É alarmante o número crescente de garotas que estão tentando reverter a decisão de viver como o sexo oposto.
“Eu queria o máximo possível ter um corpo masculino, mesmo que lá no fundo eu soubesse que jamais conseguiria. Eu queria me livrar dos aspectos femininos de mim mesma.”
Lívia, 23 anos, viveu como um homem trans por 5 anos. Quando ela tinha 20 anos passou por uma dupla mastectomia, uma histerectomia e uma ooferectomia (remoção dos ovários). Ela é uma de 7 mulheres jovens discutindo seus sentimentos sobre transição na primeira reunião do Destransitioner Advocacy Network (DAN), no início desse mês.
Desde a sua formação, em outubro, mais de 300 mulheres que se arrependeram de sua transição de mulher para homem (trans) se apresentaram para obter apoio e aconselhamento. É um número extraordinário. Talvez não seja tão surpreendente quando você percebe que nos últimos dez anos houve um aumento de 3.200% no número de crianças que acreditam ser transgêneros no Reino Unido, dos quais três quartos são meninas. Uma pesquisa rápida no site de financiamento coletivo GoFundMe mostra que mais de 26.000 meninas e mulheres estão buscando dinheiro para fazer uma “cirurgia de topo” (mastectomia dupla) para parecerem mais masculinas.
Aos 15 anos, Lívia foi diagnosticada com anorexia grave. “É tão assustador perceber que meus pensamentos anoréxicos eram sobre (odiar) meu corpo feminino”, ela diz para uma sala atordoada. “Eu realmente gostaria que alguém estivesse lá para me dizer para não castrar meu corpo aos meus 21 anos”.
Parece que Lívia tinha dismorfia corporal, um distúrbio que leva as pessoas a acreditarem que seu corpo é defeituoso, algo que está se tornando cada vez mais prevalente por causa da pressão sobre as mulheres para que se ajustem aos estereótipos femininos. Mas ela foi levada a acreditar que tinha disforia de gênero, em que as pessoas acreditam que nasceram no sexo biológico errado, o que leva ao desejo de fazer cirurgias irreversíveis, geralmente em idade jovem e impressionável.
Lívia é uma de um número devastador de meninas que estão se apresentando em clínicas de gênero e recebendo prescrições de “bloqueadores de puberdade”. Esses medicamentos interrompem o desenvolvimento natural das características sexuais de uma pessoa e aumentam a probabilidade de uma criança permanecer em um caminho médico de progredir para tomar hormônios do sexo oposto. Mas, surpreendentemente, não há pesquisas sobre os efeitos a longo prazo desse medicamento, descrito por vários clínicos que estão na ativa desde o lançamento do DNA como “altamente tóxico e potencialmente perigoso”. No entanto, o NHS mudou recentemente sua política para permitir que o Serviço de Identidade de Gênero (GIDS) ofertado por eles prescreva bloqueadores de puberdade para crianças abaixo de 12 anos que estão com a puberdade estabelecida.
Há, no entanto, um número crescente de médicos preocupados e profissionais de saúde mental que estão dispostos a falar sobre o problema. Esses profissionais estão profundamente preocupados com o aumento maciço e a normalização de crianças transgênero e disseram que — embora o clima atual seja de que questionar a ideologia transgênera seja rotulado transfóbico e que isso coloca em risco seus empregos e meios de subsistência deles — é preciso falar sobre isso. Todos os participantes da Conferência de Transição estavam correndo um risco.
A DAN foi criada por Charlie Evans, escritora de ciência de 28 anos de idade, nascida mulher, mas que se identificou como um homem por uma década. No ano passado, Evans decidiu fazer a destransição e divulgar seus motivos. A trajetória de vida de Evans é semelhante à de muitas mulheres que destransicionaram. Ao se assumir lésbica aos 11 anos de idade, Evans se sentiu desconfortável com a resposta negativa de meninas e meninos da sua escola. Ela suportou a crueldade e os comentários homofóbicos deles por anos, e, aos 14, ela descobriu que muitas em seu grupo estavam transicionando de meninas para meninos. Foi convincente, ela disse.
“Eu fui atraída por isso”, Evans me diz. “Gosto de outras garotas, armas, caminhões e lama, não gosto de cabelos compridos, sou muito bagunceira e meu quarto parece um quarto de menino, portanto devo ser um menino. ”
Evans, que é autista, começou a amarrar os seios e raspou a cabeça aos 16 anos. “Eu disse aos meus pais: ‘Sua filha está morta e não quero que vocês me tratem mais como sua filha. Se vocês comprarem roupas para mim, quero roupas de menino, não de menina. ’” Ela havia adotado a posição de que a transição magicamente resolveria seus problemas.
