Tráfico de Mulheres em Portugal para Fins de Exploração Sexual
Tráfico de Mulheres em Portugal para Fins de Exploração Sexual

O livro pretende ser um estudo do que ele traz no título, a fim de levantar questões que possam levar a possíveis vias de diminuição do tráfico de pessoas. Já de cara percebemos a intenção dos autores de parecerem isentos, olhando o objeto estudado de longe e se omitindo em dar opiniões. Mas a imparcialidade não existe e, pela forma com que eles expõem a questão, dá pra saber bem de que lado estão.

Quando se pretende escrever sobre exploração sexual de mulheres só há dois caminhos possíveis: ou se é contra ou se é a favor. Não dá pra ser meio termo. Se você defende que a prostituição deve ser regulamentada e acha que mulheres escolhem se prostituir, você é a favor de que os corpos das mulheres podem ser objetos de exploração. Os autores não só concebem que existe prostituição voluntária, como reforçam essa ideia constantemente.

Há duas verdades sociais relacionadas à prostituição. Uma é que a sociedade é misógina e cria meninos para se tornarem homens predadores. A outra é que a pobreza tem uma cara feminina. Mulheres passando necessidades e homens que as enxergam como produtos a serem consumidos geram a prostituição. A mulher prostituída não escolheu essa vida, é algo que lhe foi imposto em meio a uma grande vulnerabilidade. Para diminuir o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, é preciso que a sociedade entenda que corpos de mulheres não são produtos e, por isso, a prostituição regulamentada não diminui o tráfico.

É inegável que precisamos de estudos para que se diminua os números alarmantes do tráfico de pessoas, especialmente de mulheres para fins de exploração sexual*. Mas se os estudos não visarem à libertação das mulheres em geral, eles serão ineficazes. Tanto que basicamente há duas soluções propostas pelos autores: leis mais específicas e integração entre os órgãos policiais. Há pouquíssima discussão, por exemplo, sobre o fato de as instituições estarem mais preocupadas com a questão da imigração ilegal do que com a dignidade da pessoa humana, o que aparece com frequência na coleção de depoimentos que eles apresentam. Por fim, esse livro parece ter sido a minha decepção do ano.


* 71% das vítimas de tráfico de pessoas são mulheres e meninas e, dessas, 72% são para fins de exploração sexual. Dados: UNODC. Global Report on Traffickin in Persons 2016.