utero de flor

O que é uma mulher?

Dispa todos os estereótipos e sobra no final uma fêmea humana adulta socializada.

Essa definição é absolutamente eficiente podendo ser aplicada amplamente. Busque essas pessoas, as tais mulheres, em qualquer tempo, em qualquer lugar e poderá encontrá-las procurando pelas “fêmeas humanas adultas socializadas”.

São o mesmo grupo, sujeitas potencialmente a todo o conjunto de fenômenos biológicos possíveis para quando se é uma FÊMEA. E por serem fêmeas, são todas atravessadas por uma socialização básica comum e sujeitas a fenômenos sociais muito parecidos. Simples assim.

E, por óbvio, a cultura e a história vai resultar em “tipos” diferentes de mulheres.

Uma mulher negra periférica, uma mulher amarela classe média, uma mulher branca rica, uma mulher branca deficiente, uma mulher negra lésbica, uma mulher indígena, uma mulher autoidentificada como homem. Todas “diferentes”.

Mas todas suscetíveis aos mesmos fenômenos biológicos característicos de fêmeas: ter vulva, vagina, útero, seios lactantes, menstruar, gestar, parir, amamentar, entrar em climatério, e mais todas as características morfológicas e fisiológicas.

Todas com a mesma socialização básica: o entendimento de que mulheres são inferiores aos homens e tem por função servi-los e dar-lhes filhos.

E todas suscetíveis aos mesmos atravessamentos sociais: maternidade compulsória, heterossexualidade compulsória, violência sexual masculina, exploração de mão de obra reprodutiva.

Mulheres.

E o que é um homem, em contraponto?

Dispa todos os estereótipos e encontra um macho humano adulto socializado.

Busque os homens, em qualquer tempo, em qualquer lugar e poderá encontrá-los procurando pelos “machos humanos adultos socializados”.

São o mesmo grupo, sujeitos potencialmente a todo o conjunto de fenômenos biológicos possíveis para quando se é um MACHO. E por serem machos, são todos atravessadas por uma socialização básica comum e sujeitos a fenômenos sociais muito parecidos.

E, por óbvio, a cultura e a história vai resultar em “tipos” diferentes de homens.

Um homem negro periférico, um homem amarelo classe média, um homem branco rico, um homem branco deficiente, um homem negro gay, um homem indígena, um homem autoidentificado como mulher.

Todos suscetíveis aos mesmos fenômenos biológicos característicos de macho: ter pênis, próstata, ereção, ejaculação, andropausa e mais todas as características morfológica e fisiológicas.

Todos com a mesma socialização básica: o entendimento de que homens são superiores a mulheres e que tem por função ser servido e cuidado por mulheres.

E todos suscetíveis aos mesmos atravessamentos sociais: heterossexualidade compulsória, socialização para agressividade e violência — contra mulheres. A ideia de que deve dominar a natureza.

Homens.

E aqui tivemos biologia básica, sociologia e de brinde agora uma pitada de teoria feminista, também conhecida como LUCIDEZ:

Esses dois grupos, como podem perceber são organizados de forma a manter uma relação desigual, marcada pela hierarquia. Um grupo se aprende inferior e passível de ser dominado. O outro grupo se aprende superior e possível de ser dominante. E por isso, por causa do tipo de interação que realizam entre si, tornam-se classes, estamentos. Classes sexuais onde o homem (o macho socializado para dominar) domina a mulher (fêmea socializada para ser dominada).

E eu tendo a afirmar que esse raciocínio é bastante irrefutável visto que é baseado numa coisa chamada REALIDADE MATERIAL E HISTÓRICA.

Aplicada em qualquer tempo. Qualquer espaço. Faça a experiência e tenha uma surpresinha, bem vinda ao que chamamos de patriarcado.

E agora vamos ao maravilhoso mundo dos terraplanismos que nos assolam.

Mulheres que se autoidentificam como homens (aka “homens trans”) ainda são biologicamente fêmeas humanas (e portanto disponíveis para todos os fenômenos característicos da espécie como menstruar e gestar), também foram socializadas (ao menos, seguramente, na primeira infância) para cumprir os papeis sociais básicos destinados a quem nasce fêmea, e foram atravessadas, boa parte da vida, por fenômenos comuns a quem é uma fêmea humana. E ainda são atravessadas por tensões extras por conta de suas tentativas de reorganizar seu papel social baseado no sexo. São pessoas que tendem a desenvolver disforia, depressão, sofrem violência masculina e querem visibilidade. Querem ser reconhecidas como homens.

