Assim como a internet mudou nossas formas de comprar livros, pacotes de viagens e aparelhos eletrônicos, também mudou a forma como a prostituição é organizada. Agora a internet é uma das diversas formas pelas quais compradores entram em contato com mulheres (e outros) para as quais pagam por “serviços sexuais”.
AdultWork e VivaStreet são os maiores sites de propaganda de “serviços sexuais” do Reino Unido. Aparente os próprios indivíduos que oferecem “serviços sexuais” que são responsáveis por seus anúncios. No entanto, uma pesquisa do Grupo Parlamentar sobre Prostituição, que é formado por todos os partidos, juntamente com o Global Sex Trade (o APPG) descobriu que na verdade são proxenetas e traficantes que usualmente oferecem as mulheres (geralmente um comanda várias mulheres), sendo que essas têm pouco ou nenhum controle sobre as próprias contas.
Os sites cobram para fazer a publicidade, e os compradores não pagam para fazer contato com as mulheres — normalmente as propagandas fornecem um número de celular pelo qual os compradores estabelecer contato direto com elas. No entanto, compradores pagam por serviços adicionais, como fotos íntimas e aparições ao vivo através da webcam.
De acordo com pesquisa da Universidade de Leicester, foram detectados mais de 18.500 perfis ativos somente no AdultWork, no período de três meses de duração do estudo em 2017. Para se manter no mercado, existe uma pressão contínua de adicionar conteúdos “extras” (pelos quais o site cobra taxas adicionais) — que está conduzindo uma corrida geral ao fundo em termos de controle de condições para mulheres.
Proxenetas e traficantes que postam anúncios têm muitos lucros. Em maio de 2017, David Archer, de Essex, foi sentenciado a um total de 13 anos de prisão — por crimes sexuais, controle de prostituição, tráfico, ocultação de propriedade criminosa e fraude de identidade.
O jornalista responsável pela notícia, publicada pelo Daily Mail, disse que o condenado “recrutou mulheres ‘vulneráveis’ para prostitui-las em áreas de comércios, antes de criar para elas perfis no AdultWork.” A matéria diz que ele lucrou um total de 16 milhões de libras e que ele ganhou “um total de 1,6 milhão de libras de bordéis em apenas um ano.”
Quando há lucros tão exorbitantes para um pequeno grupo local de proxenetas, não é surpresa nenhuma de que quando uma mulher que é realmente independente posta seus anúncios em qualquer um desses sites, ela seja xingada, perseguida e ameaçada por cafetões que querem cortar seus ganhos.
Já ouvimos de mulheres sobreviventes de prostituição que cafetões tiravam fotos íntimas delas e publicavam na internet, em sessões de “Galeria Privada” no AdultWork, por exemplo. Homens pagam para acessar essas fotos, e são os proxenetas que lucram em cima delas, mesmo depois de mulheres terem conseguido escapar deles.
Avaliações
Alguns argumentam que sites de prostituição deixam as mulheres mais protegidas, porque dessa forma elas podem rastrear compradores. No entanto, a internet também permite a compradores novas formas controlar e assediar mulheres em situação de prostituição.
Como o Airbnb, o AdultWork tem mecanismos que permitem com que compradores e ofertantes avaliem e sejam avaliados. No entanto, isso não é um mecanismo de triagem sem falhas, porque, ao contrário do Airbnb, o AdultWork não exige dos compradores uma identificação legal — dessa forma, se eles recebem avaliação negativa, nada impede que eles façam novo perfil. Mas essa não é uma opção realista para quem faz anúncios. Então, o mecanismo de avaliação tem um desequilíbrio de poder intrínseco — assim como o próprio sistema de prostituição.
As avaliações dos compradores determinam quanto mulheres poderão cobrar no futuro, ou quantos compradores elas irão atrair. É claro que os compradores sabem disso e usam disso para tirar vantagens — por exemplo, para coagir mulheres a aceitarem práticas dolorosas, terem comportamento sexual arriscado ou a darem descontos. Fóruns independentes de compradores (como o UK Punters) ainda fornecem futuras oportunidades de retaliações às mulheres que das quais eles não gostam. Às vezes eles fazem isso em grupos, como uma alcateia de hienas.
E, claro, cafetões têm suas próprias maneiras de punir mulheres que eles controlam que são mal avaliadas.
Longe de deixar as mulheres protegidas, o mecanismo de avaliação faz com que mulheres fiquem vulneráveis de várias formas novas.
Texto publicado em 11 de julho de 2019. Original pode ser lido aqui.