Infelizmente, a intolerância política tem se tornado cada vez mais frequente— sobretudo na internet. Ela surge de forma clichê e narcisista, sob o disfarce de bordões e frases de efeito. Em poucas palavras, o que a direita conservadora chama de mitar, a esquerda “revolucionária e desconstruída” entende como lacrar. Apesar de suas propostas antagônicas, neste ponto específico, os dois lados se assemelham.
Por ser uma mulher lésbica, eu compreendo que muitos não tenham paciência de explicar seus posicionamentos a pessoas que não compartilham — ou até mesmo desrespeitam — da mesma experiência. É evidente que ninguém tem a obrigação de se abrir para o outro, conversando de forma didática sobre sua vida e as dificuldades enfrentadas (até porque isso exige muito preparo). No entanto, no momento em que alguém se propõe a atuar no ativismo e a “não se calar” diante de situações que repudia, assume responsabilidades.
Eu sempre defendi que não se deve confundir a reação do oprimido com a agressão do opressor, afinal, são pesos e medidas diferentes. Não existe equilíbrio no confronto entre minorias e privilegiados. Contudo, com o passar do tempo, percebi que esta é uma noção clara para mim — mas, e para os outros? Será que todos enxergam as estruturas de poder da mesma forma que eu? Mais que isso, será que minha percepção é totalmente correta, livre de falhas?
Devemos lembrar que os espaços social, político e econômico influenciam o discurso reproduzido por um indivíduo. Por isso, é necessário entender o lugar que essa outra pessoa ocupa, quais são suas vivências e os motivos que ela tem para pensar de tal forma.
Quando você se recusa a ouvir (“não fecho com tal coisa!”), bradando que não admite determinado comportamento — e recebendo aplausos dos militantes de plantão –, sua luta se enfraquece. Rejeitar uma discordância é o tipo de atitude que afasta pessoas, que inclusive poderiam apresentar diferentes pontos de vista e enriquecer sua visão de mundo.
Não adianta transmitir conceitos carregados de arrogância e academicismo a alguém que não teve a oportunidade de frequentar uma universidade. Assim como não faz sentido que ideias distantes das normas científicas sejam inferiorizadas e desprezadas. Escute, mas sem a intenção de atacar ou de encontrar um erro na fala de seu interlocutor. Permita-se questionar o seu lado da moeda. Ter dúvidas, estudar, dialogar e até mesmo mudar de opinião.
Ao final do dia, o que conta mais? Ouvir um “a senhora lacra!” que vai inflar o seu ego, ou saber que conseguiu trocar conhecimento através de um debate produtivo?
Se você apenas grita e nunca ouve, não existe comunicação. Sem comunicação, não há avanço. Simples assim.