Lizzo, uma artista amada pelas garotas da rede social “YAS KWEEN”, se proclama se tratar de empoderamento feminino, mas parece incapaz de imaginar o dito empoderamento acontecendo nas calças, aparentemente “mostrou ao mundo com o que está trabalhando”. Effu, haters, para aqueles que não sabem, é melhor transmitido através de nudez ou twerk. Estranhamente, nunca vemos homens colocando tangas e exibindo seus paus como forma de repreender críticos.
De acordo com a People, Lizzo “incendiou a rede social” depois de vestir um traje que pareceria ridículo em qualquer ser humano, independente de aparência ou peso, em um jogo do Lakers: um vestido de camiseta com um círculo cortado, revelando sua bunda.
A artista responde às críticas dizendo que devemos ser nós mesmas, “nunca deixe ninguém te impedir de ser você mesma”. Realmente é uma mensagem que eu geralmente concordo. É, de fato, uma luta sermos nós mesmas. Como mulher, isso pode parecer uma luta constante, especialmente quando somos mais novas, e sentimos uma enorme pressão não apenas para nos comportarmos de maneira apropriada a damas, mas também para termos rostose corpos “perfeitos”, sexualizarmos a nós mesmas de forma a atrair homens, e também para sermos felizes e positivas e não do tipo reclamonas, choradeiras, vadias que afastam homens, porque falhamos em demonstrar uma única dimensionalidade falsa de maneira efetiva. Sempre foi ruim e difícil, no entanto, nas épocas atuais de Instagram e Tinder, as coisas parecem mais deprimentes. Suspeito que todas somos culpadas por postar falsificações online, seja para disfarçar depressão ou poros. A dimensão adicional do pornô torna tudo ainda mais sombrio.
Acho incrivelmente triste o que mulheres jovens estão fazendo hoje em dia para ganhar atenção masculina. A esquerda está muito ocupada promovendo a prostituição como inofensiva e politicamente empoderadora, ignorando os massivos índices de trauma e abusos a que mulheres na indústria são submetidas, e mulheres “normais” estão oferecendo pornografia de graça, em competição com aquelas que são pagas para serem degradadas. Nós realmente acreditamos que precisamos enviar nudes pornográficos para conseguir fazer um cara nos namorar? Ou que os nudes irão fazer alguém querer estar em uma relação conosco?
Eu posso dizer, como alguém que já foi jovem, que sexualizar a si mesma literalmente faz zero chances de diferença para conseguir um cara de qualidade. Atração importa muito, claro, mas não é mais provável que um cara queira te namorar se você mostrar a bunda ou não.
Estou ciente de que estou começando a parecer sua mãe, mas eu legitimamente me sinto mal pelas súplicas das garotas no Instagram e Tinder, desesperadamente tentando vender a si mesmas para homens que aceitem esses presentes pornificados e dizem a si mesmas que é uma “escolha” das mulheres e que, portanto, está justificado eles participarem da cultura da pornografia, tão massivamente. Eles provavelmente estão ajudando, na verdade. Seriam rudes se julgassem, de qualquer forma. A maioria desses caras não merece você. Eu prometo. E se eles querem ver você nua, com certeza podem fazer na vida real, depois de se incomodarem em te conhecer.
O que nos traz de volta a Lizzo. Que de longe não é a primeira a rebolar (twerk) para mostrar empoderamento pessoal. Devemos agradecer ao feminismo moderno por isso! O que eu acho mais estranho e transparente sobre Lizzo e a celebração de sua objetificação é que é claro que toda essa celebração é devido ao peso dela. Então, as pessoas acham que têm carta branca, até mais que o usual, para encorajar e apoiar a bunda dela porque seu corpo não é usualmente o corpo da mulher tipicamente objetificado online e nas mídias. Em outras palavras, a objetificação dela é tratada como algo político.
Mas isso não é político. É a mesma velha chatice, a procura de atenção que muitas de nós fazemos na casa dos 20, tentando convencer o mundo de que somos muito sexys, sexualmente liberadas, que topamos de tudo, mulheres modernas. (Exceto que Lizzo tem 31 anos…). Se todas admitirmos quais nossas motivações são, honestamente eu estaria menos incomodada pela coisa toda. Tipo, sou totalmente capaz de admitir que uso maquiagem porque quero parecer bonita. Se eu estivesse vivendo sozinha em uma ilha qualquer, de forma alguma eu usaria calças normais, nem usaria delineador ou saltos. Você acha que todas essas roupas de baixo que usei nesses Halloweens todos foi por “amor-próprio” (“amor-próprio” está frio, se considerar!) ou por querer parecer atraente para homens? Pode qualquer uma de nós realmente fingir que vestir uma tanga em público e chupar uma garrafa de chamapagne como se fosse um pau não é um esforço para excitar os caras? E, no caso de Lizzo, que mulheres grandes podem ser pornificadas também?
