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O Significado de Nosso Amor pelas Mulheres É O Que Devemos Expandir Constantemente

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O Significado de Nosso Amor pelas Mulheres É O Que Devemos Expandir Constantemente
O Significado de Nosso Amor pelas Mulheres É O Que Devemos Expandir Constantemente
Capa do “The Meaning of Our Love for Women Is What We Have Constantly to Expand”, publicado pela Out & Out Books, em 26 de Junho de 1977.

Este texto é, na verdade, um discurso proferido por Adrienne Rich no New York Lesbian Pride Rally de 1977. No mesmo ano, chegou a ser publicado em uma série de publicações curtas (ou “panfletos”) intitulada Pamphlets Series, da (extinta) Out & Out Books, editora que também publicou, durante os anos de 1975 e 1980, textos e livros de autoras como Audre Lorde, Barbara Smith e Marilyn Hacker. Posteriormente, este discurso foi publicado no livro On Lies, Secrets, and Silence: Selected Prose 1966–1978, uma coletânea de 21 textos da autora, lançado pela W. W. Norton & Company em 1979.

Alguns desses textos já apareceram em outras publicações, como Chrysalis: A Magazine of Women’s Culture, Parnassus: Poetry in Review, e Heresies: A Feminist Magazine of Art and Politics; outros serviram de textos introdutórios para livros e alguns são conversas com outras pessoas transformadas em ensaios.

Os ensaios reunidos neste livro abordam assuntos assuntos como cuidados infantis, conscientização, tokenismo, programas de estudos femininos, psiquiatras masculinos, maternidade, lesbianismo, direito de mães lésbicas, igualdade de salário, feminismo negro, aborto, assédio sexual no trabalho, abuso físico de mulheres e pornografia.

O Significado de Nosso Amor 
pelas Mulheres 
É O Que Devemos
Expandir 
Constantemente (1977)

O verão de 1977 foi um verão de marchas militantes do “Orgulho Gay”, escrutinadas pela mídia, respondendo à campanha anti-homossexual cujo símbolo midiático era uma mulher, Anita Bryant. O movimento gay masculino escolheu Bryant como um alvo para a sua raiva com uma animação sugestiva da ginofobia subjacente, e não reconhecida, do movimento. “Anita” foi equiparada a Hitler, ou viciosamente satirizada em relação à sua aparência; enquanto o marido e o pastor em seus ombros, os interesses corporativos financiando “sua” cruzada, os Cônegos das Igrejas e a Legião Americana que incutiram isso nela foram esquecidos. A imagem de uma mulher tornou-se o foco simplista do movimento gay.

Muitas lésbicas/feministas andaram nessas marchas sentindo-se dilaceradas e alienadas; nós entendemos que era necessária uma forte presença de mulheres para conscientizar o público de que mulheres são um grupo significativo, que tiveram seus direitos civis negados por leis anti-homossexuais; no entanto, o tom de ódio às mulheres de grandes seções das marchas nos reafirmou que não poderíamos encontrar uma verdadeira solidariedade “fraterna” no movimento gay. Nossa compreensão sobre o significado de Anita Bryant e do significado da identificação da mulher era de necessidade mais complexa. Este discurso, lido para um pequeno grupo de mulheres que escolheram se separar da demonstração de Orgulho Gay ocorrida no Sheep Meadow, área leste do Central Park, em Nova York e realizar sua própria manifestação foi, mais tarde, impresso como o primeiro de uma série de panfletos sobre lesbianismo/feminismo, editada e impressa pela Out & Out Books, editora de Brooklyn, Nova York.

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Gostaria de falar sobre algumas conexões que, acredito, são urgentes de fazer neste momento — conexões que exigem de nós, não apenas orgulho, raiva e coragem, mas disposição para pensar e enfrentar nossa própria complexidade.

