Quando Feministas abandonam Garotas
Quando Feministas abandonam Garotas

Graças a uma proposta que virou lei em Nova Iorque semana passada, homens biológicos que se identificam como mulheres agora têm acesso irrestrito a banheiros, trocadores e, sim, casas de banho exclusivamente femininas. Se você é ingênua a ponto de esperar que a ONU Mulheres vai se posicionar a favor das mulheres que são contra essa lei, você não tem prestado atenção. Quando se trata de conquistas do transativismo às custas de direitos de mulheres e garotas, as mais famosas organizações feministas da América parecem curiosamente ficar sem palavras.

O oráculo Feminista Parent Planhood (Planejamento Familiar, em tradução livre) proclama em seu website que “macho” ou “fêmea” é somente um rótulo “que lhe é designado no nascimento por um médico”. Diga isso às garotas da equipe de polo aquático da Escola de Palm Spring cujo time tem um homem desde a semana passada, tomando banho no vestiário das mulheres da piscina pública que elas usam para treinar. A técnica da equipe confrontou o homem, apenas para ser refutada. Ele disse que tinha direito de estar ali, uma vez que ele se identifica como mulher — apesar de todo o complemento de sua genitália masculina. A polícia se recusou a fazer qualquer coisa, de acordo com o noticiário da CBS, com argumentos de que “nenhuma lei foi infringida”.

Regulamentações promulgadas pela Lei de Habitação e Emprego Justos na Califórnia, garante a indivíduos o direito de usar banheiros e vestiários de acordo com o gênero que se auto-declaram. O prefeito de Palm Springs assegurou aos pais que a prefeitura vai instalar divisórias entre os chuveiros assim como um chuveiro “unissex” adicional, perto dos vestiários femininos para uso de transgêneros, apesar de tais indivíduos não serem obrigados a usa-los.

A desproporcional força física dos homens é uma das razões que temos, desde o século XIX, contra a entrada deles em banheiros femininos. Permitir homens biológicos em espaços fechados com garotas cujas calças estão abaixadas até seus tornozelos ou ao redor dos seus joelhos não significa necessariamente que eles vão atacar. Mas se eles quiserem, poderão encontrar mulheres e garotas significantemente vulneráveis. Desde os primeiros dias de escola, quando a maioria dos garotos entra na puberdade, eles não enfrentam semelhante ameaça em um espaço fechado com mulheres ou garotas. E se tamanha violência supostamente nunca vai ocorrer, continuaria não sendo razoável achar que garotas jovens não se sentiriam ameaçadas em tais situações, independente de quantas cortinas hão entre os chuveiros, cada uma da espessura de um cabelo.

Os cubículos devem ser a solução, defensores insistem. Se colocarmos divisórias o suficiente, então garotas não serão traumatizadas, assediadas ou expostas a um show de mijo da anatomia masculina — ao menos, não em números grandes. Em Joel Doe v. Boyertown Area School District, o Terceiro Circuito parecia pensar por esses termos quando chegou a conclusão de que “a presença de estudantes transgêneros nos vestiários e banheiros não é mais ofensiva ao constitucional ou…aos interesses de privacidade do que a presença de outros estudantes que não são transgêneros”. Qual a importância do que o outro está fazendo no cubículo fechado ao seu lado? Ou como eles parecem quando suas calças estão abaixadas? Se o inferno são os outros — como Sartre disse — talvez pouco importa se os olhos devoradores sejam masculinos ou femininos.

Vamos estimar que a grande maioria das pessoas trans-identificadas sejam cidadãos honestos. Talvez nunca existirá um professor astuto de matemática que irá para casa numas férias de verão, deixará o cabelo crescer, e irá anunciar que agora ele é “Jane” e estará usando o vestiário das garotas. Mas mesmo que essa “mulher” de Palm Springs nunca se torne violento, essas garotas não teriam razão em se sentir ameaçadas, confinadas lado a lado, mesmo com divisórias, num vestiário com alguém que tem uma genitália masculina — como 89% das mulheres trans tem, de acordo com o senso de 2015 do Centro Nacional da Igualdade Transgênera? Deveria eu mencionar o ataque à dignidade dessas garotas?

