mulheres a posições de poder.
[5] O movimento #MeToo (Eu Também em tradução livre) foi criado pela ativista social estadunidense e organizadora comunitária Tarana Burke com o objetivo de demonstrar a prevalência generalizada de agressão sexual e assédio, especialmente no local de trabalho. O movimento ganhou mais notoriedade depois das acusações de abuso sexual contra Harvey Weinstein. (Wikipedia)
[6] Muitas dessas mulheres estão na prisão por matarem seus abusadores, e suas penas são desproporcionalmente mais altas que a dos homens que matam mulheres aleatórias.
[7] Dismorfia de Snapchat é um termo criado pelo médico britânico Tijion Esho para explicar a insatisfação das pessoas, principalmente mais jovens, com a própria imagem e a vontade de ser exatamente como nas fotos do aplicativo.
[8] Pessoas mais pobres vivem à margem do convívio dos grupos sociais, sendo privados de uma convivência cidadã. Muitas vezes o único tipo de convivência social para essa classe da população é através do esporte. Mulheres são as mais pobres entre os mais pobres.
[9] A Athlete Ally é uma organização sem fins lucrativos que busca na intersecção de esporte e igualdade LGBT, acabar com a opressão estrutural e sistêmica que isola, exclui e põe em risco as pessoas LGBT no esporte.(Wikipedia)
[10] Misopedia: ódio mórbido de crianças.
[11] Equality Act 2010 (Lei da Igualdade, de 2010) é uma lei do Parlamento do Reino Unido que visa proteger minorias contra discriminação baseada no sexo, raça, religião, etnia, etc…
[12] Organização governamental do Reino Unido para o aconselhamento de cidadãos nas diversas áreas da cidadania.
[13] Falecido apresentador da BBC britânica que abusou sexualmente de 63 pessoas, incluindo muitas crianças, em um hospital para o qual arrecadava fundos e onde tinha acesso livre aos quartos.
Tradução do texto de Bea Jaspert