O livro é resultado da tese de doutorado da autora e conta a história das mulheres organizadas, a partir da greve de 1917 até o começo do Estado Novo, em duas frentes principais: a das mulheres trabalhadoras em torno dos seus direitos e a luta por espaço institucional e direito à vida pública. A autora também faz a relação das lutas das trabalhadoras com o governo Vargas.
O mais interessante desse livro foi conhecer a história da luta das mulheres trabalhadoras, que é tão negligenciada até mesmo na história do movimento feminista. Normalmente, quando falamos dos primórdios da luta organizada de mulheres, comumente chamada de primeira onda do feminismo, o foco recai sobre o direito ao voto. Obviamente foi uma conquista do movimento feminista depois de muita luta, mas não foi a única pauta que as mulheres propunham.
Uma das razões pela qual a autora fala que se dá a ênfase na questão do voto é justamente porque costumamos contar a história pelo lado “vencedor”, no sentido de que essa é uma luta que serve melhor aos ideais liberais do que a luta por creches gratuitas, por exemplo. E, sim, havia mulheres organizadas em 1917 lutando por essas pautas e muitas outras, até mesmo para acabar com assédio sexual no trabalho.
Quando pensamos na luta das mulheres trabalhadoras durante a primeira onda feminista, normalmente a associamos a poucos nomes, como se elas destoassem da luta principal, e não fossem parte de algo maior, como os escritos de Maria Lacerda de Moura (ou Emma Goldman, no exterior), porém muitas greves foram deflagradas por mulheres (tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo).
Enquanto isso, os homens trabalhadores tentavam absorver a luta das mulheres desvirtuando completamente o propósito. A solução de alguns deles, inclusive líderes sindicais, era impedir mulheres de trabalhar, porque isso feria a delicada natureza feminina. Além de que havia culpabilização das mulheres pelo fato de os homens estarem desempregados, o que trazia à tona a discussão da pauta da proibição do trabalho feminino dentro do movimento de trabalhadores.
As mulheres resistiram e foram agentes de sua própria história. Focar na luta pelo direito ao voto é uma narrativa escolhida a dedo para diminuir os feitos das mulheres organizadas no começo do século XX.
Por fim, achei o livro muito interessante, ele traz muitos dados, mas é um pouco repetitivo, como as teses costumam ser.
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