A TIME nomeu a Lizzo Animadora do Ano esta semana. Analisando a cantora, Samantha Irby escreveu que Lizzo “representa algo novo”. Ela promove positividade, amor-próprio e afirmação corporal, Irby argumenta. No entanto é mais do que isso: “Em uma época em que usários de Instagram estão bebendo chá com suas barrigas lisas, ou fingindo comer um hambúrguer de queijo gigante, Lizzo vende algo mais radical: a ideia de que você é o suficiente.”(Maldita seja eu se não odeio esses bunda moles desses influenciadores do Instagram — especialmente aqueles que postam fotos comendo coisas que eles com certeza não comem! Tipo, basicamente você está promovendo bulimia ou obesidade, e normalizando uma dieta não saudável nesse processo.) Mas simplesmente não é verdade que construirá uma carreira com sua bunda como se isso se tratasse de “amem a si mesmas”. Se assim fosse, estaríamos nos contorcendo pelo chão de nossos apartamentos em roupas de malha vermelha, em vez de fazê-lo em uma mesa em frente à mídia, e depois postando para as massas.
O que significa dizer que você “já é o suficiente”, então? Embora eu ache importante aceitar a si mesma e não ser arduamente crítica, eu também rejeito a noção de que nós devemos apenas parar de ser o que somos ou temos atualmente. Não deveríamos estar procurando nos aprimorar, nas mentes, nos corpos e nas almas? A mensagem de que somos perfeitas como somos me parece imatura, considerando quão estúpidas, idiotas, narcisistas e inseguras são as pessoas entre a adolescência e os vinte-alguma-coisa, onde, ao que parece, a mensagem é mais popular.
“Eu acho que é saudável ter um relacionamento com seu próprio corpo, mesmo que ninguém o veja”, diz Lizzo. “Mas eu sempre senti a necessidade de partilha-lo.” E, nossa, o que você acha que é isso? Possivelmente tem algo a ver com a cultura que diz para as garotas se pornificarem online, pois é a melhor forma de adquirir auto-confiança?
Tipo, como você faz. Apenas seja honesta. E pare de dizer às mulheres que sexualizarem a si mesmas é “amor-próprio”, quando realmente se trata de atenção masculina. Não acho que tenha algo errado em querer ser atraente para homens. Se você é heterossexual, isso é provavelmente algo que você queira. Pessoas gostam de sentir que atraem outras. Grande grito. Mas a verdade é que toda essa auto-objetificação não necessariamente ensina “amor-próprio”, e sim a ver a si mesma pelos olhos dos internautas, que não sabem nada a seu respeito — a você de verdade. Ensina a você que se você não pode ser objetificada ou sexualizada, você é invisível ou sem valor. Ensina a você que ganhar curtidas é o melhor juiz. Nada disso soa como mensagem empoderadora para mim. Eu posso te prometer que se você passar sua casa dos 20 construindo sua auto-confiança baseada somente na sua habilidade de conseguir atenção masculina ou curtidas de estranhos, você sentirá verdadeiro pânico quando chegar na meia idade.
Enquanto Lizzo realmente têm talentos bem além de seus esforços de auto-sexualização, sua presença online é quase toda centrada em sua bunda e seu corpo nu. Essa mensagem simplesmente não cola. Eu não leio “amor-próprio” nas contas das mulheres que gastam um tempo imensurável posando para, editando e postando fotos sexy online. O que eu leio é “Uau, você realmente tem muito tempo a seu dispor” ou “Eu aposto que você se sente muito vazia por dentro”. Estou cansada desse ciclo de mentiras que contam umas às outras e ao mundo ao redor delas, e tenho ressentimentos das que vendem isso como “amor-próprio”.
Texto original de Megan Murphy, 12/12/2019, pode ser lido aqui.
Imagem Getty Images — Lizzo em show na Filadélfia em dezembro de 2019
Simplesmente não poderia concordar mais!
É ultrajante que ensinem às nossas meninas que exposição é sinônimo de autoestima, quando definitivamente não é. Exposição, hipersexualização e objetificação não são escolhas que trazem qualquer benefício às mulheres; são, em realidade, exatamente aquilo do que se utiliza o patriarcado para nos oprimir.
Obrigada pela tradução desse maravilhoso texto. <3
Sigamos juntas!
E quando a pessoa é empoderada e feminsita e posta para assumir seu desejo sem intenções de likes? Para mim não importa a intenção, o resultado é o mesmo citado no texto.
Acabei de ler esse texto e que visão maravilhosa! Me fez questionar algumas atitudes que tenho e abriu meus olhos para muitos posicionamentos tendenciosos hoje em dia nas mídias em geral… Obrigada por isso!
“sexualizar a si mesma literalmente faz zero chances de diferença para conseguir um cara de qualidade.”
Isso é um discurso 100% conservador e nem um pouco feminista.
Mal traduzindo, conservador, pensa que lineralismo é de esquerda.
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