Sobre infâncias de meninas negras
Sobre infâncias de meninas negras

A boneca tinha a cor que contrastava a sua pele

Achava o brinquedo radiante, mesmo que estive rabiscado e sujo

A menina tinha fascinação pela bonequinha que parecia com as pessoas da televisão, enquanto ela cercava-se de adultos com colorações semelhante à sua, mas que não apareciam na tela de clareação

As partículas que dançavam juntas para criar um pequeno espelho quadrado no banheiro, refletia a pequenez da menina. Criança, a idade e nome ninguém sabia, nem mesmo Deus

Na sua fotografia em movimento no vidro, ela descobria o tom da sua pele, a tonalidade do anoitecer, igual quando não havia luz em sua casa

Na aurora de cada dia, a boneca deslumbrante era deixada no cantinho terroso da plantação

No céu havia as nuvens, no solo os algodões que não eram doces

A menininha colhia os pontos brancos espalhados pelo campo e esperava esperançosamente tornar-se gente

Não tinha tempo para brincar, pois precisava trabalhar

A sua infância irrelevante se constituía em uma vida que antecipava a morte

Forçando a torna-se pó, sujeira, magreza de fome, machucado que dói e não sara

No entardecer cíclico, ela esperava ser igual aos brotos férteis, para que no amanhecer seguinte pudesse enfim se desabrochar

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