Mulheres com deficiência e o feminismo
"Autorretrato con el retrato del Dr. Farill", por Frida Kahlo, 1951

Dados trazidos pelo IBGE (2010) informam que 46 milhões de brasileiros são pessoas com deficiência, e que 26,5% das mulheres brasileiras apresentam alguma deficiência, todavia, apesar desse índice significativo, mulheres com deficiência são invisibilizadas pela sociedade, em diversos aspectos. Há poucos estudos a respeito das vivências das mulheres com deficiência no meio acadêmico; atrizes, cantoras ou modelos com deficiência não são vistas ocupando lugares de destaque na mídia e até mesmo os movimentos sociais esquecem de incluir pessoas com deficiência em suas militâncias.

O próprio movimento feminista muitas vezes esquece de incluir as mulheres com deficiência em sua luta. A imagem de Frida Kahlo é fortemente vinculada ao movimento feminista, entretanto, grande parte das vezes a deficiência da artista é apagada, poucas mulheres se lembram de que Frida teve poliomelite na infância e uma das pernas amputadas durante a vida adulta.

Quando se trata da violência, o movimento feminista comumente esquece de mencionar que mulheres com deficiência se tornam ainda mais vulneráveis, de acordo com Kvam (2000) pessoas com deficiência têm duas a três vezes maior risco de sofrerem abuso, já que podem ser menos aptas a se defenderem, a relatarem o abuso ou a compreenderem o que é ou não tolerável – esse risco se intensifica quando se trata de mulheres. Segundo Mello e Nuernberg (2012), o isolamento social, o grau de funcionalidade e a dependência de cuidadores também são fatores que tornam as mulheres com deficiência mais vulneráveis a violência e ao abuso sexual.

Outra problemática relacionada, é que mulheres com deficiência têm maior dificuldade de fazerem a denúncia, muitas não conseguem se locomover sozinhas até as delegacias e dependem exclusivamente do agressor. No caso das mulheres surdas e com comprometimentos na fala, a situação também se torna complicada, pois as delegacias não contam com intérpretes de libras.

Além disso, diversas mulheres se tornam mulheres com deficiência por conta da violência, como é o caso de Maria da Penha, que se tornou paraplégica por conta da violência doméstica e hoje dá nome a Lei brasileira mais conhecida em relação à proteção de vítimas de violência.

No que refere-se às questões de saúde da mulher, mulheres com deficiência também ficam à margem, já que não são incluídas em campanhas como o Outubro Rosa, ou campanhas relacionadas à prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Grande parte destas campanhas não são acessíveis a todas mulheres e não consideram mulheres com deficiência como público alvo, já que frequentemente são vistas pela sociedade como assexuadas, tendo suas identidades apagadas e sendo desumanizadas.

O próprio esquecimento da sociedade, inclusive dos movimentos de militância como o feminismo, torna as mulheres com deficiência mais vulneráveis a diversos tipos de violência e opressões. É preciso que mulheres com deficiência sejam incluídas nos debates sociais e políticos para que se possa combater a opressão contra esse grupo.    

Esquecer das mulheres com deficiência é esquecer de uma parcela significativa de mulheres negras (27%), pardas (26%), indígenas (21%) ou brancas (25%). Existem mulheres lésbicas com deficiência, mulheres bisexuais com deficiência, mulheres gordas com deficiência, mulheres magras com deficiência, mulheres pobres com deficiência e mulheres ricas com deficiência. Existem todos os tipos de mulheres com deficiência. A deficiência é um fenômeno plural, assim como o movimento feminista deve ser. O feminismo só pode existir se for baseado na sororidade entre todas a mulheres, só assim é possível acabar com as opressões do patriarcado, portanto, a inclusão das mulheres com deficiência é fundamental para fortalecer o próprio movimento feminista, abranger todas as diferenças deixa o feminismo mais forte.

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autora selecionada na Chamada de Textos QG Feminista

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