Banheiros e esportes são duas das áreas em que os interesses das mulheres e garotas vão de encontro àqueles dos homens e garotos. Poucos garotos biológicos provavelmente perderão os primeiros lugares nas competições esportivas ou nas bolsas de estudo universitárias que conseguem por causa dos meninos transgêneros que os superam. Garotos e garotas há muito tempo estão separados nos esportes especificamente para permitir às garotas se destacarem sem serem injustamente superadas por garotos cujas massa muscular e densidade óssea conferem vantagens biológicas, e não aprendidas. Em esportes de resistência, como natação em águas abertas e corridas de maratonas, a lacuna diminui porque o corpo feminino carrega presentes próprios. Mas em geral, permitir que garotas trans compitam com garotas biológicas é permitir que a biologia de garotos, injustamente, consiga as melhores honras.

No dezembro do ano passado, um grande ícone do feminismo e do tênis, Martina Navratilova, cansou-se de mulheres serem espancadas nos esportes por garotas trans cuja força esquelética e muscular as tornava desafiadoras injustas. Ela tweetou “Claramente isso não está certo. Você não pode simplesmente se auto proclamar uma mulher e assim se tornar hábil a competir contra mulheres. Tem que existir alguns padrões, e ter um pênis e competir como mulher não deveria se encaixar a esses padrões”. Dentro de uma semana, aquela outrora temível competidora, deletou sua publicação, se retratou e se desculpou, prometendo “educar a mim mesma sobre a questão” e “enquanto isso me permanecer calada quanto o assunto”. Qualquer um que acompanhou Navratilova nas quadras por quase 3 décadas de grandeza seria arduamente pressionado a comparar a determinação pela qual ela ficou famosa com o melindroso remorso de alguém que teme por sua boa-fé interseccional.

Quando é que nós, enquanto mulheres, decidimos que estava tudo bem parar de advogar a favor das garotas? Quando é que nós decidimos que — porque outro grupo vulnerável se fez bem conhecido — é aceitável retirar das garotas o Título IX, que lhe deu suas próprias proteções, suas próprias equipes e suas próprias bolsas de estudos, e o gosto da vitória que queremos que elas se lembrem como uma referência para suas expectativas, quando elas adentrarem para o mundo?

Aqueles que sofrem de disforia de gênero enfrentam demônios formidáveis. Se esses indivíduos precisam de acomodações especiais como seus próprios banheiros, eles devem tê-las. Estudantes com necessidades especiais têm seus próprios banheiros para tornar suas vidas mais fáceis. Times, também, devem ser criados para acomodar esses estudantes.

Antes de decidirmos que qualquer pessoa se identifique como trans feminina possa entrar em vestiários femininos e competir contra garotas em artes marciais ou corridas, deveríamos fazer reflexões para considerar que apenas garotas estão sujeitas a sentirem sua privacidade ameaçada, sua segurança comprometida, e suas competições esportivas sabotadas. Se esse é o fardo que decidimos que garotas devem carregar em nome da grandiosa equidade, não deixemos que digam que feministas permitiram que isso acontecesse sem debates públicos e — se necessário — uma luta política.

Até o momento, no entanto, feministas que antes diziam defender os direitos de garotas estão sem vontade de definir o que uma “garota” é — e o que não é. A Faculdade Smith, um bastião feminista, agora proclama que “mulher” é quem se auto declara como sendo. Nessa competição por recursos, direitos e dignidade, garotas biológicas estão perdendo muito. A raposa entrou no galinheiro, como dizem os mais velhos, enquanto organizações de mulheres mantém a ficção de que ambas as espécies são galinhas — só que uma galinha está devorando as outras.


Tradução do texto original de Abigail Shrier, em 03/02/2019

https://www.city-journal.org/transgender-equal-access?fbclid=IwAR0H2OUJaAjgUEiBcWLmhbnsybCmirt64dLRtVMWKv5a5eHNsBfNiLxgL5s