Um ataque contra a homossexualidade está sendo orquestrado pela Igreja, pela mídia, por todas as forças neste país que precisam de um bode expiatório para desviar a atenção do racismo, da pobreza, do desemprego e, sobretudo, da corrupção obscena na vida pública¹. Não é nem um pouco surpreendente que este ataque tenha criado uma nova imagem popular e infame do mal feminino: Anita Bryant. Deve ser óbvio para todos nós que nenhuma mulher em uma sociedade dominada pelos homens pode brandir a influência pública atribuída à Anita Bryant, a menos que os homens digam o que ela deve fazer e a menos que as redes de poder do sexo masculino a forneçam acesso à mídia, publicidade gratuita e apoio financeiro, como eles forneceram à Phyllis Schlafly, da campanha anti-ERA.

No fim de semana passado em Los Angeles, essas forças juntaram-se para tentar assumir o controle da International Women’s Year Conference, na Califórnia. Apenas uma massiva participação de feministas impediu a aprovação de resoluções essenciais para a retirada de cada avanço obtido pelo movimento feminista nos últimos oito anos. Deve ficar claro que Anita Bryant e Phyllis Schlafly são as máscaras por trás das quais o sistema de dominação masculina está atacando, não apenas lésbicas, ou homens “gays”, mas mulheres e o movimento feminista — mesmo na sua forma mais moderada; e que o ataque está sendo alimentado e promovido pelas únicas pessoas nos Estados Unidos com recursos para fazê-lo: os homens.

Também sabemos que, na retórica de Anita Bryant, assim como na retórica do movimento “gay” masculino, a “homossexualidade” é vista através de uma lente masculina e como uma experiência masculina. Eu parei de acreditar que isso é porque lésbicas são consideradas como “não ameaçadoras”. Assim como o homem homofóbico odeia o homem homossexual, há um pavor muito mais profundo — e extremamente fundamentado — no patriarcado da mera existência de lésbicas. Juntamente com perseguição, somos confrontadas, sobretudo, com um sufocante silenciamento e negação: a tentativa de nos excluir, por completo, da história e da cultura. Este silêncio é parte da totalidade do silêncio sobre a vida das mulheres. Também tem sido uma maneira eficaz de obstruir o intenso e poderoso aumento da comunidade feminina e o compromisso da mulher com a mulher, o que ameaça muito mais o patriarcado do que o vínculo de homossexuais masculinos ou a contestação de direitos iguais. E, finalmente, há uma ameaça ainda mais profunda agora apresentada pelo lesbianismo/feminismo, que é uma força totalmente nova na história.

Antes que qualquer tipo de movimento feminista existisse, ou pudesse existir, lésbicas existiam: mulheres que amam mulheres, que se recusam a cumprir com as regras do comportamento imposto às mulheres, que se recusam a se definirem em relação aos homens. Essas mulheres, nossas antepassadas, milhões cujos nomes não sabemos, foram torturadas e queimadas como bruxas; difamadas em tratados religiosos e, posteriormente, “científicos”; retratadas na arte e na literatura como mulheres bizarras, alheias à moral, destrutivas e decadentes. Durante muito tempo as lésbicas foram a personificação do mal feminino. Ao mesmo tempo, enquanto a cultura homossexual masculina se desenvolvia, as vidas dos homens, como sempre, eram vistas como sendo a cultura “real”. Lésbicas nunca tiveram o poder econômico e cultural de um homem homossexual e aquelas partes das nossas vidas com as quais homens homossexuais não poderiam se identificar — nossos relacionamentos fiéis e duradouros, nossos trabalhos como ativistas sociais em nome de mulheres e crianças, nossa ternura e força feminina, nossos sonhos e visões femininas — só começaram a ser retratados, na literatura e na academia, por lésbicas.

Lésbicas tem sido forçadas a viver entre duas culturas, ambas dominadas por homens, cada uma delas negando e ameaçando nossa existência. De um lado está a cultura patriarcal heterossexista, persuadindo mulheres ao casamento e a maternidade usando todas as pressões possíveis — econômicas, religiosas, médica e legal — e que, literalmente, colonizou os corpos das mulheres. A cultura patriarcal heterossexual levou as lésbicas a culpa e às sombras, muitas vezes ao ódio à si mesmas e ao suicídio.

