A dificuldade da mulher autista na sociedade

Se para nós mulheres a vida não é fácil por conta do machismo, já imaginou como é para a mulher autista?

Pois então, para dar uma contextualizada da necessidade que tenho de escrever sobre isso, tenho três filhas mulheres e me sinto na obrigação de lutar, e ensiná-las a lutar também todos os dias contra o patriarcado, mas e quando você tem uma filha autista? Eu sei que não vai ser tarefa fácil, mas a vida não é fácil mesmo, então eu vou para mais uma luta.
Porém, o que vou escrever é através da experiência de uma mulher que está dentro do espectro autista. Se somos desvalidadas por nossa fala, se desvalorizam nossa luta sendo mulheres funcionais (no conceito e padrão social), nos chamando muitas vezes de histéricas e paranóicas, imagine uma mulher que está dentro do espectro autista.

Inicialmente, as mulheres no espectro tendem a fazer “masking”, as meninas de forma geral são educadas para atender aos padrões da sociedade, com toda essa pressão de padronização, as meninas neuroatípicas tentam esconder as estereotipias. Ou seja, isso dificulta o diagnóstico das meninas, então temos mais meninos com diagnósticos do que meninas.

Somente as meninas em condições severas, eram diagnosticadas na infância, as meninas com alta funcionalidade, só vieram a ter diagnósticos na fase adulta. Grande parte das mulheres com diagnóstico tardio, revela que a falta do diagnóstico precoce provocou um grande sofrimento.

As relações são mais complicadas pela falta de habilidade social, elas tentam imitar as outras mulheres para se manter dentro da “caixa”, que a sociedade diz como a mulher deve agir, ser e pensar. A mulher neuroatípica com dificuldade de verbalização fica mais suscetível a relações abusivas e abusos sexuais, ela encontra dificuldade em contar e para entender que aquele comportamento é errado.

Algumas encontram problemas no trabalho, pelo fato de ter comportamento diferente e, mais uma vez, precisam se esconder atrás da máscara social que elas se colocam, para poder ter uma vida mais “normal”.

E se houver assédio no trabalho? A mulher neuroatípica com dificuldade de verbalização, vai sofrer de forma intensa, ninguém vai perceber e identificar o abuso, e essa mulher talvez peça demissão do trabalho, vão culpar sua condição.

Fala-se muito sobre as diferenças entre homens e mulheres nesta condição, existem comparações com relação às características do gênero. Na atual conjuntura, os homens são vistos com altas habilidades e superdotação, enquanto as mulheres não possuem para a sociedade algo notório, pelo fato de estar no espectro.

Quando esta mulher está dentro do espectro, mas é considerada nível 1, as pessoas costumam questionar comportamentos pelo fato de o autismo não ter característica na aparência física, como usar assento preferencial que é de direito, vagas preferenciais para estacionar, filas prioritária de banco. Por toda funcionalidade da mulher, que teve que se enquadrar dentro dos padrões, as pessoas não entendem, e referem-se ao autismo leve como se nada fosse. Mas a pergunta é: essa leveza se aplica à mulher nesta condição? A quem se aplica?

Não existe nada leve para a mulher atípica, além dos problemas sociais, laborais, acadêmicos e capacitismo, existe ainda a maternidade para esta mulher. Quando ela se torna mãe, ela é muito mais cobrada e questionada do que o homem. A paternidade para o homem neuroatípico é como a do homem típico, se ele encontra dificuldades tem alguém para apoiar, ou alguém para assumir esta responsabilidade, mas e quando é a mulher atípica?

Geralmente o diagnóstico tardio vai atrapalhar muito a vida dessa mulher. Vai ser indagada a forma dela ser e de cuidar dos filhos, a capacidade dela vai estar em jogo, enquanto que a capacidade masculina não será se quer discutida.

As mulheres no espectro precisam da voz do feminismo, elas são silenciadas pelas suas características e estereotipias. Não podemos deixá-las expostas desta forma, sem uma ferramenta de defesa. O patriarcado as engole vorazmente, nós mulheres típicas precisamos usar nossas ferramentas para apoiá-las, temos de ouvi-las e inseri-las cada vez mais ao movimento.