Muitas mulheres que estão destransicionando tomaram testosterona e fizeram cirurgias irreversíveis, como mastectomia total, histerectomia, e a construção de um pênis falso, chamado de faloplastia. Mas Evans nunca foi tão longe. Ela mudou seu nome e pronomes e viveu de acordo com o sexo escolhido, mas não passou pela cirurgia de redesignação de gênero.
E então, várias coisas a levaram a reavaliar sua decisão — incluindo a lenta percepção de que a transição não era a cura que ela esperava para todos os seus males particulares. Hoje em dia ela vive como uma mulher bissexual com preocupações sobre o número crescente de crianças que, confusas a respeito de seus sexos e gêneros, estão sendo mal administradas pelas clínicas de identidade de gênero.
Apesar de existirem transexuais de homem para mulher que falaram abertamente sobre o arrependimento de suas transições, Evans prioriza as jovens lésbicas que foram “cooptadas pelo culto que as convencem que elas são garotos”, porque esse é um grupo atualmente em risco de “ser aliciado pela extrema ideologia transgênera.”
Foi esse grupo em particular que me interessou também. Como feminista ativista, assumi que parte da razão pela qual meninas são atraídas por essa ideologia é escapar de sua feminilidade, especialmente com o atual aumento da misoginia. Então, eu queria saber o quanto que aqueles psiquiatras estavam diagnosticando “disforia de gênero” e o quanto que os cirurgiões que estavam removendo seios e úteros realmente sabiam sobre os problemas subjacentes.
As histórias das destransicionadoras eram angustiantes. Um lamento pelo que foi tirado delas. Era difícil ouvir a sucessão de moças no palco, expressando tanto pesar.
Kira tem 22 anos e tomou testosterona. Em sua profunda voz masculina, ela nos conta como, depois de começar o ensino médio, tornou-se insociável, severamente deprimida e alienada, e acreditava que se sentir atraída por outras garotas a tornava “antinatural”. Aos 14 anos, a mãe de Kira perguntou se ela queria ser um menino.
“Eu pensei que finalmente tinha uma resposta e comecei a ficar obcecada com o processo”, disse Kira à plateia. “Dois anos depois, fui diagnosticada com Transtorno de Identidade de Gênero e, aos 16, passei pelo processo de bloqueadores hormonais e testosterona e, eventualmente, uma dupla mastectomia aos 20 anos.”
“Agora eu aceito quem eu sou — uma mulher que não se conforma ao gênero. Eu não acredito que eu precisasse passar pelo que passei para chegar a essa conclusão”.
Max tem 29 anos e barba cheia — mas não toma mais testosterona. Ela fez a transição para escapar às limitações que uma sociedade misógina impõe às mulheres. “Praticamente toda pessoa nascida do sexo feminino é policiada pela aparência e forçada a ser subalterna para parecer feminina”, ela afirmou. “Transicionar me deu a opção de evitar isso”.
Muitos dos que estavam no encontro estavam com raiva. Quando ouvimos sobreviventes falando sobre as cirurgias e o tratamento hormonal que sofreram, gritou-se que os cirurgiões que realizam operações para remover partes saudáveis do corpo deveriam estar “na prisão”.
As únicas instalações do NHS para jovens transgêneros no Reino Unido são o Tavistok e o Portman Trust. Desde 2015, 35 funcionários se demitiram do Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero, citando a falta de pesquisas de credibilidade sobre disforia de gênero e seu tratamento e de porque houve um aumento tão grande de casos. Como um médico da conferência me disse:
“À medida que a demanda dos menores de 18 anos aumentava, ficou claro que essas meninas, em particular, tinham alguns problemas psicológicos muito sérios, mas foram quase instantaneamente afirmadas como sendo ‘disfóricas de gênero’. Esse diagnóstico é tudo o que é necessário para receber testosterona e subsequentemente cirurgia. Muitos de nós nos demitimos por causa disso e estamos preocupados pelo rumo que as coisas estão tomando.”
