A CRISE DO CAPITALISMO GLOBAL É UM ASSUNTO FEMINISTA
Com o atual aprofundamento da crise do capitalismo global, as mulheres camponesas continuam perdendo suas terras e recursos naturais, e seu trabalho, vidas e corpos estão cada vez mais sendo explorados para o lucro. Elas estão agora mais vulneráveis à prostituição, ao tráfico de pessoas e à exploração sexual como resultado do deslocamento e da migração forçada.
As camponesas, no entanto, não vêm sendo passivas diante dessa agressão econômica e social. Elas se organizaram para lutar e resistir, e suas ações se manifestaram de várias formas: confrontadoras e militantes, celebrativas, restaurativas e emancipadoras, transformadoras e tranquilizadoras. As mulheres da Via Campesina fazem parte dessa luta. Desde 1993, elas lutam por seus direitos e contra o patriarcado e o capitalismo. Elas estão na vanguarda da produção de conhecimento local, construindo e moldando a justiça social, promovendo a identidade e a cultura e fortalecendo a visão de uma nova sociedade baseada em relações de dignidade, justiça, igualdade e equidade entre os sexos.
As mulheres têm desempenhado um papel central na definição de soberania alimentar da Via Campesina, ajudando a fundamentá-la na produção de alimentos saudáveis para o consumo próprio de uma família de camponeses. E elas têm usado suas vozes dentro das famílias, comunidades e organizações camponesas para impedir o uso de pesticidas perigosos e liderar a transformação agroecológica da agricultura familiar camponesa.
AGROECOLOGIA PROTEGE OS DIREITOS DAS MULHERES
As mulheres estão construindo sistemas agrícolas resilientes baseados em práticas agrícolas agroecológicas que não apenas melhoram a produção de alimentos, mas também estão em harmonia com a natureza. Por meio da agroecologia, os direitos das mulheres são protegidos e exercidos, e não apenas como mães e cuidadoras em casa. A agroecologia implica sua plena participação na vida social e política da comunidade, garantindo o acesso igual e equitativo e o controle sobre a terra, água, sementes e outros meios de produção com autonomia e liberdade. A aprendizagem horizontal como resultado da agroecologia promove a coletividade, o que melhora a integração e coesão social, uma chave social fundamental. Isso cria condições sociais que corroem as barreiras patriarcais e promovem novas relações entre os sexos.
A agroecologia tem fomentado a tomada de decisão compartilhada nas famílias, uma vez que promove papéis complementares para mulheres e homens que buscam melhorar seus meios de subsistência e bem-estar familiar, quebrando assim as barreiras patriarcais que confinam as mulheres aos papéis domésticos. Por meio da cocriação de conhecimento, as mulheres continuam a fazer valer seus direitos para fortalecer seus papéis. Ao compartilhar ideias e conhecimento, as mulheres ganham a capacidade de organização e pressão por políticas agrícolas favoráveis e para compreender como funcionam as estruturas governamentais.
PRESERVANDO A BIODIVERSIDADE: MULHERES NA LUTA PELA SOBERANIA DAS SEMENTES
As mulheres são as guardiãs das sementes e desempenham um grande papel na manutenção de hábitos alimentares culturais e práticas tradicionais. Enquanto enfrentamos as mudanças climáticas na África, Ásia e América Latina, as mulheres estão liderando a luta contra a fome e a pobreza por meio da diversificação de alimentos e da agricultura sustentável. Elas conhecem as melhores variedades e sua importância para a saúde da família, bem como preservar as sementes tradicionais. As mulheres têm sido corajosas nas lutas para guardar e trocar sementes, independentemente de leis nacionais e regionais que criminalizam essas atividades.
As experiências das mulheres com colheita em suas comunidades e famílias é uma tendência formidável que vai contra as indústrias corporativas de sementes que buscam controlar e homogeneizar nossos sistemas alimentares. As corporações querem explorar os sistemas de conhecimento de sementes nativas e introduzir suas próprias sementes híbridas e transgênicas ao mundo em desenvolvimento. Com base em seu conhecimento experimental das sementes crioulas e seus usos, as mulheres da Via Campesina estão na vanguarda da luta pela proteção das sementes, patrimônio de seus povos, para o bem da humanidade. Elas realizam campanhas de sementes em todos os níveis em seus respectivos países e estão continuamente organizando trocas de sementes e participando de conferências e marchas, às vezes sendo presas ou até mortas, por falarem.
As mulheres estão na vanguarda da preservação dos inestimáveis sistemas de comunidades de sementes, nas quais estão a maior parte da diversidade de sementes. Por meio da Via Campesina, as mulheres estão engajando seus governos e órgãos das Nações Unidas, como a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO), para reconhecer o Tratado de Sementes (Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos Vegetais para Alimentos e Agricultura) e a Convenção sobre Biodiversidade.
Os direitos das mulheres à terra, à herança e à tomada de decisões melhoraram na África, América Latina e Ásia. Suas lutas criam alianças importantes e constroem unidade dentro da luta central contra o sistema capitalista e patriarcal por uma sociedade nova e verdadeiramente justa, baseada na igualdade entre homens e mulheres. Apesar do progresso ideológico, político e legislativo feito até agora, é necessário mais trabalho. A violência estrutural contra as mulheres está aumentando devido ao agravamento da crise econômica e ecológica global. O recente aumento da violência e dos assassinatos de mulheres representam novos obstáculos, mas não estão impedindo o movimento. Devemos todos — homens e mulheres — trabalhar juntos para alcançar uma nova sociedade baseada na soberania alimentar.
Por: Elizabeth Mpofu, para o Fair World Project (Texto não integral)