Do outro lado está a cultura patriarcal homossexual, uma cultura criada pelo homem homossexual, refletindo todos os estereótipos masculinos de dominância e submissão que moldam os relacionamentos e a separação do sexo de um envolvimento emocional — uma cultura contaminada por profundo ódio pelas mulheres. Ao adentrar o sadomasoquismo e o mundo violento e autodestrutivo dos bares “gays”, a cultura “gay” masculina ofereceu às lésbicas a imitação de papéis esteriotipados de “butch” e “femme”, “ativa” e “passiva”. Nem a cultura heterossexual nem a cultura “gay” tem oferecido às lésbicas um espaço para que possam descobrir o que significa ser uma pessoa autodefinida, com amor próprio, identificada como mulher e não uma imitação de homem tampouco seu oposto objetificado. Apesar disso, as lésbicas sobreviveram através da história, trabalharam, se apoiaram mutuamente e se amaram apaixonadamente.

Tem havido, por quase duzentos anos, feministas conscientes de si próprias²; tem acontecido um movimento homófilo há quase um século e muitas das mais heroicas e intransigentes ativistas em todos os movimentos sociais tem sido lésbicas. Estamos agora, pela primeira vez, a um passo de fundir lesbianismo com feminismo e isto é exatamente o que o patriarcado mais teme e fará tudo em seu poder para nos impedir de alcançar.

Acredito que um movimento lésbico/feminista militante e pluralista é potencialmente, hoje, a maior força no mundo para uma completa transformação da sociedade e da nossa relação com toda vida. Isso vai muito além de qualquer luta por liberdade civil ou igualdade de direitos, por mais necessárias que essas lutas continuem sendo. Em sua forma mais profunda e inclusiva, é um processo inevitável pelo qual as mulheres irão reivindicar nossa visão central e primária de como queremos moldar o futuro.

Nós podemos, contudo, ser colocadas de lado pela mesma estratégia que nos manteve impotentes por séculos. A estratégia têm muitas formas, mas seu propósito é sempre o mesmo: nos separar umas das outras, dizendo que não podemos trabalhar e amar juntas. O patriarcado sempre nos separou em mulheres virtuosas e prostitutas, mães e sapatonas, madonas e medusas. Atualmente, a Esquerda masculina tem constantemente se recusado a trabalhar nas questões das mulheres, a tratar a opressão sexual em termos rasos e hipócritas, a confrontar seu próprio medo e ódio às mulheres. Ao invés disso, continua a tentar dividir mulheres lésbicas e mulheres “heterossexuais”, mulheres negras e mulheres brancas, para representar o lesbianismo como decadência burguesa e o feminismo como trivialidade contrarrevolucionária de classe média, da mesma forma que homens do movimento negro tentaram definir o lesbianismo como “problema de mulher branca” (a respeito, gosto de pensar nas sericulturistas independentes da China — descritas por Agnes Smedley na década de 1930 — que se recusavam a casar, viviam em comunidades femininas, comemoravam o nascimento de filhas com alegria, formavam sindicatos secretos de mulheres nas fábricas e foram, abertamente, atacadas como sendo lésbicas³. A “revolução sexual” definida como masculina da pornografia, uma indústria multibilionária que declara estupros como sendo prazerosos e humilhação como erotismo é, também, uma mensagem para as mulheres que se relacionam sexualmente com homens, de que elas podem ser “normais” apesar de quaisquer degradações que se submetam em nome da heterossexualidade. Melhor colaborar com as fantasias masculinas de violência sexual do que ser lésbica; melhor ser espancada que ser queer.

Hoje lésbicas estão sendo chamadas pelo movimento “gay” masculino a se unir com homens contra um inimigo em comum, simbolizado por uma mulher heterossexual para esquecer que somos mulheres e nos definirmos, novamente, como “gays”. É importante que vozes lésbicas sejam ouvidas, insistindo em nossa realidade lésbica; não podemos nos dar ao luxo de rejeitar ou dispensar nossas irmãs que estão indo à passeata “gay” hoje, embora possamos esperar que elas insistam que o movimento “gay” confronte o próprio sexismo se ainda esperam apoio, mesmo que ocasional, de lésbicas. Sem uma consciência feminista penetrante e insistente, o movimento “gay” é tão pouca fonte de mudanças quanto o Partido dos Trabalhadores Socialistas.