Homens que se autoindentificam como mulheres (aka “mulheres trans”) ainda são biologicamente machos humanos (e portanto disponíveis para todos os fenômenos característicos da espécie como ter ereção e ejacular), também foram socializados (ao menos, seguramente, na primeira infância) para cumprir os papeis sociais básicos destinados a quem nasce macho, e foram atravessados, boa parte da vida, por fenômenos comuns a quem é um macho humano. E ainda são atravessados por tensões extras por conta de suas tentativas de reorganizar seu papel social baseado no sexo. Também são pessoas tendem a desenvolver disforia, depressão, sofrem violência intra-masculina e querem visibilidade. Querem ser reconhecidas como mulheres.

Exceto que não é possível. Desculpa pessoal.

Se você nasce uma mulher, identificar-se com um homem não te tornará um. Porque agora você sabe o que é um homem. E se você nasce homem, identificar-se como uma mulher não vai te tornar uma. Porque agora você sabe o que é uma mulher.

E assim, não há nada de errado em CONSTATAR isso, tá?

Todo o assédio moral que pessoas sofrem por dizer essa obviedade atende a uma agenda patriarcal misógina porque embaralhar e apagar o significado dessas classes sexuais é uma estratégia muito esperta do patriarcado para frear avanços do movimento de libertação das mulheres.

Mas olha, quando temos conceitos bem definidos podemos dizer com a consciência tranquila. Mulheres não homens. Homens não são mulheres. Há um abismo (biológico e social) entre essas duas categorias. Abismo esse que não é possível de ser transposto por mera vontade individual, ou mesmo demanda de um grupo isolado.

Vivemos em uma sociedade de estamentos. De classes bem definidas e que estão aí estabelecidas há uns 6 mil anos e contando, privilegiando homens e oprimindo mulheres. E a única coisa que pode realmente mudar a definição dessas categorias se chama: REVOLUÇÃO SOCIAL.

Só com o fim da estrutura do patriarcado, com o fim da hierarquia entre os sexos, mulheres poderão ser apenas fêmeas da espécie humana vivendo e se comportando como bem entender sem que o seu corpo signifique opressão, sofrimento e tortura. E homens poderão ser os machos da espécie humana, sem esse pacto com a masculinidade que os transforma em máquinas de destruição em massa.

Mas dá um trabalho danado isso né? Parece utópico. Irrealista. Nem parece que ontem, nós mulheres, nem alfabetizadas éramos e hoje estamos aqui, avançando contra essa merda toda.

O que é triste nisso tudo é a instrumentalização de pessoas que realmente acreditam estar lutando pra incluir populações marginalizadas, ou lutando contra o patriarcado, ou incluindo “todes”. Mas eu me pergunto realmente se ninguém nota como isso é uma solução fácil, enlatada pelo sistema capitalista pra cooptar as pessoas para uma luta que os interessa e não pra disputa que é realmente transformadora.

E sobre como é alienante. Sobre como vamos nos tornando alienados do que nos oprime aderindo a essas fantasias vocabulares. Se não pronunciar não existe. Vamos fingir que homens podem ser mulheres. Vamos fingir que podemos nos mover entre as castas, vamos ignorar toda a organização da estrutura patriarcal que nos troca de roupa mas não troca de função. Vamos usar uma “linguagem neutra”, porque sim, a linguagem neutra está diminuindo os índices de feminicídio, casamento infantil, leis repressivas contra o aborto.

Vamos falar “pessoas que menstruam”, “pessoas que gestam”, “pessoas que amamentam”, mas olha só, todas essas pessoas só podem ser fêmeas humanas. Porque só fêmeas tem potencial biológico (realizado ou não) para realizar essas atividades. E estas fêmeas humanas (a despeito de como queiram ser vistas e chamadas), não controlam como são tratadas pelo patriarcado. A despeito de como se identifiquem.

E o patriarcado sabe bem o lugar de cada fêmea.

Parece que a frase “dividir para conquistar” não significa nada pra essa galera.

Chega de burrice, pelo amor de deus.