Mas poucos ousam ir a público. Dr David Bell, conselheiro psiquiátrico do Tavistok, descreveu porque é tão difícil para aqueles que oferecem serviços de identidade de gênero aceitarem o movimento das destransicionadoras. “Destransiocionadoras são uma ameaça para uma ideologia que chegou a uma qualidade quase totalitária e que não pode ser desafiada”, ele diz. “É extraordinário a forma pela qual, sem evidência alguma, a ideologia trans captou os ouvidos dos políticos ao nível mais alto.”
Vários médicos com quem eu falo têm esse medo de serem rotulados como “transfóbicos”. Eles se preocupam com a mentalidade rígida que define o tratamento e a intervenção, criando uma abordagem de “ou você está conosco ou está contra nós”. Essa atitude está resultando na medicalização excessiva dessas jovens. Certamente me parece extraordinário, e também a muitos na conferência, que tantas meninas estão sendo colocadas rapidamente nesse caminho de tratamento ao longo da vida, incluindo cirurgia radical, antes de serem ofertadas a elas outras alternativas, como a terapia.
A Dra Vitoria Rose é cirurgiã plástica conselheira na Clínica de Londres. Ela está ciente do aumento nos números de clínicos oferecendo hormônios e encaminhando mulheres jovens para a cirurgia. “Nós sabemos que há um abuso no sistema”, ela disse. “Nós sabemos que há pessoas que se estabelecem como clínicos gerais de gênero que distribuem hormônios e encaminham pessoas que não seguiram esse caminho. No momento, há longas discussões sobre a população mais jovem e como eles são tratados”.
Parte do problema, ela disse, é que “essa geração é muito impressionável”.
É verdade que há mais pressão cultural e influência online dos mais jovens que nunca houve antes. Por que, então, não foi dada a essas garotas “impressionáveis” mais ajuda ao longo do caminho? Por que não foi oferecido a elas um especialista em terapia antes da ação drástica que é receitar bloqueadores de puberdade?
As normas da Sociedade Britânica de Psicologia (BPS, sigla em inglês) sugerem que os clínicos afirmem a identidade de gênero dos jovens, o que significa que seria considerado “má prática” oferecer terapia ou outras intervenções não-médicas ao invés de hormônios e cirurgia. Em outras palavras, se profissionais de saúde mental sugerirem a uma criança que eles poderiam talvez ajuda-la e apoiá-la a se sentir bem vivendo em seus corpos sem ter que muda-lo através de grandes cirurgias e tratamento hormonal de longa duração, eles seriam considerados transfóbicos.
O problema é, como explica o Dr Bell, “o corpo não é como uma fita cassete que você pode pausar. É mais complexo que isso. Quando você é uma pessoa jovem você pensa que a forma como você se sente agora é a forma como você sempre se sentiu.”
Eu deixei a conferência com menos respostas do que eu esperava. Apenas uma ladainha de histórias de vidas jovens perturbadas e corpos distorcidos. Descobri que as atitudes culturais e o reforço dos estereótipos de gênero — como uma mulher deve parecer (dismorfia corporal) e como ela deve se comportar (afirmação de gênero) — fazem parte do problema.
O que está bem claro é que a determinação do lobby trans para interromper a dissidência e a discussão não está ajudando essas mulheres e meninas. É uma abordagem que lhes promete libertação sem determinar do que elas querem se libertar. Uma vez, estávamos fazendo um progresso incrível em quebrar o binário de gênero e incentivar a liberdade de expressão.
Agora, o poder do lobby trans supostamente progressivo significa que não podemos questioná-lo quando uma garota escolher mutilar seu “corpo errado”. É hora de parar de ouvir esse lobby e ouvir com mais cuidado pessoas como a Max. Certamente, estávamos em Manchester, quando ela disse a uma sala cheia de pessoas: “É altamente possível que eu, se tivesse recebido terapia especializada, talvez nunca tivesse feito a transição”.
Texto original de Julie Bindel, 20/12/2019, original pode ser lido aqui.
Que matéria péssima! Um desserviço. Quanta falácia, discurso transfobico e tendencioso, sim, além de patologizante. Estudem mais, se aprofundem antes de falar tanta besteira.
Todo é uma moeda de 2 lados.
Tão importante quanto defender as pessoas transgênero é poder aprofundar a discussão sobre as questões de gênero sem que, de pronto, sejamos taxadas de transfobia. Ótima matéria. Precisamos olhar para nossas meninas e meninos com profundidade, como seres únicos, que precisam ser ouvidos e tratados sem preconceito, mas também sem direcionamento militante.
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