Há outro apelo, que não vem dos homens, mas da dor, da fúria e frustração mais intensas que experimentamos — um apelo a um separatismo lésbico simplista: a fé que se afastar da imensa diversidade burguesa do movimento feminino global de alguma forma fornecerá uma espécie de pureza e energia que avançará nossa liberdade. Todas as lésbicas conhecem a raiva, o sofrimento, o desapontamento; sofremos, politicamente e pessoalmente, de homofobia vinda de mulheres que esperávamos que estivessem muito conscientes, muito inteligentes, muito feministas para falar, escrever ou agir, ou permanecerem caladas em consequência de medo e cegueira heterossexual. A ginofobia dos homens não nos abala tão esmagadora e profundamente quanto a ginofobia das mulheres. Muitas vezes cheguei ao limite dessa dor e raiva e compreendi o impulso do separatismo lésbico. Mas acredito que isso é uma tentação de adentrar uma “corretude” estéril, impotente, uma escapatória da complexidade radical. Quando o aborto — um direito que a Suprema Corte negou, negando mais efetivamente à mulher pobre — é rotulado como um problema “hétero”, nós simplesmente não estamos lidando com o fato de que milhares de mulheres ainda são forçadas, por estupro ou necessidade econômica, a terem relações sexuais com homens; que entre essas mulheres há um número inquantificável de lésbicas; que seja qual for sua orientação sexual, a liberdade de reprodução é um problema que afeta urgentemente a vida de mulheres pobres e não brancas e que virar as costas para milhões de nossas irmãs por amarmos mulheres é enganar-se gravemente. Enquanto houver uma mulher lésbica, uma mulher negra, uma mulher considerada de Terceiro Mundo, ou uma mãe lésbica no mundo, racismo não será um problema “hétero”, maternidade e assistência à infância não serão problemas “héteros”. Violência contra mulher não faz distinção entre classe, cor, idade ou preferência sexual; lésbicas e mulheres que se identificam como héteros são vítimas de esterilização forçada, histerectomias e mastectomias indiscriminadas, do uso de drogas e terapia de eletrochoque para domar e punir nossa raiva. Não há como esquecermos dessas questões chamando-as de “problemas ligados ao homem”. De forma alguma podemos nos dar ao luxo de não fazer vistas grossas.

Neste país, como no mundo de hoje, há um movimento de mulheres em andamento como nenhum outro na história. Não tenhamos dúvida: está sendo alimentado e capacitado por esforço de lésbicas. Elas estão comandando editoras, iniciando revistas e sistemas de distribuição, criando centros de crises e casas de acolhimento para vítimas de estupro e espancamentos; criando diálogos políticos; alterando o uso da linguagem; disponibilizando uma história verdadeiramente lésbica e feminista para nós pela primeira vez; criando organizações de base e fazendo arte visionária. Quero listar algumas instituições que só existem nessa cidade graças à lésbicas/feministas: o periódico 13th Moon; a Out & Out Books, editora; Virginia Woolf House, um coletivo que está arrecadando fundos para abrir um centro para lésbicas em estresse pós trauma, que também fornecerá ajuda para mulheres héteros; Lesbian Herstory Archives, a primeira biblioteca dedicada inteiramente a documentar nossas vidas, passada e presente; a revista Conditions, escrita e publicada por mulheres “com ênfase nos escritos lésbicos”. Essas mulheres, muitas delas, tentam revelar, expressar e apoiar nossa complexidade feminina, agindo em vez de apenas reagir; nos levando para frente. Esses projetos não são “reformistas”. Estamos empenhadas hoje em tentar mudar não um ou dois, mas todos os aspectos das vidas das mulheres.

Precisamos de muito, muito mais: precisamos de centros de mulheres e bares de lésbicas em todos os cinco subúrbios de Nova York, e não apenas um ou dois espaços onde mulheres possam buscar a comunidade longe dos bares; precisamos de lugares de cura para as mulheres, abrigos para mulheres idosas que percorrem as ruas, abrigos para mulheres maltratadas, donas de casa ou prostitutas; abrigos para mulheres que saíram da prisão, clínicas de saúde, centros de acolhimento para crianças, aconselhamento e terapia genuinamente feminista e lésbica, disponibilizadas por profissionais treinadas e experientes e não uma enganação. Precisamos do cérebro, das mãos, da espinha dorsal de todas as lésbicas, em todo o seu amor, habilidade, coragem e raiva.

Nós viemos de muitos passados: de fora da Esquerda, de fora do gueto, de fora do holocausto, de fora das Igrejas, de fora do casamento, de fora do movimento “gay”, de fora do armário, de fora do armário mais escuro e de fora do sufocamento duradouro do amor entre mulheres. Por uma reivindicação feminista histórica de humanidade igualitária, por um mundo livre da dominação através da violência, as lésbicas/feministas se uniram ao conceito mais radical da visão centrada na mulher, uma visão da sociedade cujo o objetivo não é a igualdade, mas a transformação total. Nos últimos anos, as lésbicas/feministas assumiram liderança e responsabilidades em questões que afetam todas as mulheres. Quando estamos totalmente comprometidas com o trabalho, atuando e comunicando com mulheres, a noção de “retirar energia dos homens” torna-se irrelevante; já estamos circulando a energia entre nós⁴. Devemos lembrar que fomos penalizadas, vilipendiadas e zombadas não por odiar homens, mas por amar mulheres. O significado do nosso amor pelas mulheres é o que devemos expandir constantemente.

Pensar sobre o hoje e o seu significado me forçou a me colocar, junto com os meus sentimentos, “na reta”. Esta manifestação e algumas de minhas companheiras, mulheres que eu amo, criaram condições para que pudesse tentar encontrar meu caminho através das complexidades de estar viva, ser lésbica e feminista nos Estados Unidos hoje em dia. Desejo a cada uma de vocês o tipo de desafio, argumento e apoio crítico que eu tive e, para todas nós, o tipo de amor que todas nós merecemos.

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¹: E, claro, da destruição psíquica e física de milhares de mulheres pela heterossexualidade institucionalizada, no casamento e na busca da sexualidade “normal”.

²:Uma estimativa cautelosa. As caças às bruxas dos séculos XIV e XVII na Europa foram, sem dúvida, uma forma de backlash antifeminista; e à medida que desenterramos a história feminina nos séculos anteriores, encontramos mais e mais mulheres politicamente conscientes que se reconhecem individualmente como mulheres.

³: Ver Portraits of Chinese Women in Revolution, de Agnes Smedley (Old Westbury, N.Y .: Feminist Press, 1976).

⁴: O risco de algumas formas irônicas de “falsa transcendência” deve ser observado aqui. O verdadeiro separatismo* ainda não foi definido adequadamente. Algumas “separatistas” gastam muita energia em fantasias de violência contra os homens, enquanto esculacham as mulheres que trabalham em instituições dominadas pelos homens, publicam em mídias controlada por homens, ou mesmo realizam reuniões e eventos culturais em espaços abertos para homens. O “separatismo” explícito no assédio psíquico e físico à mulheres que não cortaram todos os laços com os homens (incluindo seus filhos do sexo masculino) pode ser um desvio de um problema mais grave e difícil, o processo de toda a vida de separar-nos dos elementos patriarcais em nosso pensamento próprio, como o uso de linguagem fálica e o medo de qualquer diferença em relação às nossas posições “corretas”. A mulher cuja psique ainda está fortemente envolvida com um pai, um irmão, um professor ou outras figuras masculinas de seu passado e que nega o poder que essas figuras ainda exerce nela pode se recusar a dormir, comer ou falar com homens, ainda assim ser psiquicamente fascinada pela masculinidade. Afastar-se da identificação masculina, da dependência de sua ideologia demanda uma verdadeira luta psíquica. Portanto, é continuamente reduzido e tratado como uma posição política rígida, um programa, um ato de vontade.


*A.R, 1978: um separatismo que não é simplista nem rígido começa a ser definido, por exemplo, por Mary Daly em Gyn/Ecology: The Metaethics of Radical Feminism, e por escritores como Marilyn Frye em “Some Thoughts on Separatism and Power” publicado na 6ª edição da revista Sinister Wisdom, do verão de 1978.


Tradução de “The Meaning of Our Love for Women Is What We Have Constantly to Expand”, discurso de Adrienne Rich no New York Lesbian Pride Rally de 1977